Quando o servidor cai, o Estado se revela.
- Jeser Batista
- 21 de out.
- 3 min de leitura
Um textinho, uma reflexão, bora lá?
Quando o servidor cai, o Estado se revela.
A queda da AWS, aquela divisão bilionária da Amazon que hospeda boa parte da internet mundial, foi mais do que uma falha técnica. Por algumas horas, o mundo parou: bancos fora do ar, serviços públicos travados, sistemas inteiros em silêncio. E não foi só o silêncio digital, foi o silêncio da nossa dependência escancarada. Uma dependência que muita gente ainda chama de “modernidade”, mas que, na prática, é submissão tecnológica disfarçada de progresso.
Você já pensou o que acontece se essa nuvem, onde estão os dados do seu governo, da sua previdência, da sua saúde, simplesmente parar? Quem segura o país quando o servidor desliga? Pois é. Se a nuvem cai, o Estado cai junto. E aí a soberania, por alguns segundos, deixa de existir. É nesse instante que se vê a diferença entre um Estado forte e um Estado terceirizado. O primeiro garante os direitos da sua população mesmo sob ataque; o segundo assina contratos com corporações estrangeiras e torce para que nada dê errado.
Chamam isso de eficiência, mas é fragilidade. O mito neoliberal da desestatização transformou o poder público num cliente das Big Techs. Vende-se a ideia de que privatizar é inovar, mas o que realmente se entrega é o controle sobre as infraestruturas vitais da nação. Um Estado que não domina sua tecnologia é como um país que não produz seu próprio alimento. Vive de aluguel. E quem vive de aluguel sabe: uma hora o dono pode pedir de volta.
Um Estado forte não é aquele que invade a vida das pessoas, mas o que tem estrutura suficiente para protegê-las. É aquele que entende que ciência, tecnologia e servidores públicos são os pilares da liberdade moderna. Que percebe que sem investimento público não há independência, só dependência disfarçada de conveniência. Quando a tecnologia se torna monopólio, até o direito de existir digitalmente passa a ser condicionado à boa vontade do capital.
Olhemos ao nosso redor: a China tem sua própria infraestrutura, a Rússia pode operar desconectada, a Índia criou sistemas estatais de identidade e pagamento, a Europa constrói nuvens cooperativas. E o Brasil? Tem o Serpro, a Dataprev, o Gov.br, mas os alicerces estão hospedados fora do país. É como se o coração da República batesse em outro corpo. E isso não é exagero, um colapso global pode apagar, ainda que por horas, os registros, os acessos, os direitos de milhões de brasileiros.
A pergunta é simples e direta: quem deve ter o poder de apertar o botão que liga e desliga o país? O mercado ou o Estado? Se for o mercado, cada crise técnica vira uma ameaça política. Se for o Estado, um Estado ético, preparado, com servidores e infraestrutura pública, então o país pode até balançar, mas não cai.
A força do Estado é a garantia da democracia. É ela que impede que o capital decida quem tem acesso a quê, quando e por quanto. É ela que sustenta hospitais, escolas e sistemas de comunicação mesmo quando o mundo está em colapso. Um Estado soberano não é inimigo da inovação, é o seu protetor. É quem coloca a tecnologia a serviço da vida, e não a vida a serviço dos algoritmos.
Jeser Batista - Canal Notórios Bastardos (Youtube) Colaborador do site: código aberto. Intelectual Bastardo!




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