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A farsa do ‘narcoterrorismo’: como o Rio virou laboratório da guerra híbrida contra o Brasil

  • Foto do escritor: Rey Aragon
    Rey Aragon
  • há 19 horas
  • 13 min de leitura

A operação sangrenta desta terça-feira no Rio de Janeiro não é apenas uma ação policial — é parte de uma operação psicológica planejada para fabricar instabilidade, importar a doutrina de segurança dos EUA e enfraquecer o governo Lula em plena disputa de soberania.


Sob o pretexto de combater o crime, o governo do Rio e seus aliados na extrema-direita reeditam a velha cartilha da Guerra Fria: transformar segurança pública em palco de guerra informacional. Ao ecoar o termo “narcoterrorismo”, autoridades fluminenses ajudam Washington a testar uma nova forma de intervenção — agora travestida de “cooperação antiterror”.

O NASCIMENTO DE UMA PSYOP: COMO O “NARCOTERRORISMO” FOI PLANTADO NO RIO DE JANEIRO



Drones sobrevoando o Complexo da Penha, granadas lançadas sobre um território densamente povoado, dezenas de mortos, escolas fechadas, medo generalizado. As imagens correram o mundo antes mesmo que os fatos fossem apurados — e bastou uma frase do governador Cláudio Castro para fixar o enquadramento desejado: “é narcoterrorismo”. Essa palavra, lançada ao espaço informacional com a frieza de quem sabe o que diz, não é apenas um erro semântico. É uma arma.


O episódio desta terça-feira, 28 de outubro de 2025, marca o ápice de uma operação psicológica cuidadosamente calibrada para fabricar a sensação de colapso da segurança pública e, com isso, legitimar uma agenda geopolítica que não nasce no Brasil. O termo “narcoterrorismo” — juridicamente inexistente no direito brasileiro — serve como chave simbólica para importar o vocabulário estratégico de Washington e deslocar o eixo da narrativa nacional: o que era crime organizado se transforma, subitamente, em “ameaça hemisférica”.


Essa manipulação discursiva tem objetivos precisos. Internamente, consolida o projeto de poder da extrema-direita, que precisa do medo como combustível político; externamente, reabre a porta para a doutrina de segurança dos Estados Unidos, que volta a enxergar a América do Sul como um campo de “risco híbrido” a ser contido. O governo do Rio, ao adotar esse léxico, atua como vetor de uma psyop de alcance internacional: produz instabilidade, fragiliza o governo federal e fornece à imprensa estrangeira o argumento pronto de que o Brasil perdeu o controle sobre seu território.


No campo informacional, não há improviso. A sincronização entre a operação militar, o uso do termo “narcoterrorismo” e sua replicação imediata por agências internacionais forma um roteiro já conhecido da guerra híbrida contemporânea: criar o caos, nomeá-lo sob o signo do inimigo global e exigir intervenção sob o pretexto da ordem. O que se passa hoje no Rio de Janeiro é menos sobre segurança e mais sobre soberania. É o ensaio de uma nova ofensiva cognitiva contra o Brasil.

O ESPETÁCULO OPERACIONAL: A GUERRA QUE PRECISA SER VISTA



Nada em uma psyop acontece por acaso — nem o horário da operação, nem os enquadramentos, nem o som das explosões. O que se viu nas ruas do Rio de Janeiro, na manhã de 28 de outubro de 2025, não foi apenas uma ação policial de grande porte: foi a encenação de uma guerra cuidadosamente coreografada para as câmeras. Blindados, helicópteros, drones e rajadas de fuzil compuseram a mise-en-scène perfeita para a criação de uma narrativa de colapso.


A operação “Contenção”, mobilizando mais de 2.500 agentes em uma única manhã, foi vendida como resposta ao avanço das facções criminosas, mas seu resultado real foi outro: gerar imagens de caos controlado, capazes de circular instantaneamente nas redes, nas TVs e nos portais internacionais. A guerra híbrida, afinal, depende da visibilidade — sem imagem, não há medo; sem medo, não há consentimento.


O impacto simbólico foi imediato. As cenas de granadas lançadas por drones e das favelas cobertas por fumaça não apenas criaram pânico, mas legitimaram o discurso de exceção. Em poucas horas, escolas fecharam, ônibus pararam, e a cidade mergulhou em um estado de paralisia emocional. Esse é o objetivo da operação psicológica: gerar percepção de perda de controle, mesmo quando o controle — militar e narrativo — está nas mãos de quem manipula a cena.


Ao transformar a segurança pública em espetáculo bélico, o governo do Rio recriou a estética do medo, fundamento essencial das democracias sitiadas. As câmeras da imprensa, estrategicamente posicionadas, captaram não apenas o confronto, mas o argumento: “o Estado enfrenta terroristas”. O que se transmite ao mundo, no entanto, é outro enredo — o de um país em colapso, incapaz de governar seus próprios territórios.


A guerra híbrida se alimenta desse paradoxo: quanto mais o Estado aparece como forte, mais ele se revela vulnerável; quanto mais promete segurança, mais fabrica insegurança. Essa é a lógica do espetáculo operacional — a guerra que precisa ser vista para cumprir sua função simbólica.

A ENGENHARIA DISCURSIVA: COMO SE FABRICA UM INIMIGO INTERNO



Nenhuma guerra híbrida se sustenta sem narrativa, e nenhuma narrativa se impõe sem engenharia discursiva. No caso do “narcoterrorismo”, o processo foi milimetricamente orquestrado: primeiro a imagem, depois o rótulo, em seguida a viralização, e por fim, a legitimação política.


O ciclo começa nas imagens. Drones, explosões, correria, fumaça — tudo registrado, editado e difundido em tempo real por canais oficiais e perfis aliados ao governo do Rio. O objetivo: criar o clima de guerra. Na sequência, surge a palavra-chave — “narcoterrorismo” — pronunciada por uma autoridade e imediatamente reproduzida por toda a máquina de comunicação bolsonarista. O termo não tem base legal, mas tem valor simbólico. Ele transforma criminosos em “inimigos do Estado” e o Estado em “bastião da civilização”, invertendo completamente a lógica jurídica e democrática.


Essa retórica é amplificada por um ecossistema previsível: portais da extrema-direita, influenciadores que orbitam o bolsonarismo digital e veículos internacionais predispostos a enquadrar o Brasil como “país em colapso”. A palavra é o vetor. Quando o rótulo chega à Reuters, à CNN en Español e ao El País, ele já cumpre sua função — legitimar o medo como verdade global e transferir o eixo do debate do campo policial para o campo geopolítico.


A engenharia discursiva transforma a exceção em regra e o território periférico em laboratório de consenso. Ao batizar o crime como terrorismo, o poder local fabrica o inimigo perfeito: invisível, interno e conveniente. É assim que se sustenta a guerra híbrida — não pelo controle de armas, mas pelo controle das palavras.

O PROPÓSITO POLÍTICO INTERNO: O CAOS COMO ESTRATÉGIA DE PODER



A fabricação do caos é uma velha técnica política — e, no Brasil de 2025, voltou a ser um ativo eleitoral. O governo do Rio de Janeiro, ao transformar a segurança pública em espetáculo, recria o ambiente de medo que alimenta o bolsonarismo e oferece à extrema-direita o combustível de que precisa para se manter relevante. Cada granada lançada, cada corpo exibido, cada manchete sobre “narcoterrorismo” reforça a narrativa de que apenas o autoritarismo pode devolver a ordem.


O cálculo é cínico. Com as eleições municipais à vista e o bolsonarismo enfraquecido nacionalmente, a extrema-direita busca um novo eixo de mobilização — e encontrou na “guerra contra o crime” o terreno ideal. Ao hiperbolizar a insegurança, cria-se a percepção de que o governo federal perdeu o controle, forçando o presidente Lula a reagir sob a agenda discursiva do adversário. É o mesmo método usado nos Estados Unidos durante a “War on Drugs” e na Colômbia sob o pretexto do “narcoterror”: a política do medo como arma eleitoral e instrumento de subordinação internacional.


Internamente, o discurso serve a três funções:


1 - Blindar a incompetência administrativa do Estado fluminense, desviando o foco das crises fiscal e social.


2 - Rearticular o campo bolsonarista sob uma bandeira moral e bélica, agora travestida de “defesa do cidadão”.


3 - Provocar o governo federal a entrar no jogo da força, rompendo o equilíbrio entre segurança pública e direitos civis e apresentando Lula como “fraco diante do crime”.


O caos, portanto, não é um efeito colateral — é o produto. A sensação de desordem é o terreno fértil da extrema-direita, e o Rio de Janeiro, mais uma vez, foi escolhido como laboratório. Sob o verniz de combate ao tráfico, o que se ensaia é uma guerra política por narrativas: a disputa pela percepção de quem detém a autoridade moral para usar a violência.

A PORTA PARA A INGERÊNCIA EXTERNA: O REGRESSO DA DOUTRINA MONROE



Por trás do discurso de “narcoterrorismo”, o que se reativa é um velho projeto de subordinação hemisférica: a Doutrina Monroe, reciclada no século XXI sob o disfarce de “cooperação antiterrorismo”. O termo não é inocente. Quando uma autoridade brasileira chama facções criminosas de “narcoterroristas”, ela abre uma brecha jurídica e diplomática para que os Estados Unidos intervenham direta ou indiretamente sob o argumento da segurança regional.


Esse roteiro já foi testado. Nos anos 1990, a Colômbia foi convertida em laboratório militar dos EUA sob o pretexto do “Plano Colômbia” — uma parceria que prometia combater o narcotráfico e acabou militarizando o país, ampliando o poder das agências americanas e subordinando a política de segurança nacional à lógica da DEA e do Pentágono. Hoje, o Rio de Janeiro cumpre função análoga: criar o pretexto narrativo para que o Brasil volte a caber na mesma moldura de “ameaça hemisférica”.


Não é coincidência que a retórica de Cláudio Castro tenha ecoado, quase de imediato, em meios de comunicação e redes internacionais de segurança ligadas a Washington. O termo “narcoterrorismo” permite associar o Brasil à lista de países que exigem vigilância especial — a antessala das sanções, da espionagem e da cooperação forçada. Trata-se de uma operação de linguagem que antecede a operação política: quem controla o nome, controla o território.


Ao importar o léxico da segurança norte-americana, o governo do Rio cede soberania narrativa e estratégica. Entrega o poder de definir o que é ameaça e o que é ordem; o que é segurança e o que é guerra. E quando um Estado abre essa porta, não é ele quem decide quando ela será fechada.


O “narcoterrorismo”, portanto, não é apenas um equívoco semântico. É o código de ativação de um sistema de ingerência já em funcionamento — o braço invisível da guerra híbrida que transforma um discurso local em justificativa global para intervir, vigiar e enfraquecer o Brasil em nome da segurança.

A CAPTURA TECNOLÓGICA: QUANDO A SEGURANÇA VIRA DEPENDÊNCIA



Toda guerra híbrida tem uma camada silenciosa: o código. Por trás dos blindados e das granadas lançadas de drones, existe uma rede de sistemas, contratos e plataformas que definem quem vê, quem decide e quem lucra com o controle do território. O discurso do “narcoterrorismo” funciona aqui como porta de entrada para a entrega tecnológica, travestida de “cooperação em segurança”.


As polícias estaduais e federais brasileiras operam hoje com softwares, bancos de dados e ferramentas de vigilância fornecidos por empresas estrangeiras — muitas delas ligadas diretamente ao complexo civil-militar dos Estados Unidos e de Israel. Sistemas de análise forense, monitoramento de redes, reconhecimento facial e interceptação digital compõem um ecossistema híbrido de segurança privatizada, em que o Estado brasileiro depende de infraestrutura, código e manutenção estrangeiros. Essa é a face invisível da soberania capturada.


Quando um governo local aciona o léxico do “terrorismo”, abre caminho para acordos diretos com essas corporações, sob o argumento da urgência e da “cooperação internacional”. É o mesmo modelo aplicado em Bogotá, Manila e Kiev: a tecnologia entra como “ajuda”, mas permanece como instrumento de tutela. Cada nova aquisição, cada integração de dados, reduz a autonomia operacional das forças brasileiras e aumenta a capacidade de vigilância de atores externos sobre o território nacional.


A guerra híbrida não precisa de tropas estrangeiras — basta o controle do software e da narrativa. O discurso do medo legitima o investimento estrangeiro na segurança pública, e o investimento estrangeiro consolida o medo como política permanente. É um ciclo de dependência retroalimentado, em que o Brasil fornece dados, abre infraestrutura e paga pela própria subordinação.


No limite, o “narcoterrorismo” é o cavalo de Troia que converte a soberania informacional em moeda de troca, transformando o país em laboratório de teste para tecnologias de vigilância de uso dual — civil e militar. O inimigo não está nas favelas, mas nos servidores que processam os dados sobre elas.

O QUADRO JURÍDICO: A MENTIRA LEGAL E O DISCURSO DE EXCEÇÃO



Nenhum país soberano pode aceitar que a linguagem do inimigo determine o seu próprio direito. O Brasil possui legislação clara sobre terrorismo — e ela não inclui o tráfico, o crime organizado ou facções locais. A Lei 13.260/2016, sancionada após intenso debate no Congresso, define terrorismo como “atos motivados por extremismo político, religioso, racial ou ideológico que provoquem terror social generalizado”. Nada disso se aplica ao contexto fluminense. Ainda assim, o governador Cláudio Castro e setores da extrema-direita insistem em importar a categoria estrangeira de “narcoterrorismo”, um conceito sem valor jurídico e com alto valor geopolítico.


A operação semântica é simples, mas letal: ao classificar criminosos como “terroristas”, o Estado ganha carta branca para suspender direitos, expandir a letalidade e excluir o controle civil sobre as forças de segurança. Essa é a essência do discurso de exceção — ele legitima a violência preventiva, autoriza o erro e naturaliza o dano colateral. O efeito psicológico é devastador: transforma a população pobre, negra e periférica em potencial inimiga interna.


Por trás dessa distorção jurídica há um propósito estratégico: aproximar o Brasil da arquitetura normativa dos Estados Unidos, que permite ações extraterritoriais, sanções e monitoramentos sob o pretexto de “combate ao terror”. É o mesmo expediente usado para justificar intervenções na América Central, no Oriente Médio e nos Bálcãs — sempre em nome da segurança global.


No plano interno, o “narcoterrorismo” cria um estado de exceção permanente travestido de política pública. Sob esse manto, tudo se justifica: operações sem transparência, prisões em massa, execuções sumárias e convênios diretos com agências estrangeiras. Trata-se de um atalho discursivo para contornar a Constituição e reintroduzir o paradigma do inimigo — aquele que pode ser eliminado sem julgamento porque “não faz parte da sociedade”.


A mentira legal é o coração da psyop: ao fazer o público acreditar que o país enfrenta “terroristas”, o Estado se autoriza a agir como potência ocupante dentro do próprio território. E é justamente aí que a democracia começa a morrer — não pelo golpe militar, mas pelo consentimento semântico.

AS CONSEQUÊNCIAS IMEDIATAS: A GUERRA INTERNA E O RISCO DE INTERVENÇÃO EXTERNA



A consequência mais imediata da farsa do “narcoterrorismo” é o retorno de uma velha patologia brasileira: a normalização da guerra interna contra o próprio povo. Quando o Estado passa a enxergar cidadãos como inimigos potenciais, a política de segurança se transforma em política de extermínio. O resultado está nas estatísticas que nunca aparecem nas manchetes: corpos sem identificação, lares destruídos, escolas fechadas e territórios ocupados permanentemente sob o pretexto da ordem.


Mas o efeito não se limita à tragédia local. Cada vez que um governador fala em “terrorismo”, o termo é registrado por agências internacionais, indexado em bancos de risco e analisado por plataformas de monitoramento financeiro e diplomático. Em linguagem técnica, isso é chamado de “securitização da imagem nacional” — o processo que transforma problemas internos em ameaças globais. O preço é alto: encarece o crédito, afugenta investimentos, desestabiliza o câmbio e alimenta a percepção de fragilidade institucional.


No plano geopolítico, o discurso abre brecha para novas formas de ingerência, especialmente sob a doutrina norte-americana de “combate a ameaças híbridas e narcoterroristas”. Uma simples palavra dita por uma autoridade estadual pode servir de base para sanções, cooperações forçadas ou espionagem disfarçada de assistência técnica. É o que se observa agora: em Washington, think tanks e comissões parlamentares já citam o Brasil como “novo foco de instabilidade” — exatamente o tipo de narrativa que precede a penetração institucional.


Internamente, a operação cumpre outra função: testar os limites da democracia brasileira. O aumento da letalidade, o uso de drones, a ausência de perícia independente e o silêncio das autoridades federais revelam um país em estado de dessensibilização. O medo vira rotina, e a rotina anestesia o escândalo. É assim que uma operação policial se converte em ensaio de guerra híbrida: pelo controle da emoção coletiva e pela naturalização da violência como método de governo.


No campo simbólico, o dano é ainda mais profundo. A ideia de que o Brasil enfrenta “terroristas” legitima a militarização das favelas, a vigilância sobre movimentos sociais e o enfraquecimento de qualquer resistência popular. O que começa como exceção em um território periférico termina como norma nacional. Essa é a arquitetura do autoritarismo moderno: não precisa de tanques nas ruas, apenas de medo nas telas.

A CONTRA-NARRATIVA ESTRATÉGICA: COMO RECONSTRUIR A SOBERANIA DO DISCURSO



Toda guerra híbrida se vence primeiro no campo da linguagem. Antes das sanções, antes das armas e antes das urnas, vem a disputa pelo significado das palavras. É por isso que, diante da ofensiva “narcoterrorista”, a reação democrática precisa começar pela reconstrução semântica. A palavra “terrorismo” não pode ser cedida à extrema-direita, nem ao manual de Washington. É preciso restituí-la ao direito, à verdade e à soberania nacional.


A primeira medida é reafirmar o ordenamento jurídico brasileiro: o Brasil não enfrenta terroristas, enfrenta criminosos — e essa diferença é o que separa o Estado de Direito do estado de exceção. As facções não têm ideologia política nem intenção de gerar pânico social por motivação extremista. Chamá-las de “terroristas” é mentir por interesse geopolítico. É preciso insistir nessa distinção até que se torne senso comum, porque ela define o limite entre governar e ocupar.


A segunda é reconstruir o vocabulário da segurança pública a partir da soberania informacional. Em vez de importar doutrinas prontas, o Brasil precisa formular sua própria estratégia de defesa digital e territorial — centrada em inteligência pública, controle de dados e transparência. Segurança não é espetáculo: é política de Estado. Cada contrato de software, cada parceria tecnológica e cada cooperação internacional deve responder à lógica da autonomia, não da dependência.


A terceira é quebrar o monopólio narrativo da grande mídia e dos porta-vozes da exceção. A guerra híbrida é uma guerra de percepção; portanto, exige uma comunicação soberana. Isso significa disputar as redes, formar novos repertórios simbólicos e revelar o bastidor dos discursos. O antídoto da psyop é a verdade organizada — a contra-informação estratégica capaz de desarmar o medo.


Por fim, é necessário reafirmar o princípio político fundamental: a segurança não pode ser instrumento de dominação, mas de emancipação. Combater o crime sem sacrificar direitos é o verdadeiro desafio civilizatório. Enquanto o Brasil for induzido a lutar a guerra dos outros, continuará perdendo a sua própria paz. A contra-narrativa começa quando o país volta a se nomear com as suas próprias palavras.

CONCLUSÃO: O BRASIL COMO ALVO DA GUERRA HÍBRIDA GLOBAL



O que aconteceu no Rio de Janeiro não foi apenas uma operação policial: foi um ensaio de guerra híbrida, testado em escala real, com todos os elementos clássicos de uma psyop moderna — o espetáculo midiático, o pânico social, a manipulação discursiva e o alinhamento automático ao vocabulário de Washington. Sob o disfarce da segurança, o Estado fluminense executou uma operação política de desestabilização, cujo verdadeiro alvo não é o crime, mas o governo federal e a soberania do país.


Quando o Brasil aceita o rótulo de “narcoterrorismo”, entrega de bandeja o seu poder de narrar a si mesmo. Autoridades locais transformam o território nacional em vitrine de guerra para justificar dependência tecnológica, parcerias assimétricas e, em última instância, a interferência estrangeira. É o mesmo manual de sempre: primeiro o discurso, depois a doutrina, por fim a intervenção. A história da América Latina é escrita nesse ciclo.


O que está em jogo agora é mais profundo que uma disputa partidária — é a própria autonomia cognitiva do Estado brasileiro, a capacidade de definir quem somos, quem ameaça e quem defende. Essa batalha não se vence com fuzis nem com notas oficiais, mas com consciência e soberania informacional. O Brasil precisa recuperar o domínio da palavra antes que perca o domínio do território.


A resposta democrática deve ser clara: nenhuma narrativa importada pode definir o futuro de um país que ainda luta para ser dono de si. Reagir à psyop não é apenas um gesto de resistência — é um ato de independência.


Nos próximos capítulos, a disputa continuará: nas redes, nas instituições e no imaginário coletivo. Mas cada vez que o Brasil recusa o medo imposto, um pedaço de sua soberania é reconquistado. E é exatamente por isso que querem nos manter em guerra — porque a paz é revolucionária.

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