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A engenharia da vida suspensa

  • Foto do escritor: Sara Goes
    Sara Goes
  • há 3 dias
  • 12 min de leitura

A extrema-direita brasileira recorre a uma biopolítica macabra para manter a circulação de votos enquanto sua cabeça está encarcerada. Assim como na experiência soviética, a questão não é se o corpo está vivo, mas quanto custa a eletricidade para manter a ilusão do movimento


A cabeça que pisca depois da morte

Nos primeiros anos da União Soviética, quando laboratórios inteiros trabalhavam sob a pressão de restaurar o impossível, Sergei Brukhonenko apresentou ao mundo sua invenção mais perturbadora: o Autojector, uma máquina de circulação extracorpórea que substituía coração e pulmões com bombas elétricas, reservatórios de vidro e tubos grossos de borracha.

Em seus experimentos, Brukhonenko decapitava cães e conectava suas cabeças ao aparelho, que pulsava sangue citratado e oxigenado, mantido a temperatura controlada. A cabeça reagia a sons, piscava, movia o focinho, lambia gotas de suco ácido depositadas na língua. Não havia corpo. Só havia sinais residuais de vida, mantidos por engenharia externa. Era, em sentido técnico, vida artificial.

Essas demonstrações foram eternizadas em um filme horripilante que exibiu para o mundo o espetáculo de órgãos mortos religados por cabos, bombas e tanques. A promessa não era devolver a vida plena, mas comprometer a ideia de que o fim é definitivo.

Embora hoje pareçam cenas de um laboratório macabro, esses experimentos ajudaram a pavimentar técnicas reais de circulação extracorpórea. Décadas depois, princípios semelhantes sustentariam máquinas coração-pulmão usadas em cirurgias cardíacas, sistemas de bypass, protocolos de perfusão em transplantes e pesquisas de preservação de órgãos. Brukhonenko não ressuscitou nenhum corpo, mas contribuiu para a noção contemporânea de que a vida pode ser mantida artificialmente quando o organismo falha. A fronteira entre morte e sobrevida passou a depender da capacidade técnica de sustentar fluxos, pressões e ritmos que o corpo já não produz sozinho.

A metáfora do Autojector atravessou o século sem pedir licença.

Hoje, no Brasil, ela se reapresenta no campo político. Depois do trânsito em julgado da condenação por tentativa de golpe de Estado, Jair Bolsonaro deixa a esfera da incerteza e entra na condição de prisioneiro definitivo. Com o trânsito em julgado, Bolsonaro começou a cumprir pena de 27 anos e 3 meses em Brasília, recolhido na Polícia Federal. O líder, agora confinado, deixa para o lado de fora apenas o corpo político, que tenta continuar reagindo apesar da ausência do organismo original. A figura que passou anos se apresentando como vítima do sistema passa a ser, formalmente, produto acabado da máquina judicial que sempre atacou.

O corpo natural, marcado por cirurgias, internações e fragilidades intestinais, já vinha dando sinais de exaustão. O corpo político resistiu por mais tempo, sustentado por culto, redes, algoritmos e mitologia. A condenação definitiva rompe esse equilíbrio. O líder não está mais apenas ameaçado, nem apenas inelegível. Está trancado. Enquanto isso, o movimento que dele depende continua a produzir reflexos, como se o cérebro ainda estivesse no comando. É aqui que a analogia com Brukhonenko se torna mais clara.

 

O corpo político conectado a máquinas

Desde a formulação clássica dos teóricos da soberania, líderes carismáticos carregam dois corpos. O corpo natural, sujeito às fragilidades da existência. E o corpo político, sustentado por símbolos, afetos e mitologias que resistem ao tempo. No caso de Jair Bolsonaro, esses dois corpos entraram em choque direto.

O corpo natural envelheceu diante das câmeras. As sequelas da facada, as cirurgias repetidas, as internações frequentes e a sucessão de diagnósticos intestinais se acumularam como lembretes de uma biografia fisiologicamente instável. Já o corpo político expandiu-se muito além do físico, alimentado por redes digitais, por cultos evangélicos que o tratavam como enviado divino, por carreatas motorizadas e pela gramática permanente do conflito.

A decisão final do Supremo sela a separação entre esses dois corpos. O líder deixa de circular, de improvisar, de se projetar como presença física incontornável. Sua voz passa a depender de advogados, familiares e das permissões que a Justiça concede. Aquilo que antes era gesto performático vira nota oficial.

Mesmo assim, Bolsonaro tenta preservar a ilusão de vitalidade. Reage por meio de terceiros, influencia disputas internas, aparece em pesquisas locais e continua movimentando prefeitos e parlamentares. São reflexos de um sistema que ainda responde, embora o centro orgânico tenha sido retirado de cena.

É nesse ponto, e apenas nele, que a imagem do Autojector retorna. A direita bolsonarista funciona como um conjunto de reações estimuladas por aparelhos externos, e não mais por um corpo político plenamente integrado.

O Partido Liberal se tornou o eixo dessa operação. É ele que administra recursos, organiza candidaturas, define prioridades e controla o fluxo mínimo necessário para impedir que o bolsonarismo desabe de uma vez. Não é devoção. É gestão. E é ali que se decide quanta energia ainda será investida para manter Bolsonaro como referência enquanto sua ausência física reorganiza toda a estrutura.

 

Sala de máquinas: Valdemar, fundos, fluxo e controle


Dentro do PL, a engrenagem central é operada por Valdemar Costa Neto. Condenado no mensalão, preso e posteriormente reabilitado politicamente, ele transformou-se no principal gestor da sobrevivência do bolsonarismo organizado. Em perfil publicado pelo Valor Econômico em 2024, Valdemar é descrito como um administrador meticuloso do fundo partidário, alguém que conhece em detalhe os mecanismos que mantêm a máquina eleitoral funcionando.

Depois da eleição de 2022, o partido experimentou de maneira direta o custo do radicalismo. A multa de quase vinte e três milhões de reais imposta pelo Tribunal Superior Eleitoral, por conta da ação que contestou apenas as urnas do segundo turno, resultou no bloqueio imediato do fundo partidário. Reportagens do g1 e da Folha registraram que vários diretórios estaduais suspenderam atividades, enquanto parlamentares pressionavam por repasses e disputavam prioridade para o pagamento de dívidas internas. Foi ali que surgiu o primeiro alerta de que a estratégia eleitoral montada em torno de Bolsonaro poderia comprometer a própria sobrevivência do partido.

Valdemar reagiu com o pragmatismo que lhe é característico. Contingenciou repasses, reorganizou o fluxo de caixa, assumiu a linha de frente da defesa jurídica e transformou a relação com Bolsonaro em um cálculo diário de custo-benefício. O PL passou a financiar advogados e despesas estruturais da família, mas também impôs limites. Quando a condenação se tornou definitiva, o partido anunciou a suspensão do salário de “presidente de honra”, justificando que a nova condição jurídica de Bolsonaro tornava insustentável a manutenção do vínculo formal.

O gesto cristalizou a tensão central do momento. O PL não pode romper com Bolsonaro sem perder parte significativa de sua base. Também não pode subordinar toda sua estrutura a um líder condenado e inelegível sem arriscar a própria integridade institucional. Valdemar opera nesse intervalo, ajustando alianças, administrando recursos e definindo prioridades com uma frieza que contrasta com a retórica emocional do bolsonarismo. Aqui, a imagem do Autojector ressurge brevemente como símbolo do processo. Não se trata mais de lealdade, mas de administração da sobrevida de um sistema que perdeu seu centro ativo.

Nos bastidores, parlamentares relatam uma mudança de tom. A figura que repetia que o plano A, B e C era Bolsonaro candidato passou a admitir, em conversas privadas, a necessidade de alternativas. A homenagem pública ao mito se mantém, mas a planilha interna já inclui Michelle, Flávio, Tarcísio de Freitas e um conjunto de puxadores de voto como opções reais para redistribuir o capital acumulado.

Esse rearranjo expõe o paradoxo que marca a direita brasileira neste momento. Quanto mais se tenta preservar integralmente a autoridade de um líder politicamente morto, mais se fragiliza a vitalidade do próprio campo. O ambiente interno se torna competitivo, fragmentado e instável. Michelle, os filhos, Valdemar, governadores e deputados disputam espaço, influência e recursos. Todos percebem que o sistema de sustentação não é infinito e que, em algum momento, a máquina terá de escolher quem fica e quem será abandonado.

 

Órbitas em torno da cabeça: os filhos como satélites


A força do bolsonarismo sempre dependeu da presença ativa do núcleo familiar. Jair Renan, Eduardo, Flávio e Carlos não foram apenas empurrados para a política. Foram moldados para existir em função do pai, ocupando posições complementares dentro de um mesmo ecossistema.

O jornalismo reconstruiu com precisão esse processo. O gabinete de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro funcionou como laboratório inicial de poder, marcado por investigações sobre rachadinhas, vínculos com milicianos e negócios imobiliários controversos. Eduardo se projetou como vitrine internacional da extrema direita, fotografado com Steve Bannon, Donald Trump e lideranças europeias radicais, transformando-se no braço diplomático do movimento. Carlos consolidou-se como operador da guerra digital, coordenando redes de desinformação e ataques constantes a instituições. Jair Renan circulou entre igrejas neopentecostais, empresários de ocasião e investigações por lavagem de dinheiro, simbolizando a zona cinzenta onde fé, negócios e política se misturam.

A arquitetura familiar sempre foi essa. O pai concentra carisma e narrativa. Os filhos ocupam nichos específicos e disputam relevância entre si, mas precisam do mito como eixo organizador. Quando Bolsonaro perde autonomia física e política, o arranjo se desestabiliza. O trânsito em julgado obriga uma redistribuição de papéis e expõe tensões internas que antes eram contornadas pela figura central.

Em 2025, Flávio se torna o herdeiro funcional. Permanece no país, conversa com advogados, negocia com Valdemar Costa Neto, dialoga com setores do centrão e concede entrevistas medidas, em que afirma respeitar decisões judiciais apesar das discordâncias. Eduardo, ao contrário, mantém a retórica intransigente, atua a partir dos Estados Unidos, multiplica ataques ao Supremo e rejeita qualquer tentativa de institucionalização da direita. São dois caminhos distintos para um movimento sem liderança presente: um aposta no confronto permanente, outro na sobrevivência estratégica.

Renan segue como lembrete constante das fragilidades do clã, surgindo em investigações que evidenciam a mistura de religião, negócios e política que sempre permeou o bolsonarismo. Sua figura não define rumos, mas reforça o ambiente de vulnerabilidade que cerca o grupo.

A dinâmica entre os filhos passa a depender menos da vontade do pai e mais das decisões tomadas no entorno partidário. Quando o PL suspende o salário de Bolsonaro, define quais despesas jurídicas serão assumidas e escolhe quais candidaturas da família serão priorizadas, interfere diretamente na posição de cada um dentro da disputa. O centro de gravidade, que antes emanava da figura do patriarca, desloca-se para a máquina que administra recursos, acordos e alianças.

É essa mudança que reorganiza o tabuleiro. A família continua reagindo e tentando preservar sua força, mas já não controla plenamente o ritmo. A sobrevivência de cada filho passa a depender da capacidade de dialogar com o partido, com financiadores, com lideranças regionais e com um eleitorado que também começa a experimentar novas referências.

 

Michelle, o tubo de perfusão mais delicado

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Na arquitetura que sustenta a sobrevida do bolsonarismo, Michelle Bolsonaro ocupa a função mais delicada, e talvez mais arriscada, do sistema. Ela é, ao mesmo tempo, tubo de perfusão emocional, canal de conversão religiosa e vetor de construção de uma carreira própria.

Há anos Michelle percorre o país em eventos com ginásios lotados, convocando “mulheres de Deus” a defender a família, a pátria, a fé e, por tabela, o projeto político do marido. No Distrito Federal, pesquisas eleitorais a colocam na dianteira para o Senado em 2026, à frente de nomes já testados como Ibaneis Rocha. A imprensa registra, com insistência, falas de bastidores de que Jair Bolsonaro pretende lançá-la como candidata, numa espécie de prolongamento conjugal do capital que acumulou.

Mas Michelle não é apenas veículo de transferência, ela pavimenta uma trajetória própria, que a coloca em rota de colisão com os filhos. Sua interferência tem se adiantado a eles, rearrumando tabuleiros regionais antes que a dinastia masculina consiga se organizar. O caso do Ceará é exemplar.

Em Fortaleza, a vereadora Priscila Costa tornou-se um dos rostos mais visíveis do conservadorismo radical. Em 2020, ela foi uma das mulheres mais votadas da capital, e que, desde então, se aproximou do núcleo duro bolsonarista. Em 2024 e 2025, eventos do PL e visitas de Michelle reforçaram a indicação de Priscila como candidata preferencial ao Senado. Em jantar em Brasília, lideranças da legenda sinalizaram publicamente esse movimento.

Ao mesmo tempo, Bolsonaro passou a acenar para outra aposta: Alcides Fernandes, pai do deputado André Fernandes, figura com forte inserção no eleitorado conservador cearense. O que a imprensa de política local passa a registrar é um conflito explícito entre “a candidata de Michelle” e “o candidato de Jair”. No centro da disputa está a herança simbólica do bolsonarismo no estado.

Santa Catarina vai ainda mais fundo, como se fosse a dissecção cirúrgica da disputa interna.

Ali, onde a direita teve votações avassaladoras em 2018 e 2022, o bolsonarismo tenta montar uma chapa que garanta foro privilegiado para Carlos Bolsonaro e mantenha hegemonia sobre o eleitorado conservador. A ideia original de uma dupla “Car-Car”, com Carlos e Caroline de Toni, parecia solução perfeita para a família, mas ignoreu acordos com aliados históricos como Esperidião Amin e o PP de Jorginho Mello.

Jornais e canais de TV passaram a registrar a guerra de bastidores. De um lado, a pressão do clã para impor o filho como nome central na disputa ao Senado. De outro, governadores e caciques locais lembrando os compromissos já firmados com outros partidos. No meio do caminho, Caroline, deputada federal com votação expressiva e base orgânica no estado, que, grávida e em processo de licença, vê a possibilidade de ser trocada por um importado de última hora.

Diante da hipótese de ser rifada, Caroline começa a flertar com outra legenda, o que abre a possibilidade concreta de que parte do voto conservador migre para fora do PL. A artéria que parecia saudável entra em processo inflamatório. Para proteger o cérebro, a máquina sacrifica membros periféricos. Para garantir foro ao filho do mito, fragiliza lideranças locais que vinham dando sustentação real ao bolsonarismo catarinense.

No Distrito Federal, o excesso de candidaturas de direita ao Senado produz outro tipo de inflamação. Michelle, Ibaneis, Bia Kicis e outras figuras disputam dois espaços como se o campo fosse ilimitado. A engenharia eleitoral mostra, porém, que a fragmentação pode abrir brechas para adversários fora do bolsonarismo. O Autojector político do PL, ao priorizar a transfusão para o clã, cria isquemias de representação em outros segmentos do campo conservador.

Em ambos os casos, o que se vê é o choque entre o personalismo de herança e o pragmatismo de máquina. As artérias estaduais revelam a contradição profunda de um projeto que tenta conciliar devoção a um líder condenado com a necessidade de ganhar eleições concretas em territórios complexos.

Michelle também converte a prisão do marido em ativo político. As visitas filmadas à Superintendência da PF, a entrega de marmitas encenada diante de câmeras estrategicamente posicionadas e as orações amplificadas em transmissões ao vivo compõem um roteiro devocional em que ela se apresenta como esposa fiel e intercessora, espelhando o sofrimento da base que a acompanha. A mensagem é clara. Quem ama Bolsonaro deve se conectar a Michelle. Ela se torna interface sacramental entre o mito encarcerado e o rebanho espalhado pelo país.

A cada vídeo em que chora e ora, ela transfunde afeto e fidelidade para dentro do sistema partidário. O PL percebeu esse potencial e entrega a ela um dos tubos de perfusão mais importantes da máquina: o comando do PL Mulher, o orçamento dos eventos femininos, a curadoria das candidaturas que encarnam o “modelo Michelle” em diferentes estados. Ao fazer isso, porém, acende outra luz amarela.

Se Michelle se consolidar como figura nacional autônoma, com mandato próprio, base organizada e agenda de viagens independente, o centro de gravidade do bolsonarismo deixa de ser exclusivamente masculino e dinástico. A carreira dela pode tanto prolongar a sobrevida do projeto quanto acelerar o processo de substituição da cabeça original. É por isso que sua trajetória é, dentro da analogia, o tubo de perfusão mais delicado. Um mínimo desvio de pressão pode romper a mangueira.

 

O preso definitivo e o sistema que não pode desligar as máquinas


Com o trânsito em julgado, Bolsonaro deixa de ser paciente provisório e se torna paciente definitivo. Ele está preso não porque se avalia risco de fuga ou de interferência momentânea nas investigações, mas porque foi condenado de forma final. Isso altera radicalmente o cálculo político. Já não há expectativa palpável de reversão processual dentro das vias ordinárias.

Frente a essa realidade, o PL redobra a aposta em duas frentes. De um lado, busca ancorar a base em uma narrativa de injustiça permanente. O líder seria vítima de um sistema que criminaliza a direita, e a sua prisão, prova de que o país vive um estado de exceção. De outro, opera dentro do Congresso para travar pautas, explorar instrumentos regimentais, negociar cargos e verbas, tudo isso com a promessa implícita de que uma futura anistia pode, em algum momento, reabilitar o mito.

Essa engenharia não mira apenas a liberdade individual de Bolsonaro. Mira a preservação do organismo inteiro da direita que se construiu ao redor dele. Enquanto houver a expectativa de reversão milagrosa, a base continuará aceitando sacrifícios, divisões internas, humilhações públicas, constrangimentos jurídicos. A máquina não pode desligar as bombas porque teme que, com elas, se desligue também a fidelidade de milhões que ainda veem no ex-presidente um mártir.

Ao mesmo tempo, cada nova decisão judicial, cada nova revelação de bastidor sobre tentativas de violar tornozeleira, cada nova história de desprezo pela legalidade, corrói a imagem pública do paciente. O projeto político se vê, então, diante de uma contradição insustentável. Precisa manter Bolsonaro vivo como símbolo, mas precisa, ao mesmo tempo, afastá-lo como risco jurídico e sanitário. É uma reanimação que se aproxima, perigosamente, da necropolítica.

Os experimentos de Brukhonenko nunca devolveram a vida plena a nenhum organismo. Eles apenas demonstraram que reflexos podiam ser prolongados. Não havia cura. Havia adiamento.

O PL e a direita brasileira, com seus fundos eleitorais, diretórios estaduais, liturgias religiosas, herdeiros simbólicos, obstruções regimentais e promessas de anistia, imitam involuntariamente esse mecanismo. Mantêm o brilho nos olhos de um cadáver político. Fazem o corpo tremer por impulsos elétricos. Mantêm músculos simbólicos em contração sob estímulos externos.

A questão que se coloca já não é biomédica, é democrática. Até quando um país aceitará viver conectado a máquinas que prolongam artificialmente a vida de um movimento cujo líder está morto politicamente e condenado judicialmente. Até onde se pode alongar a sobrevida de um projeto baseado na recusa sistemática do resultado eleitoral, na fabricação industrial de mentiras, na instrumentalização da fé e na transformação da violência em método.

O Autojector de Brukhonenko foi ousado, mas não evitou a morte. Mostrou apenas que a morte pode ser encenada em câmera lenta. O Autojector do PL talvez descubra, mais cedo do que deseja, que não há engenharia capaz de ressuscitar plenamente um projeto cujo coração deixou de bater. Quando as bombas forem desligadas, o que restará saber não é se Bolsonaro ainda pisca, mas que tipo de direita emergirá dos restos desse experimento com cadáveres elétricos.

 

 
 
 

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