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A dolce vita do economista de oposição

  • Foto do escritor: Sara Goes
    Sara Goes
  • 29 de jul.
  • 3 min de leitura

Enquanto o Brasil deixava o Mapa da Fome e reconstruía sua economia a partir do prato vazio, os economistas de oposição seguiam flanando entre gráficos e ironias, alheios à urgência da dignidade



Em 28 de julho de 2025, durante a 2ª Cúpula de Sistemas Alimentares da ONU em Adis Abeba, a FAO anunciou que o Brasil saiu oficialmente do Mapa da Fome. A taxa de subalimentação caiu para menos de 2,5%, um índice que, mais do que sinalizar recuperação, indica ruptura. Não se trata apenas de um ajuste técnico, mas da reativação da economia como ferramenta política para reconstruir direitos.

No mesmo dia, em São João da Barra, Lula inaugurou a usina GNA II e, como tem feito em momentos decisivos, escapou do jargão tecnocrático para traduzir em voz popular o que está em jogo. Com ironia, disse que “economista de oposição sabe tudo, cara... quando você tá na oposição, você decora tudo. É impressionante como tem solução”, num recado direto aos que insistem em separar números de necessidades, modelos de estômagos, índices de gente. A frase expõe um conflito antigo entre a engenharia fria do mercado e a urgência de quem governa um país faminto.

Esse conflito está no centro do livro de Ladislau Dowbor, Resgatar a função social da economia, que denuncia a transformação da economia em engrenagem de extração, não de produção. O rentismo, essa máquina que gira sem gerar emprego ou bem-estar, é apontado como o eixo de uma estrutura global que sabota a soberania popular. Em vez de garantir que a riqueza circule entre os que a constroem, ela se concentra nas mãos de quem apenas especula.

A reversão dessa lógica começou com a reconstrução do tecido social: retomada do Bolsa Família, aumento real do salário mínimo, merenda escolar de qualidade, apoio à agricultura familiar, expansão das cozinhas solidárias e acesso ao crédito para os mais pobres. O resultado foi uma queda histórica da fome no país, reconhecida internacionalmente como conquista civilizatória.

Mas Lula não parou nos dados. Em São João da Barra, afirmou que soberania é decidir sem medo de retaliação, não abaixar a cabeça para chantagens, garantir o direito de comer. Governar, disse, é garantir que uma criança jante. É nesse ponto que sua prática e a teoria de Dowbor se encontram: uma economia que não garante comida é só mais uma engrenagem de dominação.

O contraste com o tarifaço de Donald Trump, também em julho, não poderia ser mais claro. A tentativa de impor tarifas de até 50% sobre produtos brasileiros estratégicos (grãos, carnes, fertilizantes, minérios) foi uma tentativa explícita de sufocar a autonomia do país como punição pelo alinhamento ao BRICS e à China. É a velha cartilha da dependência reembalada como retaliação comercial.

A resposta brasileira veio em outro tom. Em vez de dobrar os joelhos para os fundos globais e os mercados financeiros, Lula reforçou a aposta na reindustrialização, no consumo interno, na reconstrução do ciclo produtivo com base em investimento público, educação, infraestrutura, energia limpa e renda básica. A lógica deixa de ser a dos acionistas e volta a ser a das crianças que jantam.

Criticar o rentismo, neste contexto, não é fazer retórica. É proteger o país da corrosão lenta que a financeirização impõe: alienação produtiva, fuga de capitais, privatização de direitos, fragilização do Estado. O tarifaço de Trump expôs as fragilidades da economia colonizada. O fim da fome mostrou que há caminho, e que esse caminho passa pela decisão política de romper com a chantagem do capital improdutivo.

A ironia sobre os “economistas de oposição” não foi desdém à ciência econômica, mas recusa à tecnocracia que naturaliza a desigualdade. Ao sair do Mapa da Fome, o Brasil fez mais do que melhorar uma estatística, reafirmou que a economia precisa voltar a ser instrumento da maioria, e não algoritmo de poucos.

Nas palavras de Dowbor, trata-se de reproduzir a dignidade. Nas palavras de Lula, trata-se de garantir o jantar. Entre os dois há uma aliança profunda, construída não com fórmulas, mas com decisões. É isso que dá nome, direção e sentido à função social da economia.



 
 
 

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