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O desespero irracional

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    Redação
  • 28 de jul.
  • 6 min de leitura

Por Julio Pegna *

Profissional de #ECommerce e #MKTDigital. Consultor e Palestrante. Diretor da #ABComm Bahia


No novo artigo de Julio Pegna, publicado no Código Aberto, uma análise direta e crítica expõe os reais interesses por trás da ofensiva tarifária dos EUA contra o Brasil. Trump mira no Brasil, mas o alvo é o BRICS — e, sobretudo, a soberania dos países que ousam desafiar a hegemonia do dólar.



O tarifaço e a farsa da justificativa


Os recentes ataques do governo dos Estados Unidos contra, mas não só, o Brasil revelam uma face obscura do segundo mandato presidencial de Donald Trump. No sentido de proteção à economia, a imposição de tarifas sobre suas  importações  – porque é sobre as compras internacionais que incidem – significa inviabilizar o comércio bilateral de diversos produtos e serviços e, desta forma, frear o crescimento econômico de velhos parceiros para fortalecer sua própria economia.


A estratégia seria eficiente caso a infraestrutura produtiva estadunidense (sobretudo a indústria e o agro) tivesse condições de produzir internamente aquilo que importam na velocidade proporcional ao consumo. Como não têm, a economia doméstica deles será seriamente afetada. Os preços internos já dispararam – café, carnes, suco de laranja, açúcar, aço etc. – e a inflação aponta para crescimento e consequente alta dos juros pelo FED (Banco Central Norteamericano).


Seria óbvio, até para leigos, que antes de impor tarifas alfandegárias o governo criasse linhas de financiamento para as indústrias e agro; criasse condições ao empresariado para que linhas de produção industrial e o agronegócio local pudessem suprir a necessidade de consumo interno. Até com subsídios federais, que já foi largamente usado na maior economia do planeta. Mas estas ações demandam tempo e, sem planejamento, o risco de desabastecimento será inevitável.


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No caso específico do Brasil, que recebeu a maior tarifa (50%), usou-se o argumento do julgamento de Jair Bolsonaro no STF. Qualquer imbecil sabe que o Executivo não tem poder de intervir no Judiciário, mas, mesmo assim, Trump exige “imediatamente” o fim da “caça às bruxas”.


Será que é isso que ele quer?

Não.


Trump sabe que o Executivo brasileiro não tomará medidas para eximir Bolsonaro dos vários processos em que é réu e o argumento de déficit comercial não serve para o Brasil, como serviu para os outros países que receberam tarifas elevadas. O que ele quer, então?



O alvo real: BRICS e o projeto de soberania global


Em primeiro lugar, e é o que acredito ser o fator mais importante, é a redução de influência do BRICS na economia mundial. 


Em segundo lugar, enfraquecer a economia brasileira. Parlamentares da oposição andam dizendo que dentro de quatro ou cinco meses, com a queda do PIB e aumento do desemprego, a popularidade de Lula vai cair. 2026 é ano de eleições e a volta de um governo alinhado ao neofascismo trumpista pode ajudar a sustentar a economia dos Estados Unidos e enfraquecer o BRICS. Assim ele atinge dois coelhos com uma só canetada.

BRICS


Vejamos projeção de números para 2025 (que poderão sofrer variações após entrada em vigor das tarifas distribuídas a diversos países):


  • O BRICS produz 40,7% do PIB global;

  • Estimativa do PIB do BRICS - 3,4%;

  • Estimativa do PIB mundial – 2,8%;

  • Estimativa do PIB do G7 – 1,2%


Neste ritmo, em breve os 11 países membros do BRICS deverá ultrapassar a metade do PIB mundial e se tornar o bloco de maior influência na economia global.

Isso significa perda de poder geopolítico para EUA e União Européia (cujos gastos militares dispararam neste ano reduzindo fontes de investimento interno) e consequente aumento da dependência externa.


Analistas dizem que o comércio desdolarizado prejudica os EUA, mas isso não assusta: China e Rússia negociam pequenas quantidades em Rublo e Yuan; 4,5% das exportações brasileiras são feitas em outras moedas que não o dólar; 80% das transações do mercado global são em dólar; a base de trocas do sistema monetário internacional (SWIFT) é dolarizada.


Onde está o temor?

Nas reservas cambiais globais!


A participação do dólar nas reservas cambiais dos países vem caindo de forma consistente nos últimos 15 anos, segundo dados do FMI (COFER – Currency Composition of Official Foreign Exchange Reserves):



Reservas cambiais são valores armazenados pelos Bancos Centrais, em dólar, para garantir o equilíbrio monetário de seu país. No passado, ações especulativas atacavam conjuntamente um determinado país desvalorizando a moeda local, e realizavam lucros gigantescos. Quem não lembra as maxi-desvalorizações do governo FHC que, praticamente, quebraram o Brasil e nos fizeram implorar por ajuda do FMI?


Estas reservas, mas não só, são responsáveis pela manutenção da força do dólar como moeda-base do comércio internacional. Quanto mais dólares estiverem fora do território estadunidense, mais fortalece a moeda. Estas reservas estrangeiras são a fonte de financiamento da dívida interna norte-americana.



A estrutura da crise americana e o papel da desdolarização


Para se ter uma idéia, em junho de 2025 a dívida interna dos EUA era 36,2 trilhões de dólares, equivalente a 120% do PIB. A dívida externa, em março 2025, era 28,1 trilhões. Esses números, que parecem exagerados, e crescentes, não preocupam o governo, pois eles detêm o monopólio na emissão de moeda dólar. O que significa dizer que cada vez que financiam guerras e movimentos paramilitares ao redor do mundo, imprimem moeda e remetem ao destino sem produzir inflação em seu país, já que o recurso circula em outras economias e se transforma em reserva cambial.


Outra fonte de financiamento da dívida deles é a quantidade de recursos que circula de forma ilícita ao redor do mundo, geralmente em bancos suíços e em paraísos fiscais, dinheiro oriundo de tráfico de armas e drogas, por exemplo.


O que faz dos Estados Unidos um país de economia forte é a confiança na moeda. Como vimos no quadro acima, a queda de reservas cambiais em dólar vem crescendo de forma sustentável e firme, representando alto risco de perda de confiança. 



A DECADÊNCIA: O fim do império e as oportunidades que renascem


Previsões de longo prazo apontavam para este movimento em 2008, na quebra do Lehman Brothers que provocou a maior crise do capitalismo desde 1929. Passados quase 18 anos desde então, o prazo encurtou e estamos diante da confirmação da decadência econômica da maior potência do planeta. Nada foi feito, nenhum governante, democrata ou republicano, teve capacidade de estancar a derrocada em andamento que, agora, se confirma. Donald Trump elegeu o caminho do movimento descendente como principal meta a ser corrigida.


O BRICS pode acelerar a queda do império estadunidense. A desdolarização em curso aponta para uma nova ordem geopolítica que está transformando as relações comerciais entre países. Ao adicionar novas Nações ao bloco, o BRICS demonstra força capaz de manter a trajetória de manutenção de queda do dólar.


Acertadamente, a China não se envolve em disputas regionais. Pelo contrário, tem investido fortemente em países da África, como Nigéria e Tanzânia, nas áreas de energia, infraestrutura, mineração e tecnologia. No Brasil, só neste ano a China investiu 96 bilhões de Reais em semicondutores, mineração, tecnologia, energia limpa e, até, em Inteligência Artificial (Longsys e Tencent) e Fast Food (Mixue e Meituan) gerando milhares de empregos.

Afinal, o que quer Donald Trump?


Conseguimos entender que o tarifaço aplicado ao Brasil não foi por seu querido “amigo” prestes a ser preso, nem pelo déficit comercial entre os países, que não existe. É uma tentativa de fazer a América grande de novo, MAGA, sua maior promessa de campanha.


O BRICS, sozinho, é apenas mais um dente da engrenagem da queda na confiança ao dólar. Outros blocos de comércio mundial operam no mesmo sentido. A União Européia e sua força financeira também é parte da engrenagem. Mercosul, APEC (Japão, China, Austrália e outros), ASEAN (Singapura, Tailândia, Malásia, etc), SADC (países africanos) também.


O que estes blocos representam é uma forma de autonomia, de não-dependência ao sistema financeiro centralizado, de crescimento interno via redução de tarifas alfandegárias entre os membros. Em resumo, foi a globalização quem provocou a união aduaneira entre blocos com características econômicas semelhantes apesar de alguns fatores de desequilíbrio destes agrupamentos como, por exemplo, as legislações comerciais de cada país e a assimetria econômica entre os membros. Não fosse por isso o império dos EUA já estaria derrotado.


No caso específico do tarifaço ao Brasil, Donald Trump dá um recado não somente ao BRICS, mas aos demais blocos comerciais. A diplomacia não terá voz nesta disputa porque as razões não são diplomáticas. A imposição dos interesses dos EUA se dá pela via da chantagem já que não pode jogar bombas em seus parceiros.


A visão do neofascismo de plantão na Casa Branca, cujo lema MAGA é trazer de volta o protagonismo mundial, soa como uma ação de recuperação que parece improvável. O custo do Brasil e dos demais países afetados será alto, mas abre um portal de oportunidades de readaptação dos meios de produção de bens e serviços voltados para dentro de cada Nação.


Novos arranjos comerciais estão sendo alinhados, países negociando com blocos, blocos negociando com blocos. Ninguém vai esperar sentado por uma solução milagrosa. Ainda que haja sacrifícios, não há mistério. Novos mercados hão de pintar por aí.

A decadência norte-americana é irreversível. Os impérios, historicamente, provocam estragos antes do fim. A roda da história não para. O desespero é irracional.


* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete necessariamente a opinião do <código aberto> (mas provavelmente sim)


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