Informar para qualificar ou enumerar
- Luís Delcides
- 25 de jul.
- 3 min de leitura
Atualizado: 13 de ago.

Por Luís Delcides, advogado e jornalista
“Tô sempre ouvindo rádio e sou bem informado!” Na terça-feira, 22 de julho viajei em veículo da Uber até a Vila Paranaguá, na região do Ermelino Matarazzo, na Zona Leste da cidade de São Paulo. Durante o caminho, observei que o rádio estava ligado num programa tradicionalíssimo chamado “O Pulo do Gato”.
Tenho boas memórias do “O Pulo do Gato”, com o José Paulo de Andrade (1942-2020) e algumas intervenções do Cláudio Junqueira, naquele estilo de noticiar por escalada e um misto com boletins rápidos sobre o trânsito e uma leitura instantânea dos fatos que marcaram o dia anterior e um comentário rápido dos apresentadores.
Pelo que observei, o estilo do programa não mudou com o atual apresentador, Pedro Campos e Silvania Alves. Notícias rápidas, pequenas intervenções dos apresentadores e um fato atrás do outro, sem um tempo pra reflexão e sempre com aquela entonação de urgência.

A frase que me marcou do motorista é: “Estou trabalhando, mas com o ouvido ligado no rádio pra me manter informado!” Daí, eu o provoquei: fiz questão de perguntar: “O senhor sabe que os aviões da Embraer, que estavam parados por causa da taxação de 50% aplicada pelo Presidente Trump, foram vendidos para Dinarmarca ?” Ele ficou silente, sem graça e acabou toda a pompa do “superinformado”.
A fala do “superinformado-motorista-uberiano” me levou a seguinte reflexão: É possível se manter informado com pílulas de informação? Sem uma reflexão mais aprofundada dos assuntos e um estímulo a reflexão?
Não é uma posição radical de minha parte, mas cabe uma boa análise, uma leitura mais crítica a respeito dos assuntos. É melhor ouvir apenas o “Fulana morreu!” ou “Ciclano morreu, pois estava no caminhão dirigido por Beltrano e no meio do caminho este veículo pegou fogo. Ao ver o incêndio, Ciclano desceu do veículo, tentou apagar o incêndio e foi atropelado pelo caminhão porque Beltrano esqueceu de acionar o freio de mão”?
Então, é muito mais interessante ler a segunda história. Mesmo sem maiores detalhes ou com falas bem truncadas – trata-se de um fato verídico, contado pela vizinha do 284. Ela, como emissora da mensagem, com todo o seu jeito simplório, procurou e se preocupou em detalhar a história de uma maneira a dar sentido a informação. Afinal, a informação ocupa um lugar-comum e é considerada uma condição básica para o desenvolvimento econômico.
Por mais que a informação tenha a necessidade de ser vista, é preciso ter histórias, documentação, registro, detalhes. Trata-se de um conhecimento condicionado por variantes espaciais e temporais. Assim, é impossível apropriar-se de apenas uma única fonte de informação e gabar-se de sujeito bem informado.

Assim, é preciso nutrir-se de novas possibilidades. Não apenas se apegar na única fonte, mas compreender o sentido das mensagens proferidas pelos emissores (apresentadores e repórteres). Trazendo a compreensão de Mearleau-Ponty, “novas sensações diante de um cenário tão complexo vivenciado no atual cenário”.
Desse modo, vale uma reflexão para repensar o significado de informação, especialmente em um período de redes sociais desregulamentadas, um mercado comunicacional sempre orientado por interesses geopolíticos e econômicos. Impossível engrandecer-se de “ser bem informado” por um veículo midiático patrocinado por instituição financeira!
Para finalizar, trago a reflexão da Professora Liliane Minardi Paesani “A informação precisa ser analisada no aspecto ativo e passivo”. Sim, será que o motorista do Uber pensou nessas características informacionais ou falou por apenas falar? Até quando haverá acomodação pelas pílulas noticiosas que resultam em excesso de informação?
Acredito que o desafio atual é repensar a forma de consumir notícias, não dá mais para acreditar em uma única fonte de informação. Por isso, tenha sempre um olhar crítico, anote e não se distraia: os dias são tenebrosos.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete necessariamente a opinião do <código aberto> (mas provavelmente sim)
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