O papel das big techs na trama golpista
- Redação
- há 7 dias
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Atualizado: há 23 horas
Por Jorge Folena, advogado e cientista político
A sessão de reabertura do Judiciário virou palco de denúncia contra o imperialismo digital. Em tom firme, Gilmar Mendes apontou o papel das big techs na engrenagem golpista do 8 de janeiro, enquanto Jorge Folena retomou o fio histórico que liga os levantes de 2013 à guerra híbrida em curso, com as redes sociais como armas centrais do ataque à soberania nacional

A sessão de abertura do segundo semestre do ano judiciário de 2025, realizada no primeiro dia de agosto, transformou-se, na verdade, num ato de desagravo em favor do ministro Alexandre de Moraes, indevidamente perseguido pelo presidente do Estados Unidos da América do Norte. Na ocasião, o que mais me chamou a atenção foi a parte da manifestação do ministro Gilmar Mendes, na qual ele, na qualidade de decano da Corte, explicitou com clareza o papel das big techs ao longo da trama golpista que culminou nos atos violentos do 8 de janeiro de 2023.
O ministro descreveu que a convocação das pessoas para participarem das ações violentas contra a democracia, inclusive com atos impulsionados por patrocinadores golpistas, se deu através das redes sociais. Assim, além de terem tido prévio conhecimento das ações criminosas que iriam se desenrolar, sem nada terem feito para evitar e sem denunciar às autoridades competentes, essas empresas de mídia ganharam muito dinheiro e lucraram com a desordem institucional e a grave ameaça ao Estado Democrático de Direito.
Deste modo, estão bem longe de serem consideradas inocentes, mas não sofreram, até agora, qualquer responsabilização por sua participação na conduta criminosa que está sendo apurada e enfrentada no país, cujos principais acusados são os fascistas, liderados pelo ex-presidente.
A manifestação do ministro me fez recordar as movimentações ocorridas no Brasil, a partir de julho de 2013, quando verdadeiros levantes foram orquestrados e convocados pelas redes sociais, para desestabilizar o governo da presidenta Dilma Rousseff e o processo de desenvolvimento nacional em curso no país, naquela oportunidade, que tinha na Petrobras e na engenharia nacional as molas propulsoras do dinamismo econômico.
A partir dali, sabemos o que aconteceu no Brasil: o impeachment da Presidenta Dilma (indiretamente reconhecido pelo ministro Barroso como “questionável”, no seu pronunciamento de desagravo); a criminalização do Partido dos Trabalhadores, a partir da propagação do discurso falso moralista da lava jata; a entrega dos campos de Petróleo ao capital internacional e o consequente desmonte da Petrobras para favorecer os interesses de acionistas estrangeiros; culminando na prisão ilegal do presidente Lula e na ascensão do fascismo, que levou um traidor da pátria à presidência da República.
Todos esses acontecimentos tinham por objetivo a repressão das lideranças nacionalistas e o enfraquecimento da soberania nacional, para favorecer os interesses do imperialismo, que tem nas big techs sua principal arma na guerra híbrida lançada contra o Brasil e outros países, colonizados no passado e que ainda são detentores de muitas riquezas naturais, os quais, desde a primeira década do século XXI, estão se reunindo no Brics em busca de uma aliança de cooperação e desenvolvimento em favor dos seus povos.
Vale lembrar também os levantes que culminaram nas famigeradas “primaveras árabes”, no final dos anos 2000; as guerras promovidas contra o Iraque, Líbia e Síria; as tentativas de golpe na Turquia, na Rússia e em Hong Kong (na China) e os golpes efetivados no Paraguai, na Bolívia, no Brasil e na Ucrânia; além das repressões judiciais, decorrentes da operação lava jato, levadas a cabo no Peru, no Equador e no Brasil, para impedir o avanço da engenharia brasileira, representada principalmente pela empresa Odebrecht, que estava se destacando na implementação de importantes projetos nacionais e internacionais.
Fica explícito, então, o papel dos denominados “formadores de opinião”, empregados como efetivos instrumentos na guerra que visa enfraquecer a soberania das nações que tentam se libertar da exploração e domínio colonialista, cuja finalidade é retirar daqueles países o controle sobre a exploração de suas próprias riquezas, que deixam de ser empregadas para o desenvolvimento de seus cidadãos.
Por isso, mais do que nunca o Brasil se defronta com a necessidade de estabelecer o controle efetivo das redes sociais, que se apresentam nos dias atuais como verdadeiras “terras de ninguém”, onde se tenta disseminar e naturalizar os piores crimes e comportamentos, como destacado pelo ministro Gilmar Mendes.
Penso, inclusive, que o país deveria mobilizar a capacidade científica e tecnológica das nossas universidades e centros de pesquisa para promover a criação de uma rede própria, genuinamente brasileira e sob o controle do Estado, a fim de proteger não apenas a segurança nacional, mas também o gigantesco conjunto de dados dos cidadãos e das instituições do país, tendo em vista os riscos à soberania e à democracia, representados pelas big techs.
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