Revolução de R$10mil
- Redação

- 31 de jul.
- 3 min de leitura
Youtuber Adriano Felipe ironiza o ICL Eterno de Eduardo Moreira e questiona webcomunistas que tratam cursos pagos como revolução
Em uma crítica publicada no canal Reflexões Contemporâneas, o youtuber Adriano Felipe colocou em xeque o entusiasmo de parte da esquerda digital com o chamado ICL Eterno, plano vitalício de cursos oferecido pelo Instituto Conhecimento Liberta (ICL), criado por Eduardo Moreira, ex-banqueiro e influenciador econômico. Em tom irônico, Adriano classificou o entusiasmo de alguns militantes como uma espécie de “revolução de R$ 10 mil”, valor cobrado para o acesso ilimitado à plataforma.
“Rapaz, agora sim veio a revolução! Ditadura do proletariado, caramba, até que enfim. Uhu!”, iniciou o vídeo, antes de checar o anúncio do curso. Em seguida, completou: “Ué, Humberto, tu não falou que era uma revolução, cara? Cadê a ditadura do proletariado?”. Para o criador de conteúdo, chamar de revolucionária a venda de um acesso vitalício a videoaulas é transformar em fetiche algo que deveria ser tratado como bem público: o conhecimento.
Adriano recuperou o conceito de “fetiche da mercadoria”, desenvolvido por Karl Marx, para analisar o fenômeno:
“No capitalismo, as relações sociais entre pessoas se transformam em relações entre coisas. Você não enxerga o trabalhador por trás do produto, só vê o produto como se tivesse poder mágico. E agora a galera trata curso pago como se fosse despertar revolucionário.”
O influenciador argumenta que, ao precificar em R$ 10 mil um plano de estudos, o ICL reforça a lógica do capitalismo de plataforma e não rompe com ela. A crítica vai além do valor: segundo ele, muitos conteúdos já circulam gratuitamente em outros espaços, e o que se vende é principalmente o selo de pertencimento a uma comunidade de “iniciados”.
“Não é revolução nenhuma, é empreendedorismo. É pagar para virar eterno numa plataforma capitalista. Chama do nome certo”, disparou.
Adriano também confronta a incoerência de parte da militância online, a quem apelida de “revolucionários Todinho”, por considerar que atacam o governo Lula como insuficientemente radical enquanto celebram produtos caros como transformadores.
“Como é que um grupo que se diz anticapitalista pode apoiar essa mercantilização da consciência? O povo trabalhador não tem R$ 10 mil sobrando para ser eterno do ICL. Isso é privilégio de classe.”
O youtuber concluiu relacionando a crítica à realidade social brasileira e às políticas públicas do governo Lula 3, que, segundo ele, representam a “revolução possível”: reabertura de creches, retomada do Minha Casa, Minha Vida, combate à fome e valorização do ensino técnico gratuito.
“A verdadeira transformação não tá em videoaula vitalícia, tá na creche reaberta, na fila do osso que acaba, na escola técnica pública pro jovem da quebrada. Isso muda a vida. Isso é revolução concreta.”
A fala de Adriano Felipe expõe uma tensão cada vez mais presente na esquerda digital: a linha tênue entre discurso anticapitalista e inserção no próprio mercado de produtos ideológicos. Ao ironizar a sacralização de cursos premium, ele reabre o debate sobre quem lucra com a revolução vendida em pacotes online — e quem continua de fora dela.
ICL Eterno
O ICL Eterno é a modalidade de assinatura vitalícia lançada em 27 de julho de 2025 pelo Instituto Conhecimento Liberta (ICL). Em poucas horas, os 5.000 primeiros títulos foram vendidos e outros 2.000 disponibilizados diante da alta procura, oferecendo acesso permanente a uma biblioteca com cerca de 330 cursos, documentários, conteúdos jornalísticos e formações como Investidor Mestre, Empreendedor Mestre, pós-graduação anual e até um programa internacional. A proposta se apresenta como um instrumento de “transformação coletiva e poder pelo conhecimento”, mas o tom elevado do anúncio — divulgado como “a maior inovação do modelo de sustentabilidade na comunicação brasileira” — revela traços de uma retórica messiânica: vende-se a ideia de um caminho quase sagrado de salvação intelectual, personificado na figura de Eduardo Moreira, cuja linguagem frequentemente assume um tom de autoridade moral incontestável.




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