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Sem um milímetro de recuo

  • Foto do escritor: Rey Aragon
    Rey Aragon
  • 13 de jul.
  • 14 min de leitura

A Militância de Base e a Última Trincheira da Democracia


Este artigo é um chamado à militância de base para enfrentar, com responsabilidade e organização, o momento político mais delicado da história recente do Brasil. É um texto sobre soberania, guerra híbrida, trincheiras digitais e o papel decisivo dos movimentos populares diante da ofensiva global contra a democracia. Um convite à ação coletiva, sem sectarismos, sem ilusões, e sem um milímetro de recuo.


A guerra invisível está em curso — e não há mais zona neutra


Vivemos um momento de ruptura histórica. Não mais como possibilidade futura ou previsão analítica — mas como fato consumado. O Brasil está no centro de uma ofensiva geopolítica e tecnopolítica que busca desestruturar sua soberania, capturar seus instrumentos institucionais e impedir a consolidação de um projeto nacional popular de base democrática. A guerra é real, ainda que seus tanques sejam invisíveis e seus disparos venham em forma de dados, tarifas, narrativas e sabotagens transnacionais. A XVII Cúpula do BRICS, realizada no início de julho de 2025 no Rio de Janeiro, foi o estopim simbólico de um novo ciclo de hostilidade. O encontro reuniu lideranças de países que ousam desafiar a supremacia do dólar e das corporações do Ocidente, com pautas como o uso de moedas locais, o fortalecimento de canais financeiros soberanos e o enfrentamento à hegemonia das big techs. Como resposta, Donald Trump, que já atua como candidato em plena campanha antecipada nos Estados Unidos, anunciou tarifas de até 50% sobre produtos brasileiros, além de ameaças de sanções adicionais a países alinhados ao bloco.


Trata-se de uma guerra comercial com motivações políticas explícitas. Não é apenas sobre soja, minério ou aço — é sobre a tentativa de punir economicamente qualquer país que opte pela autodeterminação e que se recuse a ser um satélite dos interesses norte-americanos. A lógica do castigo é clara: o Brasil ousou avançar em políticas de soberania e por isso precisa ser esmagado. Mas o ataque não se limita à esfera econômica. Ele se desdobra em múltiplas frentes: redes de desinformação turbinadas por inteligência artificial, ofensivas judiciais articuladas com think tanks ultraconservadores, sabotagens à infraestrutura estratégica, chantagens sobre a ferrovia Norte-Sul, e o lobby corporativo contra qualquer forma de regulação democrática das plataformas digitais.


A máquina de guerra se sofisticou. Hoje, ela se organiza a partir de uma articulação brutal entre setores do Vale do Silício, think tanks trumpistas e o submundo da extrema-direita global. Trata-se de um tecnofascismo em construção, que busca capturar o futuro do planeta a partir da dominação das redes, da submissão da justiça e da alienação do imaginário popular. O Supremo Tribunal Federal brasileiro tornou-se alvo direto dessa ofensiva. Ao tentar regulamentar o uso das redes sociais, proteger os dados dos cidadãos e enfrentar as milícias digitais, o STF passou a ser rotulado como inimigo da “liberdade” por CEOs bilionários que nunca tiveram um único voto popular. Em nome de uma liberdade mercadológica irrestrita, tenta-se deslegitimar as instituições democráticas de um país inteiro.


É nesse cenário que precisamos dizer, com todas as letras: não existe mais zona neutra. Não há espaço institucional, acadêmico ou partidário que esteja isento do conflito. A guerra está em curso e atravessa tudo — das relações econômicas internacionais ao feed do celular de cada trabalhador. Cada tarifa imposta por Trump, cada sabotagem à ferrovia, cada algoritmo sem regulação, cada ataque contra a Frente IA com Direitos Sociais, cada fake news impulsionada artificialmente: tudo isso faz parte de uma engrenagem global que visa enfraquecer a soberania popular e preparar o terreno para um novo ciclo de autoritarismo.


Diante disso, é preciso deixar de lado qualquer esperança na neutralidade. O Brasil está sob ataque. E a democracia brasileira — com todos os seus limites e contradições — é a última muralha institucional que resta entre a civilização e o colapso. Mas essa muralha, sozinha, não é suficiente. Nenhuma decisão do STF, nenhuma ação do governo federal, nenhum discurso parlamentar conseguirá conter essa máquina se a base militante, os movimentos populares, os sindicatos, os centros estudantis, os coletivos de mídia alternativa e os trabalhadores organizados não assumirem para si a linha de frente. Essa guerra não se vence com institucionalidade; vence-se com mobilização de base, consciência histórica e tática de guerrilha comunicacional.


É a militância — e só ela — que pode atravessar os territórios onde o Estado não chega, onde o algoritmo reina, onde o discurso de ódio se prolifera como uma praga. A militância é a única força com potência orgânica para disputar corações e mentes em um campo de batalha onde a razão foi capturada, o afeto sequestrado e a política transformada em mercadoria. É a militância que pode construir trincheiras nos bairros, nas escolas, nas redes, nos sindicatos, nos coletivos culturais, nos aplicativos, nos corpos.


E é a partir dessa constatação brutal que devemos seguir. A guerra já começou. E só a base organizada tem condições de enfrentá-la com clareza, com tática, com radicalidade racional. Nos próximos tópicos, vamos detalhar como o inimigo atua, porque a institucionalidade é insuficiente, e por que a única esperança concreta de salvação nacional reside nas mãos de quem nunca parou de lutar: o povo.


O inimigo mudou de forma — mas nunca foi tão brutal


O inimigo não está mais nas trincheiras clássicas: Ele se transformou, dispersou-se, fincou raízes nas infraestruturas tecnológicas, no poder econômico e na retórica jurídica. Hoje, nossa guerra é assimétrica, movida a dados, algoritmos e sanções políticas. De um lado, Donald Trump desponta com um arsenal tarifário sem precedentes — US$ 42 bilhões em importações brasileiras sob ameaça de 50 % das tarifas, com vigorosas cartas intimidatórias direcionadas tanto ao Brasil quanto aos países que se aliam ao BRICS, num claro gesto de desdolarização e autonomia geopolítica.  São armas econômicas que visam desestabilizar não empresas isoladas, mas o tecido da soberania nacional.


Mas não é só isso. O Vale do Silício está em guerra invisível contra o STF e qualquer projeto de regulação digital. Plataformas bilionárias acionam tribunais internacionais — como o processo contra o ministro Alexandre de Moraes em tribunal da Flórida por ordens de remoção de perfis —, pressionam governos e engajam redes de lobby global para deslegitimar iniciativas que regulem liberdade de expressão e controle de desinformação . Esse movimento se chama capitalismo de vigilância — uma forma sofisticada de autoritarismo que usa invisibilidade como máscara.


No plano doméstico, o STF avançou com decisões históricas e necessárias: ao declarar a responsabilidade das plataformas pelos conteúdos ilegais sem necessidade de ordem judicial, abriu caminho para ação imediata contra discursos de ódio e sabotagens informacionais. Esse passo foi seguido por medidas administrativas que exigem transparência, responsabilidade e controle sobre algoritmos — exatamente os pontos que incomodam os gigantes globais.


Essa ofensiva simultânea — tarifária, corporativa e jurídica — forma uma estratégia coesa de guerra híbrida. Algo nunca visto, pois mira o coração da soberania econômica, simbólica e institucional do país. Não estamos lidando com adversários isolados, mas com um sistema articulado cujo objetivo é minar o projeto de transformação popular por dentro.


O Vale do Silício, as redes de pensamento ultraliberais que orbitam o trumpismo e os próprios tentáculos do capital financeiro global avançam com precisão cirúrgica. Querem enfraquecer o STF, intimidar o governo de esquerda, neutralizar o BRICS e liquidar qualquer caminho que aponte para a independência tecnológica e econômica do Brasil.


E é essa configuração nova que exige da militância um entendimento claro: não estamos enfrentando apenas um adversário político – estamos confrontando um ecossistema de poder transnacional. E contra esse ecossistema, não bastam narrativas incentivais ou mobilização institucional; precisamos de estratégia combativa, presença técnica e inteligência coletiva.


A esquerda progressista está reagindo — mas ainda não entendeu a gravidade do momento


Há sinais de reação. Eles existem, e não devem ser ignorados. A atuação do Supremo Tribunal Federal nos últimos meses, com decisões que confrontam diretamente as corporações tecnológicas e rechaçam as milícias digitais, é um exemplo concreto de que parte da institucionalidade brasileira compreende — ainda que de forma fragmentada — a natureza do conflito em curso. A criação da Frente Inteligência Artificial com Direitos Sociais, formada por pesquisadores, movimentos sociais, juristas e parlamentares comprometidos com a soberania informacional, representa outro avanço importante. Há também a atuação de parlamentares corajosos, veículos da mídia independente que persistem, centros acadêmicos que não se calaram. Tudo isso é real. Mas, ainda assim, não é suficiente.


A razão é simples: o inimigo não é estático. Ele opera em tempo real, em velocidade algorítmica, em múltiplas camadas. Enquanto setores do campo progressista ainda discutem a pertinência de uma frente ampla ou debatem o tom das críticas ao governo, a máquina adversária já está operando com IAs generativas para disseminar desinformação, já está cooptando influenciadores periféricos, já está montando palanques paralelos, alimentando seitas digitais, testando narrativas conspiratórias que serão ativadas em massa durante o ciclo eleitoral de 2026. O tempo da guerra não é o tempo da política tradicional. E é aí que reside o abismo.


Ainda há, dentro da esquerda institucional, uma ilusão de que é possível vencer essa guerra apenas com razão iluminista, bons argumentos e mobilizações episódicas. Como se os algoritmos que moldam afetos, impulsos e decisões fossem neutros. Como se o avanço técnico e a reorganização da subjetividade coletiva não estivessem sendo instrumentalizados pelas forças do capital tecnofascista. Como se a guerra cultural, a guerra cognitiva e a engenharia de consentimento já não tivessem ultrapassado qualquer parâmetro ético e racional.


E não se trata de ignorar os esforços em curso. O que se propõe aqui é algo mais duro: reconhecer que, embora a esquerda tenha reagido, ela ainda não entendeu a escala, a profundidade e a complexidade da guerra em curso. Não é uma guerra de ideias, nem tampouco apenas uma guerra de narrativas. É uma guerra de sistemas, onde as corporações globais, amparadas por estruturas militares, econômicas e técnicas, operam com um projeto muito claro: bloquear, desmoralizar e sufocar qualquer alternativa que brote do Sul global.


Neste ponto da história, a ingenuidade se transforma em cumplicidade. A confiança cega na institucionalidade como único campo de luta não é mais uma postura democrática — é uma rendição lenta, porém eficaz. A defesa das instituições deve ser feita, sim, mas como parte de um projeto mais amplo de resistência e contra-ataque, que passa obrigatoriamente pela mobilização da militância de base.


É preciso deixar de falar apenas entre nós. É preciso romper as bolhas, disputar os territórios digitais, ocupar os canais de massas, construir alternativas técnicas com autonomia e coragem. As iniciativas que existem devem ser ampliadas, radicalizadas, conectadas. E a esquerda precisa romper de vez com qualquer nostalgia de um mundo que já não existe: a lógica da política institucional como centro da transformação está esgotada. O centro agora é a base. É ali que se decidirá o destino do Brasil.


A militância de base é a única força estratégica capaz de enfrentar essa guerra


Diante de uma ofensiva que combina guerra algorítmica, chantagem econômica, sabotagem geopolítica e manipulação da consciência coletiva, já não há espaço para ilusões. O Estado, por mais importante que seja, não tem potência suficiente para dar conta dessa travessia sozinho. Os partidos, mesmo os mais estruturados, estão aprisionados em dinâmicas eleitorais e institucionais que não acompanham a velocidade do conflito. O governo, embora comprometido com a democracia, opera com limitações que são objetivas: instabilidade parlamentar, chantagens do centrão, dependência de acordos frágeis com setores que sabotam o projeto popular por dentro. É a velha armadilha da governabilidade. E nela, quase sempre, quem perde é o povo.


Mas se há uma força que não foi capturada, que não depende de acordos, que não precisa pedir permissão para existir e que carrega nas costas a história da luta por democracia no Brasil, essa força tem nome: militância de base. É ela que sustenta os projetos de país nos momentos mais sombrios. Foi ela que resistiu à ditadura, que reconstruiu o tecido social no período da redemocratização, que enfrentou a máquina de destruição do bolsonarismo, que mobilizou as periferias, as aldeias, os sindicatos, as universidades. Foi ela que colocou o povo de volta no centro da política. E é ela, mais uma vez, que será chamada para impedir o avanço da barbárie.


A militância de base é a única instância que combina três elementos que nenhuma outra força concentra: enraizamento territorial, consciência histórica e disposição para o enfrentamento direto. A base não tem tempo para as vaidades dos palanques, nem para o moralismo paralisante da estética progressista de bolha. A base trabalha, organiza, mobiliza, educa, escuta, age. A base sabe que o inimigo é cruel e que a luta é desigual, mas luta mesmo assim. Porque não há alternativa. Porque quando tudo desmorona, só resta quem está no chão.


É a militância que pode operar a pedagogia da insurgência. É ela que pode disputar os corações e mentes nos bairros, nas escolas, nas quebradas, nos grupos de WhatsApp, nas rádios comunitárias, nas redes sociais, nas assembleias sindicais, nas universidades populares, nos terreiros, nas favelas, nos acampamentos, nas ocupações, nos coletivos culturais. É ela que pode fazer da técnica uma aliada. É ela que pode construir vídeos com IA que emocionem e informem. É ela que pode romper a narrativa única e criar multiplicidades de discurso. É ela que pode fazer da linguagem uma arma e da arte uma estratégia.


E o mais importante: é a militância de base que ainda acredita no povo. Não como figura retórica, mas como sujeito histórico real. A militância sabe que o povo não é ignorante, não é apático, não é massa de manobra. O povo é atacado todos os dias com fome, com violência, com mentira, com abandono. E mesmo assim resiste. O que falta não é consciência — o que falta é estratégia, organização e coragem para dizer: chega de esperar salvadores. Somos nós. É por nós. E com a gente.


É a base que vai decidir o destino do Brasil. Não há outra força. E quanto antes compreendermos isso, mais chances teremos de sobreviver e vencer.


Não é hora de cobrar o governo. É hora de assumir a trincheira


É natural que, em tempos de crise, o impulso seja buscar culpados. É uma reação compreensível, mas politicamente ineficaz. Muitos, diante do avanço da extrema-direita, da chantagem econômica de Trump, da guerra algorítmica das big techs e da sabotagem institucional promovida pelas elites, voltam-se imediatamente ao governo, como se ele fosse um bunker intransponível de soluções. Mas essa expectativa — embora compreensível — é um erro. Um erro perigoso. Porque transfere a responsabilidade coletiva para uma estrutura que, embora necessária, está cercada por limitações materiais, jurídicas, econômicas e políticas. O governo não é onipotente. E, em tempos como os que vivemos, ele precisa ser compreendido como trincheira institucional — e não como protagonista único do processo histórico.


Não se trata aqui de absolver erros, muito menos de silenciar críticas. Cobrar o governo, sim, é necessário. Cobrar os partidos da base, especialmente o PT, também. É papel da militância organizada pressionar, tensionar, empurrar os limites da institucionalidade para não cederem diante da força dos inimigos de classe. Mas isso precisa ser feito com a maturidade de quem entende o contexto: não estamos em uma conjuntura de normalidade democrática. Estamos em guerra — e numa guerra, a primeira coisa a ser feita é reconhecer o campo de batalha. E nesse campo, o protagonismo estratégico não virá de Brasília, nem das câmaras legislativas, nem de pronunciamentos oficiais: virá da base.


É hora de parar de esperar salvadores, caudilhos ou heróis solitários. Essa narrativa não serve mais. Não é Lula, não é o STF, não é a ONU, não é a esperança no “caminho institucional” que vai impedir o avanço do caos. É a organização popular que vai definir o desfecho dessa história. E mais do que nunca, essa organização precisa se dar fora dos calendários eleitorais, fora dos gabinetes, fora das zonas de conforto. É hora de assumir a trincheira. A trincheira do território, da comunicação, da formação, da estética, da linguagem, da disputa simbólica, do corpo a corpo, da guerra digital.


Não existe plano B. Não existe terceira via. Não existe saída neutra. O futuro será construído pela base — ou será destruído pelo algoritmo do capital.


Assumir a trincheira, neste momento, é entender que tudo está em jogo: o país, a democracia, a vida coletiva, a soberania alimentar, energética, informacional e cognitiva. É entender que o próximo ciclo de desinformação já começou. Que a campanha de 2026 será uma máquina de guerra cultural ainda mais poderosa que a de 2018. Que os inimigos já estão organizados, já estão testando conteúdos com IA, já estão modulando discursos com base em perfis psicológicos, já estão comprando influencers, jornalistas e até dirigentes sindicais.


E nós? Vamos continuar apenas esperando que o governo “faça a sua parte”? Ou vamos, enfim, nos colocar como protagonistas do combate, como o que sempre fomos: a vanguarda possível da transformação popular no Brasil?


A resposta não cabe mais ao governo. Cabe à militância. Cabe à base.


A trincheira digital e a guerra cultural de 2026: é agora ou nunca


A guerra de 2026 já começou. E não se trata de um exagero retórico ou de uma antecipação fantasiosa do calendário eleitoral. Trata-se de um diagnóstico real, baseado em evidências concretas: redes de extrema-direita estão reativando núcleos digitais adormecidos, financiadores externos já estão distribuindo recursos para campanhas de desinformação, empresas de tecnologia estão promovendo “atualizações” em seus algoritmos que favorecem bolhas de ódio e radicalização. Tudo isso ocorre agora — não em 2026. Esperar o ano da eleição para reagir é aceitar a derrota antecipadamente.


A trincheira digital é, hoje, o principal campo de disputa política do mundo. E o Brasil, como laboratório da guerra híbrida desde 2005, é mais uma vez terreno de teste e vitrine internacional. Os inimigos já entenderam isso. Já dominam as ferramentas. Já estão integrando IA generativa com redes de microinfluência. Já cruzam dados de comportamento com mapas emocionais. Já treinam modelos de linguagem para criar campanhas que simulam espontaneidade. Já têm bots conversacionais que atuam como evangelizadores ideológicos disfarçados de conselheiros. Eles estão montando uma nova pedagogia do caos.


E nós? Vamos usar a rede apenas para divulgar agendas? Para fazer posts indignados? Para seguir esperando que a moderação algorítmica resolva nossos problemas? Não dá mais. A esquerda precisa ocupar a trincheira digital com inteligência estratégica, técnica de guerrilha e estética combativa. Não basta dizer a verdade. É preciso disputar o imaginário. Não basta ter razão. É preciso tocar, emocionar, conectar. Não basta denunciar. É preciso narrar — e narrar com força, com ritmo, com linguagem, com afeto.


A estética é parte da política. A linguagem é parte da luta. E a técnica, se não for dominada por nós, será usada contra nós. Precisamos de mais do que redes sociais: precisamos de redes de inteligência coletiva. Precisamos de núcleos de produção cultural descentralizados, de laboratórios populares de IA, de cooperativas digitais, de comunicadores comunitários, de tecnólogos do povo. Precisamos usar IA generativa com propósito político, com ética de classe, com estética popular. Precisamos construir e viralizar vídeos, narrativas, imagens, memes, sons, campanhas — não por vaidade, mas por sobrevivência.


Não estamos em uma disputa entre plataformas. Estamos em uma disputa entre civilização e barbárie. Entre soberania e submissão. Entre a vida coletiva e a automatização do colapso. A guerra cultural não é um campo colateral da política. Ela é o campo central onde se decide a forma como o povo percebe o mundo, a si mesmo e o futuro. E se não ocupamos esse campo, ele será ocupado pela máquina do ódio.


A guerra de 2026 não será vencida nas urnas — será vencida ou perdida nas ruas, nas redes, nas escolas, nas músicas, nas falas, nos vídeos, nos toques de celular. É agora ou nunca. O inimigo já está em marcha. A questão é: estamos dispostos a enfrentá-lo com tudo o que temos?


Convocação final: sem um milímetro de recuo


Chegamos a um daqueles momentos em que a história sussurra com violência: “façam o que precisa ser feito”. Não há mais tempo para hesitação, nem espaço para o conforto da análise distante. Não se trata de imaginar o que pode acontecer se a extrema-direita voltar — trata-se de entender que ela nunca saiu, apenas se reorganizou, reconfigurou suas armas e ampliou seu campo de atuação. E agora, com apoio internacional, infraestrutura tecnológica, capital ilimitado e um plano geopolítico claro, ela volta com mais ferocidade, mais inteligência e mais disposição para esmagar tudo que aponte para soberania popular e democracia real.


Por isso, este texto não é um ensaio. Não é uma tese. É um chamado. Um chamado direto à militância que nunca recuou, que sempre segurou a barra quando tudo parecia desabar. Um chamado aos sindicatos que seguem em pé, mesmo sob ataques e sabotagens. Aos movimentos populares que sustentam a luta nos territórios. Aos coletivos de comunicação, às mídias alternativas, aos grupos de jovens, às mulheres da base, às lideranças periféricas, aos educadores de consciência, aos trabalhadores e trabalhadoras que constroem esse país todos os dias — mesmo sendo invisibilizados pela elite e pelo algoritmo.


Este é o momento mais dramático da nossa história recente. As tecnologias não são neutras. Elas estão sendo usadas, agora, para moldar o inconsciente coletivo, para desmobilizar, para manipular afetos, para reescrever a realidade em tempo real. O Estado está sob ataque silencioso e contínuo. A infraestrutura pública está ameaçada. A informação virou arma. E a democracia virou obstáculo para os interesses das corporações e das castas transnacionais que agem sem rosto, mas com poder absoluto.


A esquerda institucional precisa compreender isso com urgência. Os partidos precisam compreender isso. O governo precisa compreender isso. Mas sobretudo, nós, a base, a militância, precisamos compreender isso. Porque é sobre nós que recai a última responsabilidade. E não porque somos melhores, mais puros ou mais conscientes — mas porque somos os únicos que não têm nada a perder, e por isso somos os únicos que podem mudar tudo.


Não adianta mais esperar. Não adianta mais se indignar nas redes. Não adianta mais se queixar dos rumos do governo. Ou nos organizamos agora, ou perderemos tudo. A história já mostrou, muitas vezes, que quando a base se levanta com estratégia, lucidez e coragem, o império treme. E ele está tremendo. O que falta é o empurrão.


Não haverá salvação individual. A única saída é coletiva, organizada, técnica e profundamente enraizada no território. E ela começa agora — com cada um assumindo sua função nessa guerra. Com cada sindicato retomando sua comunicação. Com cada coletivo assumindo sua trincheira. Com cada militante buscando entender as ferramentas tecnológicas do presente. Com cada bairro se tornando uma célula de resistência, formação, cultura e produção de sentido. Com cada um dizendo: daqui não recuamos um milímetro.


Esse é o chamado. Frio, racional, urgente e inadiável. Não é heroico. É necessário. Porque a única chance que temos de garantir um Brasil democrático, justo e soberano em 2026 é se começarmos a guerra — a nossa guerra — hoje.


Sem um milímetro de recuo


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