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Do genocídio à fonética, Trump e Netanyahu disputam até a palavra

  • Foto do escritor: Sara Goes
    Sara Goes
  • há 20 horas
  • 2 min de leitura

No mesmo mês em que a ONU reconheceu o genocídio em Gaza, Trump e Netanyahu usaram a Casa Branca para anunciar um plano de paz ameaçador e disputar até a pronúncia de Abraham


No mesmo mês em que a Assembleia Geral das Nações Unidas finalmente reconheceu que a ofensiva israelense contra Gaza constitui genocídio, quando a população do território já está praticamente dizimada, a guerra voltou ao centro das atenções diplomáticas. Ao mesmo tempo, uma flotilha de embarcações civis cresce em direção ao enclave, carregando alimentos e medicamentos numa tentativa de romper o bloqueio e denunciar a destruição em curso.


Foi nesse cenário que Donald Trump e Benjamin Netanyahu dividiram a tribuna da Casa Branca para anunciar um plano de paz em 20 pontos. O documento prevê a libertação de reféns, a desmilitarização do Hamas e a criação de uma administração transitória para Gaza sob tutela internacional, mas carrega uma mensagem de ameaça: se não houver aceitação imediata, a guerra seguirá pelo jeito fácil ou pelo jeito difícil.


Na comunicação à imprensa, Netanyahu apresentou um pedido de desculpas ao Catar por ataques que atingiram sua capital durante negociações, um gesto calculado para conter o desgaste diplomático. Foi nesse mesmo espaço que surgiu um detalhe que revela muito mais: a troca entre Trump e Netanyahu sobre a pronúncia de Abraham, nome dado ao acordo de normalização diplomática firmado no primeiro mandato de Trump.


Trump comentou que agora prefere a forma inglesa, que considera mais elegante, enquanto Netanyahu insistiu que a pronúncia hebraica é a correta. Essa defesa da pronúncia não é um detalhe inocente. Ela espelha a forma como esses líderes fascistas defendem seus atos: Netanyahu justifica o genocídio com base em uma tradição religiosa específica, transformando a violência em algo quase etéreo e místico. Trump, por outro lado, age com interesses de dominação clara, financiamento e poder econômico. Cada um, ao impor sua pronúncia, revela como justifica a imposição de sua vontade política.


Como ensinou Bakhtin, a palavra é sempre uma arena de disputa. Para Umberto Eco, o fascismo se manifesta na manipulação da linguagem como espectáculo e dogma. E como Victor Klemperer mostrou, o fascismo coloniza o cotidiano pela linguagem, naturalizando a violência. Assim, o que vemos nessa disputa de pronúncia é a própria essência do fascismo contemporâneo: até a forma de dizer um nome se torna arma de poder.

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