Frases, investidas e desinformação: a ausência de um jornalismo atento
- Luís Delcides
- há 3 dias
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Gosto muito de ouvir alguns pastores protestantes, especialmente o Ed Rene Kivtz, Ricardo Gondin e o Sérgio Dusilek. São seres diferenciados – fazendo uma alusão a senhorinha que chamou os futuros usuários da vindoura estação de metrô de Higienópolis de “gente diferenciada”. Sim, os três pastores são “gente diferenciada” no melhor sentido expresso da palavra.

Eu ainda frequento uma igreja. Sim, hoje sou um crente EAD. Aliás, peguei ranço de frequentar templos. Não dá mais para dividir espaço com a Irmã exibida que levanta o bração e fica filmando a banda com o celular ou com os homens, moribundos, cumpridores de tabela e aguardando um acordo ou o famoso “pé-na-bunda” pra ir embora de casa de vez.
No entanto, na live da quarta-feira, 13 de agosto, do Ed Rene, duas frases me chamaram a atenção: “O mundo sem lei é o mundo onde os lobos devoram as ovelhas” .” O mundo sem Lei é onde os inescrupulosos, psicopatas, perversos e depravados agem sem impedimento algum” Penso nas investidas da extrema-direita com os humildes, com aquelas pessoas
simplórias, trabalhadoras, sem um capim no bolso, com os pequenos trocados ou créditos inseridos no cartão do ônibus para ir e voltar. Também imagino outros sem condições para comprar um livro, ir ao cinema, teatro, assistir a um concerto – apesar de ter transmissão ao vivo das salas de teatro pelo YouTube.
Será que “ovelhas devoradas” tem a ver com a desinformação e as artimanhas de uma mídia hegemônica golpista – que encarece o preço de um exemplar de jornal e ainda diminui o tamanho para ter menos matérias, pouca produção jornalística e um jornalismo de gabinete?
Sim, é o nome adequado: jornalismo de gabinete. O sujeito manda um zap, pergunta o que tá acontecendo, pede uma imagem. Dá aquela “checadinha”, faz a “fonte” levantar e fazer outra captura de imagem – dá aquela orientaçãozinha básica – faz uma edição “experta”, põe um texto e joga nas redes.
O mesmo jornalismo de gabinete, não questiona, não interpela um deputado entrevistado que diz sobre o fechamento de instituições, provoca motim e almeja incansavelmente por um golpe de Estado. Enquanto isso, o jornalista, no estúdio, fica quieto, não questiona e se cala.
Como diz o Prof. Steven Levitsky, as democracias morrem por dentro, pelas vias institucionais. Não é preciso usar armas, basta fazer propostas esdruxulas de Lei. Sim, Ed Rene tem razão, é o mundo sem Lei, com gente inescrupulosa e perversa agindo sem impedimento algum.
Essa gente de extrema-direita é tão inescrupulosa, que um deputado federal do Estado do Mato Grosso, chega a ponto de usar um colar de autista para justificar o erro e usar uma pseudo-deficiência para se ancorar no terror, no incorreto. Sempre com o objetivo de seguir tocando o terror e causar pânico nas pessoas.
Guimarães Rosa, diz que viver é perigoso. Viver implica riscos e incertezas e precisamos estar preparados para ambas as situações. A vida é complexa e imprevisível, cabe a nós sermos precavidos e relativamente organizados. Sim, agora é a época do metabolismo da conectividade, como diz o Rey Aragon em “Jornalismo
estratégico; a nova onda do fazer na era da hiperconectividade”. Algo muito importante para o momento presente: a velocidade é elemento constitutivo da nova ordem informacional e a aceleração é o novo motor da chamada economia da atenção. Interessante que até as igrejas estão se modelando para isto com a relação “culto e feed”.
Nas igrejas, em vez das mãozinhas levantadas na hora da música, são celulares com câmera ligada filmando durante os cânticos e aquela selfie bonita, instagramável – como dizia o Prof. Alysson Mascaro nas reuniões do Grupo de Pesquisa – enfim, a igreja também adotou o motor da aceleração.
Ué? Porque fazer menção a igreja, jornalismo, frase de pastor em live. Gente, tudo a ver! A frase do Pastor Ed Rene Kivtz trouxe tantas conexões, diversas histórias, lembranças. Aliás, ontem o próprio pastor, preocupado com os fenômenos da desinformação, que muitas vezes se escondem nos tais “reacts” e nos “cortes”, disse que é preciso ter o corte e juntamente com ele a mensagem na integra. Ou seja, até o pastor está preocupado com os efeitos da mensagem e a não propagação da desinformação.
Será que o jornalismo está preocupado com os efeitos da mensagem ou apenas se acomodará com a boa e velha lacração, para apenas gerar efeito? Não, não é preciso mapear cenários, preparar a sociedade para enfrentar. Compreender processos históricos, identificar tendências e antecipar contradições. Por isso que é importante valorizarmos o trabalho da mídia independente, dos jornalistas independentes. Não se pode deixar de lado a mídia hegemônica, mas é preciso ter uma leitura critica, talvez eles, por força da forma-valor ou da forma-mercadoria, como diz Marx, é inegável a prática de um materialismo histórico-dialético sem preparar o público e apenas impressionar com emocionalismo barato.
Assim é necessário um olhar preditivo por parte do jornalismo. Não é apenas segurar o microfone e ficar caladinho durante entrevista com deputado-reaça falando que vai fechar Congresso, STF e outras coisas absurdas. É observar e ter a capacidade de confrontar e defender processos democráticos.
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