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Escuta ativa

  • Foto do escritor: Luís Delcides
    Luís Delcides
  • 26 de ago.
  • 3 min de leitura

Ir para Itaquera tem um gosto muito especial. É encontrar com mães solo, gente vencedora, com vontade. 


A OAB Itaquera é um Hub de histórias de superação. As celebrações de entregas de cédulas (o nome correto para carteirinhas da OAB) têm uma emoção a parte e até uns momentos para uns discursos bem emocionantes por parte de membros da diretoria. 

Nesse dia pude ouvir um juiz do trabalho. Nascido em Mogi das Cruzes, um jovem oriundo das classes operárias, estudou Direito e chegou ao Doutorado e ainda completou seu pós-doutorado na Universidade de Coimbra, uma das mais requisitadas no Direito. É um humanista, batalhador, está sempre na luta por decisões adequadas e justas. 

Logo, volto ao chão da vida, a realidade do dia a dia. Embarco em um carro do Uber e um motorista bem simples faz o trajeto de Itaquera para São Mateus e o condutor começa a engatar várias perguntas sobre a advocacia, além das dúvidas que tinha sobre a política brasileira.

A dúvida do motorista é por que o ministro Alexandre de Moraes do Supremo Tribunal Federal é tão injustiçado e nem todos os colegas da Suprema Corte e a imprensa não o apoia? “Eu sou leigo, tenho pouco estudo, mas fico indignado por que o Xandão é tão injustiçado por essa mídia”, diz o condutor.

Fiquei ouvindo as falas dele, especialmente quando falou sobre Bolsa Família e depois  sobre os golpistas. Ele não se conformava com o vandalismo praticado pelos sujeitos em Brasília e muito menos saber dos idosos aventureiros e incentivados por pastores evangélicos irresponsáveis e baderneiros.

Um pouco antes, pensei que ele iria criticar o Ministro. Até fiz questão de perguntar: qual é a situação que te deixa indignado? É por causa da pejotização – aliás, foi o tema debatido durante a semana trabalhista na OAB Subseção Itaquera – o motorista não sabia o que seria a pejotização. Tive que explicar que são as pessoas que abrem empresa para trabalhar e exercer funções de um funcionário com carteira assinada.

Logo, ele explicou bem sobre as ações contra os golpistas e especialmente sobre o ex-presidente Jair Bolsonaro. O motorista não aceita o descaso do ex-presidente, especialmente com as vítimas da Covid-19 e fora outras situações, principalmente envolvendo o processo eleitoral de 2022.

Quase finalizando o trajeto, ele tinha algumas dúvidas financeiras. Ele não sabia em o que investir para acumular reservas e dei a dica do Tesouro Direto. Expliquei sobre as diversas modalidades e as formas de aplicar. Ao final da viagem ele ficou muito agradecido e pegou meu cartão de visita.

É possível tirar várias lições dessa conversa com o trabalhador do Uber. A mais importante é a prática da escuta, observar como a população precisa falar, ser ouvida e nós, do campo progressista, precisamos estar dispostos a ouvir e abordar de forma assertiva.

Por outro lado, há um desconhecimento muito grande por parte da população sobre o funcionamento do sistema judiciário e do momento político vivido no Brasil. As informações transmitidas nos principais telejornais são pulverizadas e desestimulam o senso crítico. Elas mais desinformam do que informam o receptor da mensagem.

Conversar com pessoas é muito bom! Sim, é uma forma de compreender a realidade e o quanto o jornalismo precisa ser responsável, cumprir a sua função de transmitir a informação e, conforme descreve Patrick Charaudeau, em “Discurso das Mídias”, o jornalista precisa encontrar uma posição consistente na coleta dos acontecimentos e dos saberes.

Ao receber a informação, o sujeito-receptor não pode ter dúvidas. Precisa apenas ter um olhar crítico e questionar. Melhor:  para repassar essas mensagens, é preciso recebê-las com clareza. Não cabe a dúvida, especialmente em tempos de guerra hibrida. Cabe apenas a mensagem simples, direta e sem ruídos.

2 comentários


Joelma Alves de Oliveira Barbosa
Joelma Alves de Oliveira Barbosa
26 de ago.

EXTRAORDINÁRIA suas considerações. CONCORDO EM GRAU, GÊNERO E NÚMERO. Seu relato me emocionou e ainda me fez refletir sobre a responsabilidade dos discursos. A palavra tem poder e isso é inegável. Desde a palestra do Dr Maurício ao motorista. Só podemos compreender se estamos dispostos a ouvir.

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Luis Delcides Rodrigues da Silva
Luis Delcides Rodrigues da Silva
26 de ago.
Respondendo a

Olha só: "responsabilidade dos discursos" . Muito bom! Obrigado!

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