Lula e o discurso que pode mudar a história na ONU
- Rey Aragon
- há 8 horas
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No 7 de setembro, o Brasil carrega para Nova York não apenas sua independência, mas a voz do Sul Global diante do império em declínio, do genocídio em Gaza e da ameaça fascista.
O mundo vive um ponto de inflexão. Entre guerras, sanções e desinformação, o presidente Lula tem a chance de transformar o púlpito da ONU na tribuna mais poderosa do século: um chamado pela democracia, pela soberania e pela Palestina como fronteira civilizacional da humanidade.
Independência e Interdependência

Hoje é 7 de setembro de 2025. No Brasil, celebramos a independência conquistada há mais de dois séculos, mas neste século a verdadeira independência se mede na capacidade de defender nossa soberania diante de um império que tenta reduzir povos inteiros a colônias digitais, financeiras e militares. Não há independência nacional possível sem interdependência solidária entre os povos do Sul Global. O grito do Ipiranga ecoa agora em Nova York, na Assembleia Geral das Nações Unidas, onde o Brasil abre a tribuna mundial e carrega consigo a voz dos que recusam ajoelhar-se ao poder imperial.
A independência de hoje não é a ruptura formal com uma metrópole, mas a recusa em aceitar que sanções, tarifas, coerções financeiras e narrativas de ódio definam nosso destino. É a consciência de que o Brasil não caminha sozinho: somos parte de uma comunidade de nações que não aceita a barbárie como destino inevitável. A ONU, nesse momento, é o espaço onde se decide se a humanidade seguirá sendo refém de um império decadente ou se abrirá ao horizonte de um mundo multipolar, justo e democrático.
Se o passado nos deu independência, o presente exige coragem para afirmar nossa interdependência como povos livres. E essa coragem não pode ser tímida: precisa ser visceral, precisa nomear os responsáveis pelo genocídio, pela fome, pela guerra e pela captura da informação como arma de dominação. O Brasil tem a chance de gritar novamente sua independência, mas agora diante de todo o planeta, ao lado de quem luta contra o fascismo e pela vida.
O mundo em colapso – A ruína do império neoliberal

O século XXI já não pode mais ser lido pela lente otimista do “fim da história” que o liberalismo pregou nos anos 1990. O que temos diante de nós é a decomposição acelerada de um sistema que transformou a fome, as guerras e o genocídio em engrenagens de lucro e dominação. O neoliberalismo, erigido como dogma, não produziu liberdade nem prosperidade universal; produziu colapso ambiental, precarização massiva do trabalho, financeirização da vida e guerras permanentes para sustentar um império em decadência.
Hoje, as armas não são apenas tanques ou bombas. São tarifas impostas como punição política, são sanções que condenam populações inteiras à miséria, são algoritmos que modulam consciências e disseminam ódio em escala industrial. A ofensiva de Washington nos últimos meses e a escalada de Israel nos últimos anos são faces da mesma engrenagem: a da coerção imperial que busca dobrar povos e continentes à lógica da submissão.
A Palestina é o ponto de inflexão civilizacional. O genocídio em Gaza não é um episódio isolado; é a maior covardia da era contemporânea, transmitida ao vivo, com milhares de civis massacrados enquanto o sistema internacional hesita em agir. É ali que se revela o fracasso moral e jurídico da ordem neoliberal: quando as potências vetam resoluções humanitárias, quando chamam de “direito à defesa” o que é pura destruição de um povo. Quem fecha os olhos diante disso legitima a barbárie.
O império neoliberal ruindo não significa vitória automática. Significa perigo. Significa que as elites imperialistas estão dispostas a incendiar o planeta para manter privilégios. Significa que o fascismo encontra terreno fértil para recrutar descontentes e organizar-se como alternativa de força bruta. O colapso de um modelo exige a ousadia de construir outro. E essa ousadia hoje está no Sul Global, nos povos que recusam a condição de colônia e afirmam sua soberania diante da crise civilizacional.
O fascismo contemporâneo – Ratos à espreita

O fascismo nunca desapareceu. Ele apenas se reinventou. Hoje, veste terno, sorri em lives e prega moralismo vazio enquanto espalha ódio, racismo e misoginia. Alimenta-se da desinformação, da mentira fabricada em escala algorítmica, do fanatismo religioso e da miséria programada por um sistema que precisa de desesperados para sustentar a ordem do capital. Os ratos fascistas saíram dos esgotos da história para tentar novamente corroer a democracia por dentro.
Donald Trump é a expressão mais visível desse processo: um bilionário convertido em messias político, que manipula ressentimentos, despreza instituições e convoca a violência como método de poder. Não está sozinho. O fascismo contemporâneo opera em rede, conecta-se a neonazistas na Europa, a extremistas no Brasil, a governos ultradireitistas em várias partes do mundo. O objetivo é sempre o mesmo: demolir qualquer forma de solidariedade e substituir a política pelo culto à força.
No Brasil, conhecemos o preço dessa ofensiva. O bolsonarismo transformou o país em laboratório de guerra híbrida, articulando fake news, lawfare, manipulação religiosa e violência política. A tentativa de golpe de 8 de janeiro foi apenas a face mais explícita de um projeto que continua vivo, nutrido por interesses externos e pela cumplicidade de setores internos — do Congresso comprado ao mercado financeiro cúmplice, passando por parte da mídia que flerta com o caos para proteger seus privilégios.
O fascismo não é um acidente. É a resposta desesperada do capital em crise. É a tentativa de usar a barbárie como dique contra a revolta popular. E é por isso que ele precisa ser enfrentado sem ilusões, sem recuo, sem perdão. Quem pede conciliação com golpistas pede, na prática, a legitimação da destruição da democracia. A história já mostrou: onde o fascismo não é derrotado com firmeza, ele se fortalece. E hoje, mais do que nunca, ele precisa ser nomeado, exposto e combatido como inimigo da humanidade.
Lula e a oportunidade histórica na ONU

Há momentos na história em que uma voz pode deslocar o eixo do mundo. O Brasil carrega essa responsabilidade ao abrir, mais uma vez, a Assembleia Geral das Nações Unidas. Não é mera formalidade diplomática: é um ato carregado de peso histórico, herança de Oswaldo Aranha em 1947 e reafirmação de que o país tem lugar como mediador e protagonista no cenário global.
Em 2025, o momento é incomparável. As guerras se multiplicam, o genocídio em Gaza expõe a falência moral do sistema internacional, e o império neoliberal reage com tarifas, sanções e lawfare global para conter o avanço de um mundo multipolar. A ONU está diante de sua própria prova de fogo: ou se converte em espaço real de governança democrática, ou se afunda na irrelevância diante da força bruta.
É nessa tribuna que Lula pode se erguer não apenas como presidente de um país, mas como a voz que articula os anseios do Sul Global, dos povos explorados, da classe trabalhadora e das juventudes que não aceitam mais viver sob o tacão do fascismo e da guerra permanente. Não se trata de retórica, mas de coragem para nomear o inimigo, exigir responsabilização e apresentar alternativas concretas: fome, clima, soberania digital, governança reformada e paz verdadeira.
O discurso de Lula pode ser o mais importante da ONU em um século, porque não se limita a repetir diagnósticos, mas porque tem a chance de encarnar a resistência de um povo e de uma era contra a barbárie. Se ele falar com a força que o momento exige — pela Palestina, pela soberania, contra o fascismo —, esse 7 de setembro será lembrado como o dia em que o Brasil não apenas reafirmou sua independência, mas ofereceu ao mundo um caminho de dignidade.
O Sul Global como vanguarda

A ruína do império neoliberal abre espaço para que o Sul Global se coloque como vanguarda da história. Durante décadas fomos tratados como periferia, colônia de exportação, reserva de mão de obra barata, terreno para saque de nossas riquezas naturais e laboratório de experiências de dominação. Mas os tempos mudaram. Hoje, América Latina, África e Ásia não aceitam mais a condição de subalternidade. Não se trata de ressentimento, mas de consciência histórica: somos maioria da humanidade, donos de territórios vitais, reservas ambientais estratégicas, energia limpa, biodiversidade e juventude criadora.
É nesse tabuleiro que se movem BRICS, CELAC, União Africana e alianças regionais que buscam romper a camisa de força do unilateralismo. O Sul Global tem a capacidade de formular uma nova agenda internacional baseada em soberania, cooperação e justiça social. É a vanguarda porque parte da vida concreta, da fome que precisa ser erradicada, da floresta que precisa ser protegida, da educação e da ciência que precisam ser democratizadas.
Lula, nesse cenário, não fala só como líder do Brasil. Fala como porta-voz de um bloco histórico em formação. Fala como o dirigente que sabe que a luta pela democracia não pode se limitar às fronteiras nacionais. A democracia precisa ser mundializada como prática de solidariedade e como princípio de governança. E o Sul Global é o sujeito capaz de conduzir essa revolução.
Quando o presidente brasileiro sobe à tribuna da ONU, não leva apenas as cores verde e amarela: leva consigo o vermelho da resistência latino-americana, o verde das florestas africanas, o azul do oceano que banha os povos asiáticos, o sangue derramado em Gaza. O Sul Global não pede licença. Ele se impõe pela vida que pulsa, pela dignidade que resiste e pela esperança que não se deixa capturar.
O chamado à luta – Esperança combativa

Não há espaço para ilusões: o fascismo não se derrota com conciliação, mas com enfrentamento. Os golpistas que atentaram contra a democracia brasileira, os fundamentalistas que usam a fé como arma política, o mercado financeiro que age como correia de transmissão do império, a mídia corporativa que distorce a realidade para servir a seus donos — todos eles seguem ativos, conspirando contra o povo. O Brasil é alvo de uma guerra híbrida permanente, onde fake news, sabotagem econômica e chantagem legislativa são munições cotidianas.
Por isso, o discurso de Lula na ONU precisa ecoar não só para fora, mas para dentro. Precisa ser recado direto àqueles que ainda acreditam que podem vender a soberania nacional como mercadoria, que podem transformar o país em quintal de Washington ou em plataforma das big techs. Precisa deixar claro que não haverá perdão para quem tentou ou ousar tentar novamente rasgar a Constituição, destruir a democracia e entregar o Brasil.
Mas esse chamado não é apenas de denúncia. É também de esperança combativa. Esperança que nasce da consciência de que a luta é dura, mas a vitória é possível. Esperança que não é passiva, mas ativa — que mobiliza trabalhadores, juventudes, mulheres, indígenas, negros e negras, todos os que sabem que sem luta não há conquista.
O Brasil não está condenado ao atraso, nem à dependência. Ao contrário: temos a chance histórica de ser vanguarda de uma nova era, de um mundo multipolar que se levanta contra o imperialismo e o fascismo. Essa esperança é o sangue nos olhos de um povo que sabe que sua independência só é verdadeira quando serve de farol para a humanidade.
Conclusão – O Brasil na vanguarda da história

O mundo está diante de uma encruzilhada civilizacional. De um lado, a barbárie: fascismo, neonazismo, guerras intermináveis, genocídio transmitido ao vivo, mercados que lucram com a fome e algoritmos que destroem a democracia. Do outro, a possibilidade de uma nova era: um mundo multipolar, fundado na soberania dos povos, na democracia viva, na cooperação entre nações, no direito à vida como princípio universal.
Nesse cenário, o Brasil tem a chance única de se colocar na vanguarda da história. Não por arrogância, mas porque carrega uma trajetória de luta que atravessa séculos: da independência às jornadas contra a ditadura, das conquistas sociais recentes à resistência contra o golpe e ao fascismo. Lula, como liderança forjada na luta dos trabalhadores, sintetiza essa caminhada e carrega a legitimidade para falar ao planeta em nome de milhões que não aceitam mais viver sob a tirania do império.
O discurso na ONU pode ser o divisor de águas do nosso tempo. Se for duro, direto, visceral, sem concessões ao genocídio e à barbárie, se for anúncio de uma agenda concreta de democracia, clima, soberania e justiça global, terá força para ecoar como o mais significativo discurso da história das Nações Unidas. Um chamado à vida contra a morte, à esperança contra o desespero, à dignidade contra a submissão.
O Brasil não pode recuar. O povo brasileiro não vai recuar. Lula não recuará. A vanguarda está aqui, e a história já começou a ser escrita.
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