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- Redação
- 29 de jul.
- 3 min de leitura
Atualizado: 31 de jul.

O porquê de eu não respeitar Chico Xavier
Por Prof. Adriano Viaro
A construção do mito

Existem personagens da história que se tornaram unanimidade, ou quase isso, devido à falta de conhecimento por parte daqueles que os idolatram ou admiram. Certamente, tais personagens não sobreviveriam na Era da internet e, sobretudo, das redes sociais. A falta de conexões tecnológicas ou da velocidade das informações, permitiu que “o nada se tornasse parte de um todo e que o todo jamais fosse questionado”. Dentre tais personagens, é mister destacar o senhor Francisco Xavier, ou apenas Chico Xavier.
O número de controvérsias envoltas ao seu nome é, sem sombra de dúvidas, maior – porém de menor ressonância – do que as qualidades a ele relacionadas. Desde escândalos envolvendo a manipulação de “ectoplasmas”, até a troca de município, como forma de fuga – justificada por questões respiratórias (outra vez facilitado pela falta de dispositivos de mídia capazes de uma checagem mais efetiva e rápida), passando também pela substituição da prática do evento extraordinário pela simples e “inquestionável” psicografia.
Ideologias e silêncio da crítica

Mas nada fica por aí: Chico, em sua obra “Brasil, coração do mundo, pátria do evangelho”, escreve o que os espíritos de Emmanuel e Humberto de Campos (sobretudo o segundo), teriam supostamente dito. Pois bem, é nesta obra que o médium defende a ditadura do Estado Novo de Getúlio Vargas e que justifica a escravidão do negro no Brasil como expiação de pecados. E mais: diz, através dos espíritos (o que é cômodo, claro), que Jesus Cristo permitiu a escravidão, pois não poderia interceder devido ao livre arbítrio, mas que os escravizadores seriam punidos sendo reencarnados como escravos. Em resumo, assim como Kardec havia feito em sua revista espírita (outro do mesmo naipe, embora não médium), Chico registra a pele negra como sinônimo de pecado.
Chico Xavier foi adotado pela grande mídia e transformado em sinônimo de espírito superior por grande parte da intelectualidade e das celebridades brasileiras. Em momento algum se vê críticas do establishment acerca de seus absurdos e de suas cartas formatadas no seio das obviedades. Livros que apontavam estrelas como sendo planetas e depoimentos que chegam ao absurdo de definir uma data limite para o início da “transição planetária”, fizeram com que Chico perdesse, ele, sim, todo e qualquer limite.
O endeusamento e a ilusão

Participações em programas televisivos – sempre vinculados à postura da materialização do voto de pobreza – fizeram de Chico capaz de relatar encontros com alienígenas em outros planetas e informações acerca da prisão interplanetária de Hitler sob a custódia de Gandhi (essa teria sido em uma conversa com seu pupilo Geraldo Lemos Neto, vulgo Geraldinho).
Mas é importante destacar que esse texto não é um ataque à crença espírita ou aos praticantes de qualquer que seja a religião, mas sim ao endeusamento de figuras. Endeusamento este que acaba por criar personagens a partir de situações absolutamente ilusórias. Chico Xavier foi um instrumento de sua época e serviu como consolo para muitos. Hoje, com o advento da internet e da velocidade da informação, além, é claro, das condições tecnológicas de filtro e comprovação de charlatanismo, Chico certamente não seria um médium empobrecido respeitado por todos. Seria, talvez, um pastor neopentecostal, crítico da fé espírita.
Ou, por que não, um master coach. A construção do mito
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