Afinal, qual é a real situação do Brasil?
- Rey Aragon
- 27 de jul.
- 15 min de leitura

Entre tarifas, pressões externas e silêncio interno, algo muito maior pode estar acontecendo e quase ninguém está falando sobre isso.
Tarifas, sabotagem e silêncio: o que está realmente acontecendo com o Brasil? O país está sob ataque — mas a guerra não será vencida com diplomacia. Entenda por que a crise vai muito além de Bolsonaro, e por que o Brasil pode estar diante do maior cerco geopolítico da sua história.
O engodo da tarifa e a verdade inominável

A guerra já começou. Ela não foi declarada em praça pública, nem anunciada com tanques ou mísseis. Ela chegou como sempre chegam as guerras do império: disfarçada de legalidade, travestida de tarifa, protegida pela imprensa e vendida como retaliação justa. Mas é mentira. A imposição tarifária de 50% contra o Brasil pelo governo de Donald Trump não é uma reação à condenação de Jair Bolsonaro. Essa é apenas a farsa instrumentalizada para justificar o cerco. Bolsonaro, na lógica imperial, não passa de um boi de piranha — jogado ao rio para distrair enquanto a matança se organiza nas margens.
O que está em curso é uma operação geopolítica de alta complexidade, cujo objetivo estratégico é claro: implodir as bases de soberania que o Brasil ensaia reconstruir sob o governo Lula, minar sua capacidade de disputar hegemonia regional e, principalmente, inviabilizar qualquer chance de reeleição em 2026. Não por causa de Lula enquanto figura, mas por aquilo que seu projeto representa: reindustrialização, integração sul-americana, aliança com o Sul Global e ruptura progressiva com o eixo unipolar comandado por Washington.
A tarifa, portanto, é apenas a ponta visível de um ataque muito mais profundo. Um ataque que será econômico, sim — mas também informacional, psicológico, tecnológico e institucional. O objetivo é provocar uma crise em múltiplas frentes, gerando instabilidade, escassez, medo e desconfiança social. Como em toda guerra híbrida, os instrumentos serão variados, mas o centro do alvo é sempre o mesmo: a soberania nacional.
Enquanto parte da opinião pública se perde no falso dilema "Trump por Bolsonaro", o verdadeiro projeto avança: travar o Brasil, desacreditar suas instituições, e interditar qualquer alternativa que aponte para um futuro fora da tutela imperial. O império está em crise. E como todo império em decadência, reage com violência contra qualquer país que tente afirmar autonomia.
Neste jogo, o Brasil não tem o direito de errar. Porque desta vez, o preço do erro será a recolonização por vias econômicas, tecnológicas e informacionais. E ela já começou.
O alvo real: O Brasil soberano é inaceitável para o império

O império não age por impulso, nem por moral. Age por interesse. E os interesses dos Estados Unidos estão sendo frontalmente ameaçados por algo que nada tem a ver com Jair Bolsonaro ou com sua condenação: o retorno do Brasil à cena internacional como um ator soberano, desenvolvimentista e alinhado à nova ordem multipolar em construção. A tarifa de 50% imposta por Donald Trump não é uma reação à defesa das instituições brasileiras, tampouco à condenação de um político submisso e descartável como Bolsonaro. Trata-se de um ataque frontal a um país que ousa recuperar sua autonomia estratégica.
Desde que Lula reassumiu o governo, o Brasil passou a caminhar na contramão dos interesses centrais de Washington. Reaproximou-se do BRICS, defendeu a desdolarização do comércio internacional, iniciou a regulação das big techs, voltou a investir na reindustrialização do país por meio de empresas estatais e políticas públicas, reafirmou o papel do Estado como planejador do futuro. Mais do que isso, o Brasil começou a disputar mercados, rotas comerciais e cadeias críticas com protagonismo. E o ponto de inflexão mais sensível para os EUA foi a retomada dos projetos de integração sul-americana — em especial, a Ferrovia Bioceânica, que ameaça romper a lógica histórica de escoamento da riqueza latino-americana pelo Atlântico sob tutela euro-americana, conectando o Brasil diretamente ao Pacífico e à Ásia, sem mediação de Washington.
Além disso, o Brasil voltou a controlar áreas-chave como energia, fertilizantes e minerais raros, confrontando diretamente as estratégias das potências ocidentais sobre o controle de recursos estratégicos no século XXI. A ofensiva de Trump — e de todo o establishment imperial que o sustenta — é uma reação preventiva: eles sabem que se o Brasil se consolidar como eixo de um novo arranjo multipolar, todo o edifício geopolítico da dominação unipolar entra em colapso.
Essa é a verdade que não se diz. O alvo da guerra tarifária não é Bolsonaro. Ele é só o disfarce conveniente. O alvo real é o Brasil. Não qualquer Brasil — mas o Brasil que ousa reconstruir sua soberania, sua indústria, sua infraestrutura, sua presença internacional. Esse Brasil é intolerável para o império. Porque se ele vinga, o Sul Global ganha força. Se ele avança, a hegemonia norte-americana retrocede. Se ele vence, o sistema mundial muda de eixo.
E é justamente isso que está em disputa agora.
Bolsonaro: O peão sacrificável do xadrez imperial

Jair Bolsonaro jamais foi um problema para os Estados Unidos. Ao contrário: foi, durante anos, um ativo estratégico do império, perfeitamente funcional aos seus interesses. Entreguista, submisso, alinhado ao trumpismo e às diretrizes do Departamento de Estado, seu governo destruiu políticas de soberania, desmontou o Estado nacional, abriu mão da proteção ambiental, subordinou os sistemas de inteligência e segurança do país a interesses estrangeiros e colocou a política externa brasileira de joelhos diante da Casa Branca. Nada disso incomodou Washington. Não houve tarifa, não houve sanção, não houve editorial furioso dos jornais ocidentais. Houve aplauso.
Agora, com sua condenação pelo Supremo Tribunal Federal, Bolsonaro se tornou simplesmente inútil para os objetivos maiores do império. E, como qualquer ativo descartável, está sendo entregue como cortina de fumaça. A justificativa para a tarifa soa, na boca de Trump, como defesa da democracia — ironia grotesca vinda de um agente da extrema-direita global. Mas, na prática, o que temos é o uso de Bolsonaro como biombo, um boi de piranha jogado ao rio para justificar um ataque que, na verdade, se volta contra o Brasil como nação.
Essa manobra tem dupla função. Primeiro, distrai os analistas desavisados: ao vincular as tarifas à condenação de Bolsonaro, a imprensa liberal e parte da opinião pública entram na armadilha narrativa e passam a debater o "excesso" do STF ou a "retaliação pessoal" de Trump. Segundo, abre espaço para que os verdadeiros objetivos da guerra comercial avancem sem resistência: desestabilizar o governo Lula, sabotar a economia brasileira e impedir que o governo chegue competitivo às eleições de 2026.
É preciso entender o modus operandi do império: não há aliados, só instrumentos. Bolsonaro foi usado como linha de frente para capturar o Estado, romper com os BRICS, esvaziar o Mercosul, sabotar a integração regional, alinhar o Brasil à agenda da OTAN, destruir a cultura e a educação e entregar os sistemas críticos de informação e defesa nacional. Cumprida sua função, foi descartado. Agora, serve como narrativa. Depois, será esquecido.
O Brasil, no entanto, não pode se permitir cair nessa armadilha. Ao tratar Bolsonaro como centro da crise, a análise se afasta da realidade. O alvo real é a soberania brasileira. E Bolsonaro, neste jogo, é apenas o peão sacrificado para encobrir um xeque-mate em curso.
O império em agonia e o cerco ao quintal

O império está em agonia. Os Estados Unidos enfrentam uma crise estrutural profunda, que vai além da polarização política e da decadência institucional. Trata-se de uma crise de hegemonia, de capacidade de comando global, de sustentação econômica e simbólica de seu papel como centro do sistema-mundo. A dívida interna atinge níveis insustentáveis, o dólar perde força como referência incontestável, sua legitimidade política internacional está corroída e o avanço dos BRICS sinaliza, com clareza, que o século XXI não será comandado por uma única potência. É o fim da unipolaridade. E o império sente cheiro de cerco.
É nesse contexto que o Brasil passa a representar não apenas uma ameaça circunstancial, mas um desafio sistêmico. Porque entre todos os países do Sul Global, poucos têm o potencial de romper com a lógica de subordinação com tanta força quanto o Brasil. Pela sua dimensão territorial, seu mercado interno, seus recursos naturais, sua capacidade energética, sua cultura, sua localização estratégica e, sobretudo, pela sua história política recente — um país que conhece os efeitos do colonialismo econômico e começa, mais uma vez, a reorganizar suas forças em direção à soberania.
Para os Estados Unidos, manter o controle sobre a América Latina não é apenas uma questão geopolítica — é uma condição de sobrevivência histórica. Trata-se do quintal imperial, da retaguarda onde o império recompõe musculatura toda vez que sofre um revés em outro front. Foi assim nas guerras asiáticas, nas crises do Oriente Médio e agora na disputa com a China. A América Latina, e o Brasil em especial, sempre funcionaram como zona de compensação, espaço de exploração e plataforma de reafirmação de poder. Se esse espaço for perdido, o império colapsa de dentro.
Por isso o cerco ao Brasil é implacável. A guerra tarifária é apenas o primeiro movimento. Virão pressões diplomáticas, tentativas de isolar o país em organismos internacionais, sabotagem de projetos estratégicos, corte de financiamento externo, manipulação cambial, pressão sobre reservas internacionais, ataques ao sistema político por dentro e por fora. Tudo sob o disfarce da legalidade. Tudo sob a retórica da “defesa da democracia” ou da “preocupação com os rumos do Brasil”.
O que está em curso não é uma disputa comercial. É uma ofensiva imperial para manter o Brasil no lugar de onde nunca deveria sair: o lugar da submissão, da obediência, da irrelevância estratégica. E mais uma vez, como em 1964, como em 2016, como em 2018, os instrumentos de guerra não serão apenas os tanques, mas as tarifas, os algoritmos, os editoriais, os acordos, os juízes, as bolsas de valores, os think tanks, as embaixadas e os tribunais internacionais.
Estamos diante de um império decadente, mas ainda perigoso. Um império que não tem mais poder para comandar o mundo, mas ainda tem força para destruir países que tentem se libertar.
A mídia brasileira como cúmplice: colaboracionismo editorial

É impossível compreender a profundidade da guerra que o Brasil enfrenta sem olhar para dentro. A guerra é internacional, sim. Mas ela conta, desde sempre, com colaboradores internos que cumprem função tática na desestabilização do país. Entre eles, a grande mídia brasileira ocupa um papel central. Estadão, Folha de S.Paulo, O Globo e seus satélites digitais — do campo liberal ao campo da extrema-direita, como Revista Oeste, Jovem Pan, O Antagonista, Gazeta do Povo e outros — não estão apenas noticiando a crise. Estão participando dela como operadores narrativos de um projeto antinacional.
O jogo é duplo e cínico. Esses veículos, quando confrontados com as tarifas abusivas de Trump, fazem editoriais “preocupados”, demonstrando apreensão com os impactos para a economia, com os custos para o agronegócio e com a “irracionalidade” da medida. Mas no mesmo espaço, nas mesmas páginas, seguem atacando sistematicamente o STF, o ministro Alexandre de Moraes, a Justiça Eleitoral e qualquer instância que enfrente o bolsonarismo — mesmo este já tendo sido descartado pelo próprio império que os mesmos veículos ora criticam.
A contradição não é descuido — é estratégia. Esses veículos sabem exatamente o que estão fazendo. Estão tentando pavimentar a ideia de que o verdadeiro problema não é a guerra tarifária, mas a atuação das instituições nacionais. Ao atacar diariamente o STF, colocam em dúvida sua legitimidade. Ao desacreditar Alexandre de Moraes, enfraquecem a única figura que ainda exerce um controle institucional sobre o avanço da extrema-direita digital. E ao atacar o governo Lula em meio ao cerco externo, agem como quinta-coluna: atuam de dentro para favorecer a desestabilização que vem de fora.
O ponto aqui não é apenas ideológico — é de classe. A maioria da elite brasileira, expressa nesses meios de comunicação, não aceita a soberania nacional como valor em si. Ela aceita um Brasil submisso, desde que esse Brasil continue garantindo seus privilégios. Por isso, essas elites preferem a instabilidade de um país sabotado à reconstrução de um país autônomo. Preferem a tutela estrangeira a um governo popular reeleito. Preferem o caos a Lula 2026.
Ao se apresentarem como críticos das tarifas e, ao mesmo tempo, sabotadores das instituições democráticas, esses veículos se tornam cúmplices ativos da guerra híbrida em curso. Não estão do lado do Brasil. Estão do lado do império — mesmo que finjam não perceber.
A guerra total: Tarifas, plataformas, desinformação e capital

A guerra que o Brasil enfrenta não se limita às tarifas anunciadas por Donald Trump. Essas tarifas são apenas a face visível de um ataque muito mais amplo e profundo, que mobiliza simultaneamente o comércio, a tecnologia, a comunicação, o sistema financeiro, as instituições jurídicas e os aparelhos ideológicos. O nome disso é guerra híbrida total. E ela já está em curso.
No campo econômico, além das tarifas, o país enfrenta a ameaça concreta de sanções coordenadas pelo eixo OTAN, com possibilidade real de restrições a investimentos estratégicos, travamento de financiamentos multilaterais e até mesmo o congelamento de reservas brasileiras no exterior, caso o Brasil insista em afirmar autonomia diante da ofensiva imperial. Já há movimentações silenciosas de bancos, fundos e agências classificadoras, preparando o terreno para justificar um ataque financeiro “técnico” com base em “instabilidade institucional” ou “insegurança jurídica”.
No campo tecnológico, o risco é ainda mais grave. O Brasil é hoje dependente das plataformas digitais controladas por corporações norte-americanas e israelenses para operar serviços críticos: comunicação governamental, segurança pública, publicidade, logística, mídia, processamento de dados e até saúde. Todo o sistema sensível de segurança nacional brasileiro está vulnerável ao apagão informacional caso essas corporações decidam seguir o alinhamento político do governo dos EUA. Basta uma diretriz — um algoritmo derrubado, uma nuvem desabilitada, uma API bloqueada — e o país experimenta o colapso coordenado de suas capacidades de comando e controle.
Na esfera comunicacional, a guerra híbrida atua por meio da desinformação massiva, sabotagem narrativa e manipulação algorítmica do debate público. Plataformas como X (ex-Twitter), Instagram, Facebook, YouTube e WhatsApp são hoje instrumentos diretos de guerra psicológica, utilizados para inflamar ressentimentos, promover o caos simbólico, gerar descrença nas instituições e disseminar discursos antidemocráticos. A direita radical brasileira continua operando com redes de financiamento transnacional, muitas das quais já ligadas a think tanks conservadores dos EUA e de Israel.
No plano jurídico, o lawfare continua sendo usado como instrumento de paralisia política. A tentativa de enquadrar ações legítimas do Estado como abuso de poder, interferência ou censura é parte de um movimento articulado para impedir que o Brasil regule as plataformas e defenda sua soberania informacional. A imposição de barreiras “democráticas” à atuação do STF, da Justiça Eleitoral ou do Congresso visa, em última instância, neutralizar os últimos freios ao avanço do projeto antinacional.
Tudo isso se combina para produzir o que o império deseja: instabilidade crônica, desconfiança generalizada, paralisia decisória e deslegitimação de qualquer projeto de país. O objetivo não é apenas enfraquecer o governo Lula. É impedir que o Brasil se veja como um país capaz de se governar por si. Essa é a lógica do cerco. E ele já está apertando.
O que fazer: Nomear a guerra e mobilizar a nação

Diante da gravidade do cenário, não há mais espaço para ambiguidade. O Brasil precisa compreender que não está diante de uma simples disputa comercial ou de uma divergência diplomática com os Estados Unidos. O que está em curso é uma guerra híbrida de escala total, que combina ataques econômicos, tecnológicos, narrativos, institucionais e jurídicos para enfraquecer a soberania nacional e inviabilizar qualquer projeto de país autônomo. E, como toda guerra, essa também exige reação imediata, estratégica e firme. O primeiro passo é nomear a guerra pelo que ela é. Sem eufemismos. Sem fingir que se trata de uma crise isolada ou de um “desentendimento político”. É preciso dizer em alto e bom som: o Brasil está sob ataque internacional, e esse ataque não tem como alvo um governo ou um líder, mas sim a possibilidade de um Brasil soberano, capaz de decidir seu destino sem tutela estrangeira. Silêncio, hesitação ou discursos moderados só favorecem os agressores.
O segundo passo é preparar a sociedade para tempos muito difíceis. A guerra híbrida é cruel porque atinge a população em múltiplas frentes. Ela se manifesta em aumento da inflação, bloqueios comerciais, sabotagem de cadeias produtivas, instabilidade financeira, cortes de crédito internacional e, no limite, apagões informacionais. É preciso falar a verdade ao povo: os próximos meses serão duros, mas a resistência coletiva e a clareza política são o que pode impedir que o país seja empurrado para o caos e para uma nova submissão histórica. Transparência com o povo é uma arma de defesa nacional.
Em paralelo, o governo precisa agir com força total na frente cultural e comunicacional. A guerra de informação é uma das trincheiras mais importantes do conflito atual, e o Brasil está atrasado nessa arena. É urgente abandonar a comunicação institucional burocrática e criar uma contra-ofensiva simbólica poderosa, que convoque artistas, jornalistas, intelectuais, influenciadores e professores a defenderem a democracia e a soberania brasileira. Essa é uma batalha de narrativas, e não há vitória possível se o país não disputar o imaginário coletivo.
Mas comunicação não basta. É preciso um plano nacional de resiliência estratégica. Isso significa proteger cadeias produtivas essenciais, fortalecer a indústria, investir em ciência e tecnologia, nacionalizar sistemas críticos de dados e infraestrutura digital, proteger juridicamente os ativos brasileiros no exterior e ampliar as reservas cambiais para resistir a ataques financeiros. Também significa intensificar alianças concretas com o Sul Global, com países que compartilham o mesmo desafio de enfrentar um império em decadência, mas ainda extremamente perigoso.
Acima de tudo, o país precisa recuperar o espírito de resistência nacional. Não se trata de um nacionalismo vazio, mas da consciência de que só um povo mobilizado pode impedir que o Brasil seja saqueado e recolonizado. O que está em jogo é a autonomia do país, o futuro das próximas gerações e a dignidade coletiva. Não há espaço para ilusões. O momento exige coragem, clareza e ação.
A tragédia da dependência: O Brasil é um alvo fácil porque sempre foi um país capturado

É necessário dizer, com toda a dureza que a situação exige: mesmo com vontade política, mesmo com lucidez estratégica, o governo brasileiro tem muito pouco espaço real para responder à altura da guerra híbrida que enfrenta. Isso não é resultado de incompetência conjuntural — é o reflexo direto de séculos de subordinação estrutural aos centros imperiais, que transformaram o Brasil em um dos países mais vulneráveis do mundo à interferência externa. A máquina pública brasileira, em quase todas as suas camadas, depende de sistemas, tecnologias, cadeias logísticas, circuitos financeiros e fluxos de informação que não estão sob controle nacional.
Grande parte do sistema de comunicação oficial do Estado depende de plataformas estrangeiras. A nuvem de dados de ministérios, agências e até órgãos de segurança ainda passa por servidores que obedecem legislações de potências rivais. Os sistemas de vigilância e inteligência, em muitos casos, são fornecidos por empresas israelenses ou norte-americanas. A base produtiva nacional foi desmantelada ao longo de décadas de neoliberalismo, e a capacidade de retomar o controle sobre setores estratégicos — como refino de petróleo, semicondutores, fertilizantes, tecnologias militares, biotecnologia, satélites e infraestrutura digital — foi sistematicamente sabotada pelas elites brasileiras e seus aliados externos.
Essa vulnerabilidade não é um acidente — é o projeto. O subdesenvolvimento brasileiro foi planejado e imposto como condição de controle externo. O Brasil foi educado para ser dependente, treinado para ser obediente, programado para não resistir. E essa lógica segue operando dentro do próprio Estado, que ainda está parcialmente capturado por uma burocracia tecnocrática formada sob as cartilhas de Washington, de Harvard, da OCDE, do FMI e da OMC. Até mesmo os softwares utilizados para rodar as planilhas da administração federal são, em sua maioria, licenciados por empresas estrangeiras. O Brasil não controla nem seus próprios dados — quanto mais seus algoritmos, seus fluxos financeiros ou sua infraestrutura crítica.
Portanto, não basta decretar resistência. É preciso compreender que o Estado brasileiro está travado dentro de um modelo estrutural que o impede de se proteger verdadeiramente. E não haverá soberania possível sem ruptura com esse modelo. O enfrentamento à guerra híbrida passa por uma reconstrução profunda: da matriz tecnológica, da cadeia produtiva, do sistema educacional, da cultura institucional e da mentalidade de dependência que ainda domina as decisões estratégicas da República.
Essa é a verdade dolorosa: o Brasil é frágil porque foi desenhado para ser frágil. E se quiser sobreviver a esse novo ciclo de agressão imperial, terá que fazer mais do que reagir — terá que se reinventar. De baixo para cima. De dentro para fora. E com pressa.
Conclusão: O Brasil precisa reagir com estratégia e coragem

O Brasil está em guerra. Mas diferentemente das guerras convencionais, essa não se travará nas fronteiras geográficas, nem poderá ser vencida apenas com diplomacia ou medidas pontuais. Trata-se de uma guerra híbrida e total, conduzida por um império em decadência que não aceita perder o controle sobre uma colônia estratégica que começa a dar sinais de independência. E essa guerra não será vencida apenas com vontade política. A verdade, por mais dura que seja, é que o Brasil está extremamente vulnerável. Décadas — séculos — de subordinação estrutural, dependência tecnológica, sabotagem industrial e desmonte do Estado nacional criaram um país capturado por dentro, onde até os instrumentos de defesa estão, em muitos casos, sob o domínio do próprio agressor.
A máquina pública brasileira opera dentro de infraestruturas, legislações, softwares e lógicas impostas ou tuteladas pelo mesmo império que agora tenta sufocar o país. As decisões estratégicas estão condicionadas por sistemas externos. As redes sociais por onde circula a opinião pública são controladas por empresas estrangeiras. Os dados sensíveis da população estão armazenados fora do alcance do Estado nacional. As elites internas, por sua vez, seguem comprometidas com a lógica do entreguismo e do colaboracionismo. É uma guerra assimétrica, brutal, e o Brasil parte dela com desvantagem histórica.
Ainda assim, é preciso lutar. Porque não lutar significa aceitar o desaparecimento do país como projeto de futuro. E é justamente por sabermos das limitações objetivas do Estado que a luta precisa extrapolar o Estado. Precisamos de uma mobilização nacional que seja também cultural, educacional, tecnológica, territorial e simbólica. Uma nova pedagogia da soberania precisa ser construída em todos os espaços: nas escolas, nas universidades, nas redes, nas artes, nas periferias, no campo, nas cidades, no chão das fábricas, nos gabinetes e nas ruas. Não basta reagir. É preciso reconstruir o país desde sua base.
A guerra já começou. Não virá adiante — ela já está nos estrangulando agora. E quanto mais demorarmos para entender sua natureza, mais avançará a destruição. A geração que vive o Brasil hoje tem diante de si a missão histórica de impedir que esse país se torne irreversivelmente uma colônia digital, energética, cognitiva e informacional. O preço da hesitação é a perda definitiva da soberania. Mas o preço da consciência pode ser o início de uma refundação nacional.
Não se trata de bravata. Trata-se de sobrevivência. O Brasil não pode mais fingir que está em paz. Porque o inimigo já não está mais à porta — ele já opera dentro da casa.
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