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Lula na ONU: multipolaridade ou barbárie

  • Foto do escritor: Rey Aragon
    Rey Aragon
  • há 3 dias
  • 9 min de leitura

Na Assembleia mais importante da história da ONU, Lula deve assumir o papel de maior líder global, enfrentar o trumpismo como ameaça civilizatória e resgatar a ONU como patrimônio dos povos


A crise global exige coragem e clareza. O discurso de Lula na ONU pode ser o marco histórico de uma virada: disputar as instituições contra o imperialismo, enfrentar o fascismo com firmeza e colocar o Brasil no centro da luta por um mundo multipolar, justo e democrático.

A Assembleia mais importante da história da ONU



O mundo chega à 80ª Assembleia Geral da ONU em estado de conflagração. O genocídio palestino se arrasta diante dos olhos do planeta, bloqueado por sucessivos vetos dos Estados Unidos; o trumpismo ameaça transformar o fascismo em doutrina de governo global; a guerra híbrida se intensifica com tarifas punitivas contra o Brasil e restrições de visto a autoridades; a crise climática acelera em meio à paralisia institucional. Nunca a ONU esteve tão próxima do colapso e, ao mesmo tempo, nunca foi tão necessária.


É neste cenário que Lula abre os trabalhos. Não como figura isolada, mas como porta-voz de um Sul Global que exige voz e poder. Seu desafio é histórico: não basta denunciar, é preciso propor; não basta discursar, é preciso organizar; não basta criticar, é preciso disputar a ONU como patrimônio da humanidade. A instituição não deve ser destruída — como querem os que a reduzem a aparelho do imperialismo —, mas sim arrancada de suas mãos e devolvida aos povos.


O momento é de clareza: a ONU é trincheira decisiva na luta pela multipolaridade, pela soberania informacional e tecnológica, pela democracia substantiva e pelo fim do fascismo. Lula tem a missão de se colocar, de fato e de direito, como o maior líder global do nosso tempo.

Palestina — Humanidade contra o veto



A questão palestina é o ponto mais cruel da falência do sistema multilateral. O massacre em Gaza já soma dezenas de milhares de mortos, com crianças famintas, hospitais destruídos e cidades transformadas em ruínas. Cada tentativa de cessar-fogo no Conselho de Segurança foi barrada por um único voto: o veto dos Estados Unidos. O poder de um só império se sobrepõe à vida de milhões de seres humanos, revelando a essência de uma ordem construída para perpetuar privilégios.


É nesse terreno que Lula deve fincar sua posição. O Brasil não pode se limitar a condenar genericamente a violência; deve propor uma resposta concreta, de caráter humanitário e vinculante. Um corredor humanitário sob coordenação direta da ONU, com financiamento internacional carimbado, metas claras de acesso a alimentos e medicamentos, monitoramento independente e garantias de proteção à população civil. Essa é a diferença entre discurso vazio e liderança efetiva: transformar a indignação em mecanismos reais de sobrevivência.


A Palestina é mais que um tema regional: tornou-se símbolo universal da luta entre o direito à vida e a lógica do veto. Quem se cala diante desse genocídio, endossa o fascismo global. Lula deve convocar a Assembleia Geral a assumir o papel que o Conselho de Segurança já não exerce: garantir a dignidade humana contra o bloqueio imperial.

Os ataques dos EUA ao Brasil — tarifas, vistos e coerção



O imperialismo não se esconde: ele se manifesta em tarifas punitivas, em restrições de visto, em chantagens abertas contra governos que ousam afirmar autonomia. Ao impor sobretaxas de até 50% sobre produtos brasileiros estratégicos, a administração Trump não ataca apenas a economia nacional, mas envia uma mensagem política: quem desafiar a ordem unipolar será punido. O mesmo vale para a hostilidade diplomática — vistos negados a ministros e delegados, violações do Acordo de Sede da ONU, tentativas de constranger o Brasil no palco internacional.


Esses mecanismos não são incidentes isolados; são instrumentos clássicos de guerra híbrida. Tarifas se transformam em armas políticas, vistos em trincheiras simbólicas, restrições comerciais em tentativas de disciplinar a soberania. Contra isso, não cabe vitimismo. Lula não falará em nome próprio, mas em nome do Brasil e, mais ainda, em nome do Sul Global. Sua denúncia precisa ser direta: as medidas coercitivas unilaterais corroem o multilateralismo, distorcem o comércio e ameaçam a própria legitimidade da ONU.


O ataque não é contra um presidente, é contra um projeto de país e contra a possibilidade de um mundo multipolar. Enfrentar essas agressões com firmeza, sem desviar para o personalismo, é afirmar a igualdade soberana como princípio inegociável. O Brasil, como nação altiva, não se curva a tarifas imperiais nem a vistos negados — disputa as instituições e reconfigura o tabuleiro em favor dos povos.

Resgatar a democracia global — substantiva, não decorativa



A palavra democracia foi sequestrada pelo discurso hegemônico. Os EUA e seus aliados a tratam como um rótulo formal, restrito a eleições periódicas e instituições capturadas, ao mesmo tempo em que legitimam golpes, lawfare e sanções seletivas contra governos que desafiam seus interesses. É a democracia decorativa: uma vitrine institucional que encobre desigualdade social, censura econômica e violência política.


Lula tem autoridade para propor outra definição, enraizada no materialismo histórico: democracia como soma de direitos políticos e sociais, inseparáveis da soberania dos povos. Não existe democracia onde há fome, miséria e destruição ambiental. Não existe democracia quando tribunais viram instrumentos de perseguição seletiva. Não existe democracia quando corporações digitais modulam a informação e envenenam a esfera pública.


O discurso precisa deslocar o centro: resgatar a democracia como projeto de emancipação coletiva, capaz de enfrentar o fascismo que hoje cresce nas ruas, nas redes e até nas instituições. Não se trata apenas de preservar ritos eleitorais, mas de garantir as condições materiais da liberdade — pão, saúde, terra, informação, soberania. Ao resgatar a democracia substantiva, Lula recoloca a ONU diante de sua missão original: defender os povos contra todas as formas de tirania.

Reforma da ONU e do Conselho de Segurança



O Conselho de Segurança é hoje o coração podre da ONU. Enquanto a Assembleia Geral ecoa vozes e aprova resoluções em defesa da paz, cinco países mantêm o privilégio absoluto de decidir sobre a vida ou a morte de milhões. O poder de veto, usado repetidamente pelos EUA para blindar o genocídio palestino, tornou-se a negação viva do princípio da igualdade soberana. Não há futuro para a ONU se esse mecanismo não for superado.


Lula carrega décadas de coerência nessa pauta. Desde os anos 2000, o Brasil defende assentos permanentes para a África e para a América Latina, ao lado da Índia e de outras potências emergentes. Agora é hora de abandonar as lamentações e apresentar um roteiro concreto de reforma: calendário de negociações, compromisso formal de Estados-membros, abertura de cadeiras permanentes com direito a voz e voto para o Sul Global.


O Brasil deve liderar uma frente política que transforme a frustração histórica em agenda positiva. O recado é simples: não haverá democracia global enquanto cinco potências coloniais monopolizarem o futuro da humanidade. É a hora de anunciar um plano de transição para que o Conselho de Segurança deixe de ser um comitê imperial e se torne, de fato, um instrumento de paz e justiça.

Soberania informacional e tecnológica — a disputa decisiva



No século XXI, a soberania deixou de ser apenas territorial: tornou-se também informacional e tecnológica. Quem controla os dados, os algoritmos e as infraestruturas digitais controla não só economias, mas subjetividades, comportamentos e democracias inteiras. Hoje, esse poder está concentrado nas mãos das big techs estadunidenses, operando como braço civil do mesmo complexo imperial que impõe tarifas, sanções e vetos.


Lula não pode se limitar a repetir diagnósticos. A ONU, pela primeira vez, deu passos concretos: criou um Painel Internacional de Inteligência Artificial e abriu o Diálogo Global sobre Governança Digital. São sementes frágeis que, sem política, podem ser capturadas. Cabe ao Brasil propor o que falta: uma carta de bens públicos digitais, que reconheça dados como infraestrutura coletiva, defenda padrões abertos, exija transferência tecnológica e proíba monopólios que transformam a informação em arma de guerra híbrida.


Aqui se joga o futuro. Não haverá democracia global nem multipolaridade se os povos continuarem dependentes de servidores estrangeiros, códigos opacos e vigilância algorítmica. A batalha informacional é a batalha do nosso tempo — e só pode ser vencida com uma governança multipolar, capaz de devolver às nações e às sociedades o direito de decidir sobre sua própria infraestrutura digital. Lula tem a chance de transformar esse discurso em agenda vinculante na ONU.

A ONU como patrimônio dos povos — contra a captura imperial



A ONU nasceu como promessa de paz depois do maior massacre da história. Mas, ao longo das décadas, foi sendo sequestrada pelos interesses imperiais, usada como fachada para guerras, bloqueios e chantagens. O caso mais recente é a violação do Acordo de Sede de 1947, com os EUA negando vistos a autoridades estrangeiras — inclusive do Brasil e da Palestina —, numa afronta aberta à própria razão de ser das Nações Unidas: ser a casa de todos os povos.


É nesse ponto que Lula deve ser categórico. A ONU não pertence aos EUA, nem a nenhuma potência isolada. Ela é um bem comum da humanidade. Não se trata de destruir a instituição, mas de resgatá-la para o seu propósito original: ser espaço de igualdade soberana, onde a voz de uma criança Palestina vale tanto quanto a de um banqueiro de Wall Street.


A disputa, portanto, é existencial. Ou a ONU se reencontra com os povos, ou continuará a ser mero instrumento das elites globais. Lula deve exigir salvaguardas concretas: mecanismos que garantam o livre acesso das delegações, fontes estáveis de financiamento independentes das chantagens imperiais e uma gestão orientada não pelo poder do veto, mas pelo compromisso com a paz e a dignidade humana. Defender a ONU é defender a humanidade contra sua captura.

O confronto necessário com o fascismo — Trump como símbolo



O fascismo do nosso tempo não veste uniforme pardo nem marcha em colunas nas praças: ele se infiltra nas redes digitais, manipula a informação, sabota instituições e se apresenta como “patriotismo”. O nome desse fenômeno global é trumpismo — a expressão mais acabada da extrema-direita neonazista que hoje ameaça o planeta.


Não se trata de uma divergência de estilos, mas de uma disputa civilizatória. O trumpismo nega a ciência, despreza a democracia, alimenta o ódio contra migrantes, mulheres, negros e pobres. E quando volta ao poder em Washington, converte esse ideário em política de Estado: tarifas como arma, vetos como escudo de genocídios, vistos como instrumentos de humilhação diplomática. Trump não é apenas um adversário político: é a encarnação contemporânea do fascismo.


É por isso que Lula não pode se esconder em neutralidades. Confrontar Trump na ONU não é questão pessoal, mas dever histórico. Cabe a ele dizer ao mundo, sem hesitar: ou resistimos ao fascismo, ou assistiremos à destruição da humanidade. Essa coragem, de nomear o inimigo e propor caminhos concretos de superação, é o que diferencia líderes circunstanciais de estadistas. Ao fazer frente ao trumpismo, Lula não defende apenas o Brasil, mas a própria ideia de um futuro possível.

O Brasil como vanguarda da multipolaridade



O que diferencia o Brasil de tantas outras vozes do Sul Global é a coerência histórica. Desde o início dos anos 2000, Lula repete que não há democracia internacional enquanto poucos concentram o poder de decisão. Essa linha não é apenas retórica: ela se materializou em iniciativas como a criação do G20, a fundação da Unasul, a expansão do BRICS e a defesa persistente da reforma da ONU. Hoje, em 2025, com a entrada da União Africana no G20 e o fortalecimento do BRICS+, essa visão se confirma como eixo estruturante da multipolaridade.


O Brasil não disputa hegemonia militar nem busca impor sua vontade. O que oferece ao mundo é um projeto de cooperação: desenvolvimento com justiça social, combate à fome, democratização da tecnologia, defesa do meio ambiente e soberania popular. Nessa moldura, Lula aparece não como líder circunstancial, mas como estadista que traduz a esperança de bilhões.


Ser vanguarda da multipolaridade é, ao mesmo tempo, ato de coragem e de pedagogia. É mostrar que há saída para a crise global que não passa pela submissão às potências imperiais nem pela fragmentação fascista. É propor um horizonte em que os povos do Sul se organizam para disputar as regras do jogo, e não apenas para sofrer suas consequências. O Brasil, sob Lula, é o país que traz essa mensagem: outro mundo não só é possível, como já começa a nascer nas alianças que se constroem fora do eixo do poder imperial.

Conclusão — Lula e o novo mundo possível



O mundo está diante de uma encruzilhada histórica. A ONU, em sua 80ª Assembleia, não é apenas palco de discursos: é o campo de batalha onde se decide se prevalecerá a lógica do veto imperial e do fascismo global ou se se abrirá a possibilidade concreta de uma governança baseada nos povos. Nesse cenário, Lula não é apenas o presidente de um país latino-americano — é o porta-voz de uma humanidade que se recusa a aceitar a barbárie como destino.


Confrontar Trump na tribuna das Nações Unidas não será um ato pessoal, mas um gesto civilizatório. Ao nomear o fascismo e enfrentá-lo de frente, Lula se coloca como guardião de uma alternativa histórica: uma ordem multipolar, justa, informacionalmente soberana e ambientalmente sustentável. É isso que o Brasil oferece ao mundo — não armas, mas ideias; não destruição, mas cooperação; não submissão, mas dignidade.


A ONU não deve ser abandonada nem destruída. Ela deve ser disputada, ressignificada e resgatada como patrimônio comum da humanidade. A fala de Lula, se cumprir esse destino, ficará marcada como divisor de águas: o momento em que um líder do Sul Global, com a força de sua história e de sua coerência, assumiu o papel de maior estadista do nosso tempo e afirmou ao mundo que, sim, um novo mundo é possível — e começa agora.

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