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Frases, investidas e desinformação: a ausência de um jornalismo atento

  • Foto do escritor: Luís Delcides
    Luís Delcides
  • 16 de ago.
  • 4 min de leitura

Por Luis Delcides


Gosto muito de ouvir alguns pastores protestantes, especialmente o Ed Rene Kivtz, Ricardo Gondin e o Sérgio Dusilek.  São seres diferenciados – fazendo uma alusão a senhorinha que chamou os futuros usuários da vindoura estação de metrô de Higienópolis de “gente diferenciada”. Sim, os três pastores são “gente diferenciada” no melhor sentido expresso da palavra.

O mundo sem lei e as metáforas da vulnerabilidade



Eu ainda frequento uma igreja. Sim, hoje sou um crente EAD. Aliás, peguei ranço de frequentar templos. Não dá mais para dividir espaço com a Irmã exibida que levanta o bração e fica filmando a banda com o celular ou com os homens, moribundos, cumpridores de tabela e aguardando um acordo ou o famoso “pé-na-bunda” pra ir embora de casa de vez.


No entanto, na live da quarta-feira, 13 de agosto, do Ed Rene, duas frases me chamaram a atenção: “O mundo sem lei é o mundo onde os lobos devoram as ovelhas” .” O mundo sem Lei é onde os inescrupulosos, psicopatas, perversos e depravados agem sem impedimento algum”


Penso nas investidas da extrema-direita com os humildes, com aquelas pessoas simplórias, trabalhadoras, sem um capim no bolso, com os pequenos trocados ou créditos inseridos no cartão do ônibus para ir e voltar. Também imagino outros sem condições para comprar um livro, ir ao cinema, teatro, assistir a um concerto – apesar de ter transmissão ao vivo das salas de teatro pelo YouTube.


Será que “ovelhas devoradas” tem a ver com a desinformação e as artimanhas de uma mídia hegemônica golpista – que encarece o preço de um exemplar de jornal e ainda diminui o tamanho para ter menos matérias, pouca produção jornalística e um jornalismo de gabinete?


Sim, é o nome adequado: jornalismo de gabinete. O sujeito manda um zap, pergunta o que tá acontecendo, pede uma imagem. Dá aquela “checadinha”, faz a “fonte” levantar e fazer outra captura de imagem – dá aquela orientaçãozinha básica – faz uma edição “experta” , põe um texto e joga nas redes.

Desinformação, aceleração e a economia da atenção



O mesmo jornalismo de gabinete, não questiona, não interpela um deputado entrevistado que diz sobre o fechamento de instituições, provoca motim e almeja incansavelmente por um golpe de Estado. Enquanto isso, o jornalista, no estúdio, fica quieto, não questiona e se cala.


Como diz o Prof. Steven Levitsky, as democracias morrem por dentro, pelas vias institucionais. Não é preciso usar armas, basta fazer propostas esdruxulas de Lei. Sim, Ed Rene tem razão, é o mundo sem Lei, com gente inescrupulosa e perversa agindo sem impedimento algum.


Essa gente de extrema-direita é tão inescrupulosa, que um deputado federal do Estado do Mato Grosso, chega a ponto de usar um colar de autista para justificar o erro e usar uma pseudo-deficiência para se ancorar no terror, no incorreto. Sempre com o objetivo de seguir tocando o terror e causar pânico nas pessoas.


Guimarães Rosa, diz que viver é perigoso. Viver implica riscos e incertezas e precisamos estar preparados para ambas as situações. A vida é complexa e imprevisível, cabe a nós sermos precavidos e relativamente organizados. Sim, agora é a época do metabolismo da conectividade, como diz o Rey Aragon em “Jornalismo estratégico; a nova onda do fazer na era da hiperconectividade”.


Algo muito importante para o momento presente: a velocidade é elemento constitutivo da nova ordem informacional e a aceleração é o novo motor da chamada economia da atenção. Interessante que até as igrejas estão se modelando para isto com a relação “culto e feed”.


Nas igrejas, em vez das mãozinhas levantadas na hora da música, são celulares com câmera ligada filmando durante os cânticos e aquela selfie bonita, instagramável – como dizia o Prof. Alysson Mascaro nas reuniões do Grupo de Pesquisa – enfim, a igreja também adotou o motor da aceleração.


Ué? Porque fazer menção a igreja, jornalismo, frase de pastor em live. Gente, tudo a ver! A frase do Pastor Ed Rene Kivtz trouxe tantas conexões, diversas histórias, lembranças. Aliás, ontem o próprio pastor, preocupado com os fenômenos da desinformação, que muitas vezes se escondem nos tais “reacts” e nos “cortes”, disse que é preciso ter o corte e juntamente com ele a mensagem na integra. Ou seja, até o pastor está preocupado com os efeitos da mensagem e a não propagação da desinformação.





Será que o jornalismo está preocupado com os efeitos da mensagem ou apenas se acomodará com a boa e velha lacração, para apenas gerar efeito? Não, não é preciso mapear cenários, preparar a sociedade para enfrentar. Compreender processos históricos, identificar tendências e antecipar contradições.


Por isso que é importante valorizarmos o trabalho da mídia independente, dos jornalistas independentes. Não se pode deixar de lado a mídia hegemônica, mas é preciso ter uma leitura critica, talvez eles, por força da forma-valor ou da forma-mercadoria, como diz Marx, é inegável a prática de um materialismo histórico-dialético sem preparar o público e apenas impressionar com emocionalismo barato.


Assim é necessário um olhar preditivo por parte do jornalismo. Não é apenas segurar o microfone e ficar caladinho durante entrevista com deputado-reaça falando que vai fechar Congresso, STF e outras coisas absurdas. É observar e ter a capacidade de confrontar e defender processos democráticos.

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