top of page

Os cenários de uma nação em disputa

  • Foto do escritor: Rey Aragon
    Rey Aragon
  • 7 de ago.
  • 13 min de leitura

Sob ataque externo e interno, o país caminha entre resistência e ruptura 


Com o país pressionado por Washington e sabotado internamente pela extrema-direita, o governo Lula enfrenta seu maior desafio desde 2022. Este artigo traça os próximos movimentos possíveis da crise e alerta: o cerco é híbrido — e o golpe pode ser silencioso.

O cerco e a encruzilhada.



No dia 1º de agosto de 2025, o Brasil foi formalmente arrastado para o centro de uma guerra que, embora silenciosa para os ouvidos menos atentos, é brutal em sua complexidade: uma guerra econômica travestida de ajuste diplomático, uma guerra híbrida disfarçada de sanção comercial. A decisão do governo dos Estados Unidos de impor tarifas de 50% sobre centenas de produtos brasileiros — anunciada diretamente por Donald Trump em rede social e referendada por sua base política — não é um evento isolado, tampouco fruto de mal-entendidos. É, como revelam as camadas dessa conjuntura, parte de uma estratégia coordenada de desestabilização do governo brasileiro e de tentativa de reencaixe geopolítico forçado do país no eixo de influência imperial norte-americano.


Mais do que medidas econômicas, o que se viu foi a ativação de um mecanismo de guerra híbrida com objetivos múltiplos e sincronizados: desmoralizar o sistema judicial brasileiro, enfraquecer politicamente o presidente Lula, semear desconfiança nos mercados internacionais e — sobretudo — fortalecer as forças de extrema-direita no Brasil em um momento de reorganização do campo conservador. O pano de fundo da crise revela, portanto, um movimento meticulosamente calculado, em que os interesses geopolíticos dos Estados Unidos se alinham com os interesses internos da elite política e econômica brasileira inconformada com a derrota eleitoral de 2022 e ainda ressentida com a atuação do STF no combate à tentativa de golpe de Estado do 8 de janeiro.


Desde então, o Brasil assiste ao acirramento simultâneo de duas frentes críticas: a ofensiva externa, liderada por Washington, e a insurreição institucional interna, articulada por uma direita revanchista que ocupa simbolicamente o Congresso Nacional e tenta colapsar o Judiciário. A prisão domiciliar de Jair Bolsonaro, a ocupação da Mesa Diretora por parlamentares bolsonaristas, os discursos em tom de ruptura, os ataques orquestrados ao STF e os pedidos de impeachment de Alexandre de Moraes não são peças dispersas, mas partes móveis de um mesmo dispositivo estratégico — um cerco híbrido contra a institucionalidade democrática brasileira, sob o pretexto da soberania nacional e da liberdade econômica.


Ao contrário do que sugere a cobertura superficial de parte da mídia, o embate em curso não é apenas um conflito comercial ou uma disputa retórica entre chefes de Estado. Trata-se de uma crise estrutural de soberania, onde o Brasil é forçado a decidir se continuará no caminho de reconstrução nacional com base em autonomia, integração Sul-Sul e projeto desenvolvimentista, ou se será arrastado de volta à condição subalterna de aliado obediente, servindo aos interesses do complexo civil-militar-financeiro anglo-americano.


Neste artigo, traçamos os principais cenários que se desenham para os próximos dias e semanas, com base em uma análise estratégica rigorosa da conjuntura. Utilizando uma metodologia baseada em mapeamento de sinais fracos, identificação de atores-chave e modelagem de escalada híbrida, propomos um sistema de alerta preditivo que articula a dimensão econômica, institucional e narrativa da crise. A partir disso, exploramos as possibilidades reais de desdobramento da ofensiva contra o Brasil — desde a manutenção de um conflito controlado até a ruptura institucional aberta.


O Brasil está em uma encruzilhada histórica. E como já ensinava Gramsci, quando o velho resiste a morrer e o novo ainda não pode nascer, surgem os monstros. A pergunta agora é: estamos diante de um novo ciclo de resistência democrática ou do prenúncio de uma nova tentativa de golpe?

A face externa do conflito: Trump, tarifas e a lógica da guerra híbrida econômica



A imposição das tarifas de 50% por parte do governo norte-americano não é apenas uma retaliação pontual. Trata-se da aplicação cirúrgica de uma estratégia de coerção econômica dentro do modelo contemporâneo de guerra híbrida. Nesse modelo, não é necessário invadir fisicamente um país para submetê-lo — basta desestabilizar seus mercados, envenenar a percepção pública com narrativas corrosivas e utilizar sua própria elite contra ele. O tarifaço é, nesse sentido, uma sanção com múltiplos alvos simultâneos: a balança comercial brasileira, o sistema político, a opinião pública e o capital internacional que sustenta a estabilidade macroeconômica do país.


Donald Trump, ao anunciar o tarifário, alegou “defesa da liberdade econômica e dos valores democráticos”, mas a realidade aponta para outro vetor: o uso da política comercial como arma de vingança geopolítica e disciplinamento ideológico. O estopim oficial foi a atuação do sistema judicial brasileiro contra Jair Bolsonaro, especialmente após sua prisão domiciliar e a exposição de suas conexões com redes internacionais de desinformação. Para o trumpismo, a punição contra Bolsonaro significou uma traição do Brasil ao projeto da nova direita global. As tarifas são, portanto, uma retaliação simbólica contra o governo Lula e o STF, que ousaram desafiar esse projeto.


Essa movimentação é coerente com a estratégia delineada por think tanks norte-americanos ultraconservadores — como a Heritage Foundation e os arquitetos do Project 2025 — que defendem uma política externa agressiva e intervencionista contra governos que não se alinham aos valores do "Ocidente cristão e livre mercado". O Brasil, ao fortalecer os BRICS, buscar maior integração com a América Latina, defender a regulação das big techs e reafirmar sua soberania sobre a Amazônia, tornou-se um alvo geopolítico direto dessa nova doutrina imperial. A guerra econômica passa a ser, então, um instrumento para desacelerar ou desestabilizar esse movimento de autonomia.


Mais que isso: o tarifário atua como um gatilho narrativo e simbólico, ressignificado internamente pelas redes bolsonaristas como prova de que o Brasil “enfraqueceu” por ter se afastado dos EUA. Essa lógica serve para alimentar um sentimento de sabotagem, preparando terreno para o que virá: a ofensiva política interna. Como em toda guerra híbrida bem-sucedida, a pressão externa é sincronizada com o levante interno — e ambos operam sob um mesmo roteiro de captura do Estado.


A história oferece paralelos claros. Nos anos 2000, a Venezuela de Chávez e a Bolívia de Evo Morales foram vítimas de bloqueios e sabotagens econômicas em resposta à ousadia de tentar projetos autônomos. Agora, com o Brasil no centro da disputa entre os blocos de poder global (BRICS x OTAN), o objetivo estratégico do trumpismo é impedir que o país se consolide como um polo de soberania popular, energética, informacional e tecnológica.


A frente interna: ocupações, chantagens e o ensaio de nova ruptura institucional



Se as tarifas norte-americanas são a ofensiva externa, as movimentações da extrema-direita no Congresso Nacional são o espelho interno da guerra híbrida. A ocupação simbólica da Mesa Diretora do Congresso por parlamentares bolsonaristas, iniciada no início de agosto, é mais do que uma performance radical — é um ensaio prático de ruptura institucional, articulado com base na mesma lógica que norteou os eventos de 8 de janeiro de 2023: o caos como método, o colapso como estratégia, a crise como oportunidade.


Essa movimentação se dá em um momento cirurgicamente calculado. A prisão domiciliar de Jair Bolsonaro acendeu um novo ciclo de vitimização e narrativa de “perseguição política”, que serve como catalisador para uma base radicalizada, órfã de projeto, mas ainda dotada de capacidade de mobilização institucional e digital. A ofensiva mira diretamente o Supremo Tribunal Federal, com foco especial no ministro Alexandre de Moraes — símbolo, para os bolsonaristas, da contenção legal ao golpismo e da punição aos crimes cometidos por sua base. O pedido de impeachment contra Moraes, apesar de juridicamente insustentável, é politicamente estratégico: visa constranger o STF, desmoralizar sua autoridade e abrir caminho para uma nova composição institucional controlada por forças reacionárias.


A tática não é nova, mas está mais refinada. Em vez de tanques nas ruas, utiliza-se o discurso da “liberdade” e da “democracia” para justificar a chantagem institucional. O uso do regimento interno do Congresso para bloquear votações, a ocupação de espaços físicos simbólicos e a disseminação de fake news com acusações contra ministros do STF são armas que operam no plano simbólico, jurídico e comunicacional. É, literalmente, a aplicação interna do modelo de “lawfare reverso” — não como ataque jurídico seletivo, mas como tentativa de sabotar a credibilidade do Judiciário para impedir que ele cumpra seu papel constitucional.


Além disso, a ofensiva vem acompanhada de uma retórica milimetricamente articulada entre parlamentares da extrema-direita, influenciadores digitais, militares da reserva e líderes religiosos, criando uma frente de ataque multifacetada, mas coesa. O objetivo não é apenas pressionar: é criar um estado de exceção informal, uma instabilidade que torne o governo refém do medo da ruptura.


Ao mesmo tempo, é perceptível o retorno de atores econômicos que estiveram calados nos últimos anos e agora reaparecem como mediadores “moderados” entre os Poderes — mas que, na prática, pressionam o governo a recuar em pautas progressistas e na regulação das big techs, utilizando a crise como moeda de troca. Essa lógica é idêntica à do impeachment de 2016: constrói-se o caos para que a “moderação” do status quo pareça uma solução razoável.


Não por acaso, os mesmos think tanks e fundações que atuaram no desmonte do ciclo progressista latino-americano reaparecem com força. A atuação da Atlas Network, da FCL (Fundação Conrad Adenauer) e de agentes internos como o Instituto Millenium ou o MBL agora se dá em novas plataformas, com nova roupagem — mas o objetivo permanece: bloquear qualquer projeto de reconstrução nacional autônoma e reencaixar o Brasil na ordem neoliberal dependente.


O resultado é que o país se encontra, internamente, em estado de suspensão democrática tensa. Não há um golpe formal, mas há uma sucessão de microgolpes simbólicos, narrativos e regimentais. O funcionamento das instituições está mantido, mas sob ataque. O governo resiste, mas sob cerco. E a democracia, mais uma vez, está sendo testada não por tanques ou censuras diretas, mas pela erosão permanente das bases da confiança institucional.

O cenário convergente: a escalada de dupla pressão



Ao contrário do que seria esperado em crises convencionais, a atual conjuntura brasileira não caminha para uma solução mediada ou estabilização progressiva. O que se desenha é um cenário de convergência entre a pressão externa liderada pelos Estados Unidos e a sabotagem interna articulada por forças bolsonaristas e setores do capital descontentes com o projeto nacional-desenvolvimentista do governo Lula. Essa convergência não é acidental. Ela segue uma lógica precisa, típica da guerra híbrida de quarta geração: enfraquecer simultaneamente o Estado por fora e por dentro, usando o caos para impor uma nova hegemonia.


Esse cenário híbrido, que chamamos aqui de Escalada Convergente, tem como principais características:


  • A manutenção das tarifas comerciais como instrumento permanente de chantagem.


  • A ativação de agentes internos com capacidade de paralisar o Legislativo, constranger o Judiciário e mobilizar as redes digitais.


  • A desinformação como catalisador da ruptura da confiança nas instituições.


  • O uso do medo econômico para gerar pressão por “conciliações” que, na prática, significam recuo estratégico do governo frente ao avanço do autoritarismo sob nova forma.


Essa convergência entre os vetores de ataque externo e interno está na raiz do risco real de ruptura institucional. Diferente do golpe clássico, esse modelo opera na ambiguidade: não há tanques nas ruas, mas algoritmos e pacotes econômicos. Não há censura direta, mas campanhas massivas de descrédito das instituições democráticas. A guerra é fria, invisível e multifronte.


Como resposta a essa conjuntura, elaboramos um modelo de cenários preditivos, baseado na triangulação de três variáveis principais:


  • Grau de agressividade externa (EUA e aliados)


  • Nível de desestabilização institucional interna (Congresso, STF, mídia, redes)


  • Capacidade de contenção/resposta do governo e aliados democráticos


A seguir, apresentamos a tabela com os quatro cenários plausíveis a curto e médio prazo:



Este modelo de análise permite prever não apenas o curso provável da crise, mas também os sinais de ativação de cada cenário, servindo como instrumento estratégico de vigilância política e social. A possibilidade de transição rápida entre um cenário e outro — especialmente do cenário 1 para o 2 — deve ser entendida como dinâmica e sensível a eventos catalisadores inesperados, como atentados, vazamentos, derrotas legislativas ou ações judiciais de alto impacto.


Nos próximos tópicos, exploraremos a linha do tempo preditiva e os vetores que podem nos conduzir a cada uma dessas possibilidades. Mais do que nunca, o que está em jogo não é apenas a governabilidade do Brasil — mas como o país enfrentará o desafio de preservar sua soberania frente à lógica do caos como ferramenta geopolítica.

O que pode acontecer: linhas do tempo e variáveis de risco



A dinâmica da guerra híbrida que incide sobre o Brasil é marcada por uma lógica temporal não-linear. Não se trata de uma sequência previsível de fatos, mas de uma série de janelas de oportunidade que podem ser abertas ou fechadas por eventos catalisadores, decisões políticas e ações coordenadas de grupos estratégicos. Entender essa lógica exige ultrapassar o cronograma tradicional e trabalhar com linhas do tempo preditivas, nas quais os acontecimentos são organizados a partir de seus efeitos potenciais — e não apenas por sua data de ocorrência.


Com base no acúmulo de dados da conjuntura, elaboramos abaixo uma linha do tempo estratégica de curto prazo (10 a 30 dias), que destaca os principais eventos esperados, os gatilhos que podem acelerar a escalada e as bifurcações que levariam o Brasil a um dos quatro cenários descritos anteriormente.



Infográfico – Quadro estratégico de cenários para a crise Brasil–EUA



Infográfico “Vetores Críticos de Risco


Com base no cruzamento dos vetores políticos, econômicos e comunicacionais em curso, o Brasil caminha por uma trilha inclinada em direção à Escalada Convergente. A permanência prolongada nesse ambiente instável tende a gerar três efeitos principais:


1 - Fragilização acelerada do sistema judicial, mesmo sem ruptura explícita


2 - Desgaste internacional da imagem do Brasil como parceiro confiável


3 - Crescimento do cinismo institucional e da fadiga democrática — fenômeno que precede os colapsos republicanos em sociedades hiperpolarizadas


A não-intervenção decisiva do campo democrático neste momento não evitará o golpe — apenas o tornará mais silencioso, mais sofisticado e mais aceito pela opinião pública moldada pelo medo e pela manipulação informacional.

Resistir ou ruir: o desafio da soberania em tempos de guerra híbrida



A crise que atravessa o Brasil em 2025 não é apenas uma batalha de tarifas, de processos jurídicos ou de embates parlamentares. É, em seu núcleo mais profundo, uma disputa pela soberania nacional — informacional, política, econômica e cultural. E o que está em jogo não é apenas o destino de um governo, mas o projeto de país que sobreviverá à avalanche coordenada da guerra híbrida.


Desde o fim das negociações da ALCA, em 2005, o Brasil vem sendo tratado pelos Estados Unidos não como um parceiro, mas como um problema estratégico. Cada avanço soberano — da política externa altiva à construção dos BRICS, da regulação das big techs à reindustrialização nacional — foi interpretado como ameaça por um império que não admite autonomia fora de sua órbita. A reação de Trump às decisões internas da justiça brasileira é apenas a manifestação mais explícita de um padrão que opera há décadas: quando o Brasil tenta ser soberano, o sistema reage com força.


A guerra híbrida é a nova forma da dominação imperial: atua no tempo curto da desinformação, na opacidade dos fluxos financeiros, na invisibilidade das redes digitais, na linguagem da chantagem comercial, na sabotagem institucional e na corrosão emocional da confiança coletiva. Não há invasão, há infiltração. Não há golpe, há erosão. Não há censura, há overdose de ruído. E nesse ambiente de incerteza constante, a democracia deixa de parecer um horizonte compartilhado e passa a ser apenas um campo de batalha.


O que a atual crise nos ensina é que não há soberania possível sem capacidade de resistir a esse novo tipo de guerra. E resistir, aqui, significa muito mais do que administrar a crise com competência técnica. Significa nomear o inimigo. Significa mobilizar o campo democrático para o conflito real — não contra uma oposição legítima, mas contra um projeto de dissolução nacional travestido de patriotismo. Significa criar trincheiras informacionais, jurídicas, sociais e emocionais que não cedam à chantagem do medo, da paralisia ou do falso centrismo.


É preciso compreender que a democracia não é neutra nem passiva. Ela precisa ser defendida com estratégia, coragem e inteligência histórica. E isso passa por recuperar o sentido de projeto nacional: um Brasil soberano, popular, justo e integrado ao Sul Global — capaz de se proteger não apenas de ataques militares ou tarifários, mas da colonização digital, da captura judicial e da manipulação das emoções sociais.


A decisão está em curso. Não é uma eleição, mas uma escolha histórica. Resistir ou ruir. Reler Gramsci, reorganizar a luta, desmascarar o discurso da moderação cúmplice, reconhecer a guerra em curso e agir como quem entende o tempo histórico.


O Brasil pode ser laboratório do caos — ou pode se tornar a vanguarda da resistência. Mas essa escolha não será feita em paz. Ela será feita no campo de batalha híbrido que já está em curso, em cada sentença judicial, em cada manchete, em cada tarifa, em cada voto, em cada rede, em cada silêncio.


Nos próximos dias, o futuro do Brasil será disputado palavra por palavra, dado por dado, ação por ação. Não há mais margem para inocência. Apenas para lucidez e coragem.

Metodologia de Análise Estratégica e Projeção de Cenários



A construção dos cenários prospectivos apresentados neste artigo seguiu uma metodologia rigorosa, multifatorial e orientada por uma lógica sistêmica de análise estratégica. Para atribuir os percentuais de probabilidade a cada cenário — bem como identificar os vetores críticos de risco com maior capacidade de alterar a curva da crise — adotou-se uma abordagem integrada, que combinou análise conjuntural, mapeamento de atores e lógica de cenarização adaptativa inspirada em modelos da prospectiva estratégica.


O primeiro pilar metodológico foi a análise conjuntural sistêmica. Essa etapa envolveu o cruzamento de múltiplas variáveis — econômicas, institucionais, geopolíticas e psicossociais — a partir da leitura dinâmica dos eventos em curso no Brasil e no sistema internacional. Indicadores como fluxo de capitais, pressão cambial, volatilidade nos investimentos, movimentos institucionais nos três poderes, padrões de ativação da militância bolsonarista e sinais de pressão do eixo EUA–Wall Street foram avaliados em sua correlação, buscando identificar tendências de curto e médio prazo. A análise baseou-se em modelos de sistemas abertos em tensão, nos quais a interação entre vetores internos e externos pode catalisar mudanças abruptas de cenário.


O segundo pilar foi o mapeamento de atores e vetores críticos de risco. Identificaram-se os principais atores com poder real de inflexão: Estados Unidos (governo e deep state), Supremo Tribunal Federal, Congresso Nacional, Presidência da República, BRICS, grandes conglomerados de mídia e forças bolsonaristas organizadas. A partir desse mapeamento, foram elencados os eventos com maior potencial de provocar rupturas — tais como sanções secundárias, abertura de CPI contra o STF ou ações coordenadas entre o BRICS. Cada vetor foi analisado em três dimensões: grau de ativação, capacidade de propagação e risco de escalada. A partir desses dados, foi possível construir uma matriz qualitativa de riscos, posteriormente convertida em pesos analíticos para alimentar os cenários.


O terceiro e último pilar metodológico envolveu a modelagem de cenários e a atribuição de percentuais de probabilidade. Utilizou-se a lógica da pergunta “e se?” (What if?) em combinação com a técnica dos eixos de incerteza (axis of uncertainty), partindo de dois vetores principais: o grau de hostilidade dos EUA e o nível de estabilidade democrática interna. Com base nesses eixos, foram projetadas quatro trajetórias principais de desenvolvimento da crise. Os percentuais atribuídos a cada uma derivam da ponderação entre: (i) a força relativa dos vetores já ativados, (ii) o padrão histórico de comportamento dos atores em situações semelhantes e (iii) a capacidade de resposta e mobilização das diferentes forças políticas e institucionais envolvidas no conflito.


Importante ressaltar que os percentuais aqui apresentados não representam destinos inevitáveis, mas níveis de propensão com base nos dados disponíveis até 7 de agosto de 2025. O objetivo não é prever o futuro com exatidão, mas antecipar bifurcações possíveis e oferecer um diagnóstico estratégico que contribua para a leitura crítica da conjuntura, a organização dos campos democráticos e a defesa da soberania nacional diante de uma ofensiva múltipla, híbrida e em curso.

Comentários


pin-COMENTE.png
mantenha-se atualizado

Obrigado pelo envio!

  • linktree logo icon
  • Ícone do Instagram Branco
  • x logo
  • bluesky logo icon
  • Spotify
  • Ícone do Youtube Branco
bottom of page