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A batalha invisível de 2026: PF, Congresso e o dinheiro que move a guerra híbrida

  • Foto do escritor: Rey Aragon
    Rey Aragon
  • há 3 horas
  • 9 min de leitura

A crise que explode em Brasília não nasce de disputas protocolares, mas da ofensiva inédita em que PF, Ministério da Justiça e governo Lula atacam o coração financeiro do crime organizado e desorganizam as elites que dependem desse dinheiro para influenciar o Estado em 2026.


Enquanto o Congresso encena uma rebelião e tenta transformar tensões institucionais em espetáculo político, a verdadeira guerra ocorre fora do alcance das câmeras. A PF atingiu, pela primeira vez, os fluxos bilionários que conectam facções, operadores de mercado, intermediários do poder e interesses estrangeiros. É essa ruptura — e não a disputa visível — que move a batalha híbrida que decidirá quem controla o Brasil em 2026.

Nota do autor


Enquanto eu concluía este artigo, a Polícia Federal prendeu Rodrigo Bacellar, presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. O fato não é um detalhe lateral, mas a confirmação em tempo real do movimento que descrevo nas próximas páginas. A PF está avançando sobre figuras centrais do tabuleiro político, rompendo a fronteira que historicamente separou o crime econômico das estruturas de poder institucional. Quando a elite política começa a ser alcançada pelas investigações, a crise deixa de ser retórica e passa a ser estrutural. A notícia reforça a tese central deste texto: o país assiste não a um conflito institucional isolado, mas à reação desesperada de um sistema que está, pela primeira vez, sendo obrigado a enfrentar seu próprio subterrâneo financeiro e político.

O país olha para o lugar errado



A crise que tomou Brasília em novembro e dezembro de 2025 não nasceu da indicação de Jorge Messias ao STF, nem da disputa entre Senado e Planalto, nem da sucessão de pautas-bomba que paralisou o Congresso. Esses elementos existem, produzem ruído e mobilizam manchetes, mas funcionam como narrativa de superfície. O que move a explosão política é outra coisa, muito mais profunda e estrategicamente decisiva: pela primeira vez na história recente, o governo federal decidiu enfrentar o coração financeiro do crime organizado, e o Congresso reagiu como se sua própria sobrevivência estivesse em jogo.


Enquanto Brasília discute procedimentos regimentais e travas institucionais, a Polícia Federal, a Receita e o Ministério da Justiça executam uma ofensiva inédita contra estruturas bilionárias que sempre operaram na sombra. Não se trata de grandes operações simbólicas, mas de uma mudança de paradigma: investigar quem financia, lucra, legaliza e protege o dinheiro do crime. Quando o Estado mira os operadores que circulam entre facções e elites econômicas, a temperatura política sobe instantaneamente.


A tensão institucional, portanto, não é causa. É efeito. O que o país assiste não é um conflito entre poderes, mas a reação de grupos que sempre dependeram da opacidade financeira e da fragilidade regulatória para manter influência política e econômica. A crise é, na verdade, a primeira etapa de uma disputa muito maior que se estenderá até 2026, e que definirá se o Estado brasileiro continuará vulnerável a interesses paralelos ou se recuperará o controle sobre o dinheiro que molda seu destino.


A virada estratégica do governo Lula



O governo Lula sabia que 2026 seria o ano em que a guerra híbrida atingiria seu grau máximo no Brasil. As eleições ocorrerão sob a convergência inédita de desinformação avançada, capital especulativo operando politicamente, crime organizado com presença estruturada na economia formal e plataformas digitais preparadas para amplificar qualquer narrativa de colapso institucional. Diante desse cenário, o Planalto tomou a decisão que moldaria toda a crise atual: abandonar a postura defensiva e acionar o Estado em modo ofensivo.


A virada não ocorreu por impulso, mas por cálculo. Após dois anos medindo o comportamento das elites políticas, observando a reorganização da extrema-direita global e analisando a evolução das operações do crime organizado, Lula e sua equipe concluíram que não haveria estabilidade possível sem atingir diretamente a fonte do poder paralelo que influencia o país há décadas. Não bastava prender lideranças de facções, apreender armas ou fechar laboratórios. Era necessário atacar a engrenagem que sustenta tudo: o sistema financeiro informal, as cadeias logísticas legalizadas e os intermediários sofisticados que garantem que o dinheiro sujo circule com aparência de normalidade.


Foi nesse ponto que o Ministério da Justiça e a Polícia Federal receberam sinal verde para operar com profundidade inédita. Não se tratava apenas de intensificar investigações, mas de mudar o eixo da política criminal brasileira. A estratégia era clara: se a guerra híbrida para 2026 viria com força total, o Estado responderia desmontando a infraestrutura financeira que alimenta a desinformação, financia candidaturas opacas, compra influência e ancora a instabilidade crônica do país.


Essa decisão, por si só, redefiniu o tabuleiro político. Ao cruzar a linha que nenhum governo anterior cruzou, Lula levou o conflito para o terreno onde ele sempre existiu, mas nunca havia sido nomeado à luz do dia. E foi exatamente nesse momento que Brasília explodiu.

O que a PF atingiu (e por que isso mudou tudo)



A PF não abalou o país porque prendeu traficantes. Ela abalou o país porque encontrou seus banqueiros. Pela primeira vez, o Estado brasileiro entrou no território proibido onde facções, empresas, operadores financeiros e intermediários de alto nível se encontram. O alvo não foi a periferia do crime, mas o seu centro nervoso: um sistema sofisticado de lavagem estruturado em redes legais de combustíveis, transportadoras, fintechs, fundos de investimento, distribuidoras e cadeias logísticas usadas para dar aparência regular a fluxos bilionários.


As operações recentes não expuseram apenas fraudes fiscais ou sonegação industrial. Expuseram a arquitetura de um mercado paralelo que movimenta capital com eficiência superior à de muitas instituições financeiras formais. Postos de combustíveis funcionavam como caixas de lavagem; fintechs operavam como bancos clandestinos conectados a facções; refinarias privadas e grandes transportadoras integravam engrenagens que trocavam combustível por dinheiro vivo; fundos e consultorias ofereciam blindagem contábil com selo de respeitabilidade corporativa. Nada disso acontece sem a participação de segmentos do topo da pirâmide econômica.


Ao atingir esses esquemas, a PF tocou em elos que ligam crime organizado, elite empresarial, operadores políticos e interesses externos. A ofensiva ameaçou cadeias que financiam campanhas, irrigam estruturas partidárias, influenciam votações e estabilizam projetos de poder paralelos ao Estado formal. Quando o dinheiro sujo deixa de circular com a fluidez habitual, Brasília entra em convulsão. Não porque o crime esteja acuado, mas porque quem vive da interseção entre crime e política perdeu a blindagem.


A reação violenta do Congresso não nasce da pauta do STF. Nasce da percepção de que a PF atravessou a fronteira simbólica que sempre protegeu os intocáveis. E, uma vez atravessada, essa fronteira não volta ao lugar.

O Congresso como trincheira das elites atingidas



A rebelião do Congresso não é um acidente institucional. É uma reação coordenada de sobrevivência. Quando a PF atingiu a engrenagem financeira que conecta facções, operadores econômicos e intermediários políticos, a resposta não veio das ruas nem dos mercados; veio das mesas de comando do Legislativo. Pautas-bomba, sabotagens regimentais e a súbita aversão à indicação de Jorge Messias foram mobilizadas como instrumentos de pressão para conter o avanço das investigações. Não se trata de prerrogativas do Senado. Trata-se de pânico.


O Congresso se converteu na linha de frente porque é ali que os interesses atingidos encontram abrigo imediato. Bancadas financiadas por redes empresariais envolvidas em esquemas de combustíveis, grupos ligados à logística e ao varejo de alto risco, parlamentares com histórico de proximidade com operadores financeiros e segmentos do bolsonarismo que dependem da economia subterrânea para sustentar sua estrutura digital reconheceram o perigo antes de qualquer outro ator político. Se a PF continuar seguindo o dinheiro, alcançará pessoas, contratos e campanhas que transitaram por Brasília nos últimos quinze anos.


Nesse contexto, Messias virou uma distração conveniente. A disputa pública sobre a sabatina funciona como biombo para a disputa real: controlar ou enfraquecer a PF, limitar sua capacidade de atingir novas camadas do sistema e forçar o governo a negociar recuos estratégicos. A tática é simples e antiga. Quando o Estado se aproxima demais do dinheiro proibido, produz-se uma crise institucional para deslocar o foco, criar chantagem e empurrar o Executivo para a defensiva.


O que diferencia 2025 de outros momentos é que o governo não recuou. E isso transformou o Congresso na arena central de uma guerra que já não é sobre leis, votos ou ritos, mas sobre quem dita os limites da ação do Estado: o interesse público ou os donos da economia invisível.


A dimensão internacional da guerra: quando o dinheiro cruza fronteiras



O choque político em Brasília não pode ser compreendido sem observar o que acontece além das fronteiras brasileiras. O dinheiro que a PF começou a rastrear não é apenas nacional. Ele transita por paraísos fiscais, passa por estruturas jurídicas de Delaware, cruza fundos opacos operados por consultorias internacionais e se beneficia de brechas regulatórias que ligam a economia ilegal brasileira ao sistema financeiro global. Esse fluxo não sustenta apenas facções. Ele alimenta redes de influência, financia campanhas, compra proteção e serve como alicerce silencioso de interesses estrangeiros que historicamente preferem um Brasil fragmentado e previsível.


O incômodo externo com o governo Lula não se explica apenas por divergências ideológicas. Ele se intensifica porque a política externa brasileira voltou a defender soberania energética, informacional e digital, aproximou-se dos BRICS+, fortaleceu laços com o Sul Global e desafiou a dinâmica tradicional em que grandes potências definem os limites da autonomia latino-americana. Em paralelo, plataformas digitais, think tanks neoconservadores e setores de Wall Street pressionam contra qualquer tentativa de regular algoritmos, controlar fluxos de dados e reduzir a dependência brasileira de infraestruturas tecnológicas estrangeiras.


Quando a PF toca em estruturas financeiras que operam tanto no crime quanto no mercado formal, o efeito reverbera fora do país. Uma investigação que começa em um posto de combustíveis pode terminar em um trust internacional. Um relatório fiscal pode atravessar fronteiras e atingir empresas que fazem lobby em Washington, Londres ou Nova York. A reação interna, portanto, está conectada a uma ansiedade global: um Brasil que controla seus fluxos financeiros e informacionais é um Brasil menos vulnerável a manipulações externas.


Essa dimensão internacional amplia o risco político da ofensiva da PF. Ela transforma uma crise doméstica em uma disputa global por hegemonia. O que está em jogo não é apenas a limpeza do sistema econômico brasileiro, mas a reconfiguração de um país que, se operar com soberania, altera o equilíbrio de forças em toda a América Latina.

A batalha de 2026: crime, política e algoritmos



A disputa eleitoral de 2026 não será definida apenas por votos, programas ou campanhas tradicionais. Ela ocorrerá em uma infraestrutura integrada que combina finanças opacas, redes criminosas, operadores políticos, plataformas digitais e técnicas avançadas de guerra psicológica. Esse ecossistema foi construído ao longo de duas décadas e funciona como um sistema paralelo de poder. O que a PF fez, ao atingir o núcleo financeiro das facções e seus intermediários, foi interromper uma das principais fontes de energia desse sistema.


O dinheiro que circula no submundo dos combustíveis, das fintechs e dos fundos clandestinos não sustenta apenas operações ilícitas. Ele financia influenciadores, compra tráfego, alimenta redes de desinformação, patrocina campanhas de difamação e injeta recursos em estruturas políticas que dependem do caos para prosperar. Plataformas digitais, por sua vez, amplificam essas narrativas com algoritmos que privilegiam conflito, medo e radicalização, criando terreno fértil para operações psicológicas capazes de moldar percepções públicas em tempo real.


Ao atacar o fluxo financeiro, o governo desorganizou a base que sustentaria a ofensiva híbrida contra ele em 2026. Isso explica a violência da reação. Sem financiamento clandestino, a capacidade de produzir colapso informacional diminui. Sem operadores logísticos, campanhas subterrâneas perdem eficiência. Sem intermediários protegidos, redes políticas ficam expostas. A disputa deixou de ser simbólica e passou a ser estrutural.


Do lado contrário, elites ameaçadas enxergam 2026 como o momento decisivo para restaurar a arquitetura anterior, aquela em que dinheiro ilegal atravessava Brasília sem fricção e bancos de dados privados definem agendas públicas. Para esses grupos, a eleição não é um processo democrático, mas uma oportunidade de recuperar o controle sobre o Estado antes que ele consolide sua autonomia.


O ano de 2026, portanto, será o confronto entre dois modelos de país. Um baseado na soberania, na capacidade do Estado de seguir o dinheiro e desmontar estruturas clandestinas. O outro baseado na permanência de um sistema paralelo que mistura crime, tecnologia e política como instrumentos de guerra. A crise de 2025 é apenas o prólogo.

Conclusão: o ponto de não retorno



O Brasil entrou em uma zona de clarificação rara. A crise de 2025 não é sobre sabatinas, vaidades institucionais ou disputas protocolares. É o resultado de um movimento inédito do Estado brasileiro contra o centro financeiro do crime organizado e contra as elites que se beneficiaram dessa simbiose por décadas. Quando o governo decidiu seguir o dinheiro, o sistema reagiu com violência. Não por ideologia, mas por sobrevivência.


A partir daqui, não há retorno ao modelo anterior. O governo descobriu que a guerra híbrida de 2026 será travada não apenas na política, mas no subsolo onde circula o capital que estrutura desinformação, compra influência e manipula a percepção pública. E o país descobriu que enfrentar o crime organizado significa enfrentar também os interesses que sempre o protegeram.


A batalha eleitoral que se aproxima decidirá quem controla o Brasil:

um Estado que recupera sua soberania sobre o dinheiro, a informação e o território político,

ou um sistema paralelo que opera nas sombras e molda a democracia a partir da ilegalidade sofisticada.


O país está olhando para a superfície, mas o que definirá 2026 é o subterrâneo.

E, uma vez exposto, ele nunca mais poderá ser ignorado.


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