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O Retorno da Farda à Política: a engrenagem militar na eleição de 2026

  • Foto do escritor: Rey Aragon
    Rey Aragon
  • há 2 dias
  • 24 min de leitura

A ADESG, o Clube Militar e a velha doutrina de segurança nacional reaparecem como pilares de uma operação silenciosa para manter o poder político nas mãos das elites fardadas, agora sob a máscara da “ordem” e da “segurança”.


Nas sombras dos almoços de confraternização e das palestras sobre “estratégia e defesa”, renasce a velha aliança entre militares e interesses estrangeiros. Às vésperas de 2026, a farda volta a disputar o destino do Brasil — não pelo voto direto, mas pela influência invisível que se infiltra em quartéis, gabinetes e clubes reservados do Rio de Janeiro. O país assiste, mais uma vez, à tentativa de sequestrar a soberania nacional em nome da segurança nacional.

O prelúdio da desestabilização



O Brasil se aproxima de 2026 com o coração dividido entre dois tempos: o passado que insiste em voltar e o futuro que luta para nascer. À primeira vista, o país parece em relativa normalidade institucional, com eleições marcadas e um governo que tenta reconstruir soberania após uma década de ataques híbridos. Mas por baixo da superfície há um movimento subterrâneo — denso, calculado, silencioso — conduzido por redes de poder que nunca aceitaram a perda de influência política e simbólica após a redemocratização. Essas redes hoje se reorganizam para reassumir o controle do Estado, não pela força direta, mas pela sofisticação do discurso, pela manipulação da segurança e pela ocupação sistemática do imaginário nacional.


É nesse terreno que os militares — sobretudo os egressos e simpatizantes da doutrina da Escola Superior de Guerra — voltam a mover suas peças. O que se observa em 2025 não é apenas uma “presença militar” no debate político, mas a tentativa metódica de reinstaurar a velha Doutrina de Segurança Nacional sob novos nomes: “estratégia”, “liderança”, “patriotismo”, “defesa da soberania”. Palavras que, esvaziadas de conteúdo real, servem hoje como senha para uma reaproximação entre o campo militar, setores empresariais e grupos ideológicos alinhados ao projeto da nova direita global.


Essas articulações não acontecem em arenas abertas. Elas se desenrolam nos bastidores de entidades como a ADESG (Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra) e o Clube Militar, que nas últimas décadas se tornaram pontos nodais de uma rede que mistura civis e fardados, nostalgia autoritária e discurso tecnocrático. Ali, almoços e palestras são muito mais que encontros sociais — são células de uma engenharia política que pretende, em 2026, reposicionar o estamento militar como árbitro do destino nacional.


Essa movimentação não se dá isoladamente. Ela dialoga com interesses externos e com a arquitetura global de poder que sempre tratou o Brasil como zona de influência a ser controlada. A retórica da “segurança nacional” reaparece agora como uma cortina de fumaça para legitimar uma nova forma de tutela geopolítica, amparada por acordos de defesa com potências estrangeiras e por think tanks que alimentam o imaginário do “Brasil ameaçado”. O resultado é uma operação de desestabilização inteligente, que busca enfraquecer o campo soberanista e recolocar o país sob a lógica dependente da Guerra Fria — agora digitalizada e revestida de algoritmos.


Enquanto o povo brasileiro tenta reconstruir seu senso de coletividade, uma outra força age para manipular medos, reativar símbolos e fabricar crises. É a velha tática da guerra cultural, agora atualizada para a era da informação: criar pânico moral, desconfiança institucional e sensação de desordem, preparando o terreno para a “salvação patriótica”. Assim, o caminho até as urnas de 2026 se transforma num campo minado, onde cada discurso de “ordem” pode esconder um projeto de dominação, e cada apelo à “segurança” pode ser o prelúdio de uma nova subordinação.


Este é o pano de fundo do artigo.

O Brasil está diante de uma encruzilhada histórica: ou consolida sua soberania informacional e democrática, ou assiste à volta da tutela fardada — agora mais sutil, mais estratégica e muito mais perigosa.

A doutrina que nunca morreu: a ADESG e a sobrevida da Segurança Nacional



A ADESG é, em aparência, uma associação civil sem fins lucrativos, formada por diplomados da Escola Superior de Guerra (ESG) — instituição criada em 1949, inspirada na National War College norte-americana, para preparar quadros civis e militares de “alto nível” nas áreas de defesa e planejamento estratégico. Mas por trás da formalidade burocrática e do jargão institucional repousa uma máquina de formação ideológica que nunca se desativou. A ADESG é, desde sua origem, o fio invisível que mantém viva a lógica da Doutrina de Segurança Nacional (DSN) — a matriz conceitual que estruturou o regime militar de 1964 e que, de forma mais sutil, ainda orienta setores da elite brasileira.


A DSN nasceu na Guerra Fria, sob o signo do anticomunismo e da ideia de que “a segurança do Estado” justificava qualquer sacrifício da democracia. A ESG traduziu essa doutrina para o contexto brasileiro e a expandiu para além dos quartéis, criando uma elite civil-militar que acreditava ter missão patriótica de conduzir a nação. A ADESG foi o braço difusor dessa ideologia: sua função era levar a doutrina para a sociedade, formando prefeitos, juízes, empresários, jornalistas e oficiais da reserva — uma teia de influência que misturava tecnocracia, hierarquia e fé no Estado forte. Era o Brasil tutelado, racionalizado e obediente.


Com o fim formal da ditadura, esperava-se que a DSN se dissolvesse como um resquício histórico. O que ocorreu foi o oposto. A ADESG sobreviveu com aparência de neutralidade e reinventou seu discurso. A palavra “segurança” deu lugar a “estratégia”; o “inimigo interno” virou “ameaça híbrida”; e o “combate ao comunismo” se travestiu em “defesa dos valores morais e espirituais da nacionalidade”. A linguagem mudou, mas o núcleo duro permaneceu: o medo como ferramenta política e a convicção de que a sociedade precisa ser conduzida por uma elite esclarecida — a mesma que se reúne em clubes, auditórios e jantares para decidir o futuro sem o povo.


A rede ADESG é hoje uma estrutura capilarizada com delegacias em quase todos os estados. Seus cursos de Estudos de Política e Estratégia (CEPE) continuam a formar centenas de alunos por ano, muitos dos quais ocupam cargos em secretarias de segurança, órgãos públicos e gabinetes legislativos. São treinados em discursos sobre “defesa nacional”, “geopolítica” e “liderança estratégica”, mas raramente discutem soberania informacional, dependência tecnológica ou justiça social. A formação é tecnocrática, elitista e alinhada a uma visão de mundo que separa “os que sabem” dos “que obedecem”.


Nos últimos anos, especialmente após 2018, a ADESG voltou a frequentar o noticiário político de forma sutil. Eventos de “confraternização” no Clube Militar, como o programado em 2025 com o deputado Alan Lopes (PL-RJ), expõem o grau de entrelaçamento entre o ambiente militar e o campo político da nova direita. Ali, entre taças de vinho e discursos de “amor à pátria”, discutem-se estratégias eleitorais, planos de influência e narrativas públicas que orbitam a campanha de 2026.


Esses encontros seguem um ritual antigo: o mesmo formato dos jantares da década de 1970, quando generais e empresários traçavam o destino do país longe das câmeras e das urnas. O que antes se fazia em nome do combate ao comunismo, hoje se faz em nome da “luta contra a desinformação”, da “defesa da ordem” e da “estabilidade institucional”. O vocabulário se sofisticou, mas o objetivo é o mesmo — manter o poder decisório nas mãos de quem nunca renunciou ao direito de mandar.


Há uma ironia histórica cruel nisso: a ADESG se apresenta como defensora da soberania nacional, mas a própria ESG — sua origem doutrinária — foi concebida sob influência direta do aparato militar dos Estados Unidos, como parte da estratégia hemisférica da Guerra Fria. Em nome da “segurança nacional”, importou-se a lógica da dependência. E agora, em nome da “defesa da pátria”, mantém-se viva uma estrutura mental que subordina o Brasil a paradigmas estrangeiros. É a contradição perfeita: os autoproclamados patriotas que, na prática, são os agentes da tutela.


Em 2026, essa contradição volta ao centro do tabuleiro. A ADESG, com seus cursos, palestras e conexões políticas, cumpre um papel crucial na reorganização simbólica da presença militar no Estado. Não se trata de uma conspiração aberta, mas de algo mais sofisticado: a lenta normalização do militarismo como cultura política.

Uma cultura que, disfarçada de civismo e disciplina, tenta convencer a sociedade de que democracia é sinônimo de instabilidade, e que estabilidade só existe sob comando — de preferência, de quem veste a farda, mesmo que metaforicamente.

A engrenagem institucional: Clube Militar, delegacias e a farda política



Nenhum projeto político de longa duração sobrevive sem infraestrutura. No caso da rede militar-civil que se recompõe no Brasil às vésperas de 2026, essa infraestrutura não está nas ruas, mas em edifícios discretos, com brasões dourados e retratos de generais nas paredes. O mais emblemático deles é o Clube Militar, especialmente sua Sede Lagoa, no bairro do Jardim Botânico, no Rio de Janeiro — endereço fixo e simbólico da elite fardada desde o início do século XX. É ali que a farda se converte em status, onde o discurso da “ordem” se confunde com o da superioridade moral, e onde o Brasil político encontra, mais uma vez, o Brasil militar.


Os convites para os almoços por adesão que ocorrem regularmente nesse espaço são simples, quase banais: um e-mail, uma mensagem no WhatsApp, um banner com o nome do palestrante e a inscrição “por adesão – R$ 100”. À primeira vista, parecem eventos sociais inofensivos. Mas quem frequenta sabe que são o coração pulsante da política paralela dos fardados. O convite mais recente, com o deputado Alan Lopes (PL-RJ) como palestrante, ilustra a simbiose perfeita entre o poder militar, o discurso de segurança pública e o campo político da nova direita. O Clube Militar, nesse contexto, cumpre a função que outrora coube aos salões do Itamaraty: é o espaço onde se forja consenso entre elites, agora reeditado com a liturgia do “patriotismo”.


Esses encontros se conectam diretamente às delegacias da ADESG, que funcionam como células regionais de difusão doutrinária. Elas mantêm cursos, reuniões e “formações de liderança” que misturam civis, oficiais da reserva e figuras do empresariado local. Cada delegacia é um pequeno centro de poder, com acesso a redes de influência e a circuitos de financiamento. É ali que se produzem as microestratégias de ocupação — o passo a passo da penetração da ideologia securitária em secretarias municipais, câmaras de vereadores e conselhos estaduais. O poder fardado aprendeu a ser capilar.


A lógica é simples: cada curso do CEPE forma dezenas de “lideranças estratégicas” que, de volta aos seus estados, reproduzem a doutrina da ESG com a mesma disciplina hierárquica das Forças Armadas. Em 2025, o curso do Rio Grande do Sul chegou a incluir uma palestra intitulada “Do Trono ao Algoritmo: eleições de 2026 e o novo campo de batalha informacional” — uma formulação que mostra como o debate eleitoral foi incorporado à pauta da rede. O tema da segurança cibernética, do combate à desinformação e da defesa das “valores nacionais” serve, na prática, como código para a disputa política em torno da própria democracia.


O Clube Militar, por sua vez, é o grande santuário dessa estrutura. Ele sobreviveu à ditadura, à redemocratização, à Lava Jato e ao bolsonarismo sem jamais perder sua aura de legitimidade. Suas dependências são o ponto de convergência entre a velha guarda dos generais de pijama e a nova geração de oficiais que ingressou nas redes digitais com discurso de “patriotismo 4.0”. O prédio da Lagoa é, simultaneamente, memorial, think tank e QG. Nele, discursos são testados, alianças são seladas e narrativas são calibradas para circular com aparência de normalidade institucional. O que se discute ali ecoa, dias depois, nas redes sociais, em podcasts militares, em colunas de opinião e, em breve, nas campanhas eleitorais.


É assim que a farda se torna metonímia da política. Os eventos do Clube Militar e as delegacias da ADESG são o teatro da continuidade — a persistência de uma elite que se recusa a aceitar a democratização plena do poder. Eles não conspiram no sentido clássico: conspiram por meio da rotina. A força dessa engrenagem está exatamente na aparência de normalidade, no ritual repetido, na liturgia da hierarquia. É um poder que não precisa de tanques; basta-lhe a influência social, o prestígio histórico e a capacidade de falar em nome da pátria.


Esse ecossistema é o elo entre o passado e o presente: o mesmo espírito de tutela, agora digitalizado e travestido de tecnocracia. O militarismo que antes se impunha pela força bruta hoje se manifesta como gestão eficiente, discurso meritocrático e suposta neutralidade técnica. É a reconquista simbólica do Estado pela via da legitimidade moral. A farda, ainda que pendurada no armário, continua sendo o uniforme invisível de uma elite que nunca saiu do poder — apenas aprendeu a se reinventar.

A nova frente civil: think tanks, igrejas e a economia do medo



Nenhuma engrenagem de poder sobrevive sem um discurso que a justifique. As redes militares que se rearticulam para 2026 compreenderam isso cedo: não basta vestir a farda — é preciso vestir ideias. E para isso, contam com uma frente civil sofisticada, que vai muito além das paredes do Clube Militar ou das delegacias da ADESG. Essa frente é composta por think tanks, institutos empresariais, organizações religiosas e meios de comunicação alternativos, todos convergindo num mesmo eixo: a defesa da “ordem” e dos “valores nacionais” contra um inimigo difuso — ora a corrupção, ora o comunismo, ora o “globalismo” e, mais recentemente, a própria ideia de Estado soberano.


É nesse ambiente que florescem entidades como o Instituto Millenium, o Instituto Liberal, o Instituto Sagres, o Centro de Liderança Pública, entre outros. Formalmente dedicados à “formação de líderes” e à “difusão de conhecimento econômico”, eles funcionam como plataformas de doutrinação civil. São os equivalentes ideológicos da ADESG: organizam seminários, produzem relatórios e criam cursos que moldam a elite política e empresarial do país dentro de uma mentalidade de Estado mínimo, segurança máxima e mercado absoluto.


Esses institutos são a expressão moderna da velha Doutrina de Segurança Nacional, reescrita em linguagem neoliberal. O “inimigo interno” deixou de ser o comunista e passou a ser o Estado social, a regulação pública, a redistribuição de renda e qualquer projeto de autonomia nacional que desafie o capital financeiro global. A política de “segurança e desenvolvimento” da ADESG se reconfigura aqui como “liberdade econômica e empreendedorismo”, mas o objetivo é o mesmo: concentrar poder nas mãos de uma elite tecnocrática capaz de decidir o destino do país sem o incômodo da participação popular.


A partir de 2015, essa frente civil passou a operar em convergência com o neopentecostalismo político, criando uma simbiose quase perfeita entre fé e doutrina de segurança. Igrejas de alcance nacional transformaram púlpitos em palanques, consolidando a moral cristã como critério de governabilidade. A disciplina militar encontrou eco na disciplina religiosa: ambos pregam obediência, hierarquia, autoridade e punição. O soldado e o fiel se tornaram imagens complementares de uma mesma pedagogia social — a que ensina que liberdade é submissão e que a ordem vem antes da justiça.


Essa fusão entre mercado, farda e altar produziu um novo tipo de poder: uma hegemonia moral-econômica sustentada pelo medo. O medo do caos, o medo do “outro”, o medo do futuro. É o medo que justifica a presença militar nas ruas, o corte nos programas sociais, o desmonte da ciência e o ataque à imprensa. É o medo que legitima a ideia de que o Brasil precisa de “gestão militarizada” para se salvar de si mesmo. Esse é o coração da economia do medo — um sistema em que o medo é produzido, distribuído e consumido como ativo político.


As redes sociais foram o meio perfeito para isso. Nelas, os discursos construídos por think tanks e propagados por lideranças religiosas são amplificados por influenciadores que misturam devoção e doutrina. O algoritmo se torna o novo capelão da guerra cultural: ele distribui o pânico, recompensa o extremismo e transforma desinformação em senso comum. Em poucos segundos, uma narrativa lançada num grupo de Telegram pode percorrer o mesmo caminho simbólico que antes exigia décadas de propaganda.


O que nasce dessa convergência é um tipo de totalitarismo líquido, sem tanques nas ruas, sem censura formal, mas com uma dominação mental difusa e contínua. É o regime do medo permanente, administrado por CEOs, generais aposentados e pastores milionários. Um tripé de poder que substitui a ideologia por moralismo, a política por gestão e a democracia por eficiência. É a tradução contemporânea da doutrina de segurança nacional para o capitalismo digital.


E o mais inquietante: tudo isso se articula em torno de um discurso de salvação.

Salvação moral. Salvação econômica. Salvação espiritual.

É o mesmo mecanismo psicológico que sustentou regimes autoritários em diferentes épocas: criar o caos e depois oferecer-se como solução. O que está em jogo nas eleições de 2026 não é apenas quem governa, mas quem define o que é o bem e o que é o mal, o que é o Brasil e o que é o inimigo.


O campo soberanista, que defende um projeto de desenvolvimento autônomo, tecnológico e popular, enfrenta não apenas adversários políticos, mas uma estrutura transnacional de poder simbólico. E nessa estrutura, o militarismo, o fundamentalismo e o ultraliberalismo caminham de mãos dadas — travestidos de civismo, patriotismo e fé.


Essa é a nova frente civil da guerra híbrida brasileira: uma coligação invisível entre a farda, o mercado e o altar. E dela emerge a base psicológica e moral para o que veremos nos próximos meses — a disputa mais profunda da história brasileira: a batalha pelo significado da palavra “pátria”.

O vetor externo: EUA, OTAN e a doutrina importada



Nenhuma doutrina de segurança nacional é puramente nacional. Toda formulação estratégica carrega a assinatura de quem domina o tabuleiro global no momento de sua criação. No caso brasileiro, essa assinatura tem endereço certo: Washington. Desde a fundação da Escola Superior de Guerra (ESG) em 1949, o Brasil foi incorporado à arquitetura hemisférica de segurança dos Estados Unidos. A Doutrina de Segurança Nacional — base teórica que moldou a ADESG e orientou o regime de 1964 — nasceu de uma simbiose entre o Pentágono, a CIA e as elites brasileiras que viam no alinhamento com o Norte a garantia de estabilidade e poder.


O fim formal da Guerra Fria não encerrou essa dependência. Apenas a reconfigurou. Sob a linguagem da globalização e da “cooperação estratégica”, o Brasil passou, nas últimas duas décadas, a firmar uma série de acordos que aprofundaram a penetração doutrinária e tecnológica das potências ocidentais em seu sistema de defesa.

O mais emblemático foi o Acordo de Salvaguardas Tecnológicas (TSA), assinado em 2019, que permitiu o uso da Base de Alcântara por empresas e agências norte-americanas. O documento foi apresentado como símbolo de modernização, mas na prática estabeleceu restrições à presença brasileira em áreas sob controle tecnológico estrangeiro. O solo é brasileiro, mas o código é estrangeiro — e, na guerra contemporânea, quem controla o código controla o território.


Poucos meses depois, o Brasil foi designado “Major Non-NATO Ally” (MNNA) — um título diplomático que, sob aparência de prestígio, reforça a assimetria. O MNNA não torna o Brasil aliado igualitário, mas o insere como país dependente do ecossistema militar-industrial norte-americano, sem voz nos processos decisórios da OTAN, mas com deveres implícitos de alinhamento político. É a velha tática imperial travestida de cooperação: transformar o parceiro em satélite.

Em 2020, a assinatura do Acordo de Pesquisa, Desenvolvimento, Teste e Avaliação (RDT&E) completou o cerco. O texto prevê o intercâmbio de tecnologias de defesa, mas também a transferência de protocolos, linguagens e metodologias — isto é, a importação da mentalidade estratégica. A ESG e a ADESG passaram a integrar programas de “cooperação acadêmica” com centros militares estrangeiros, muitos deles vinculados diretamente ao Departamento de Defesa dos EUA.


Essa penetração não se restringe à tecnologia militar. Ela atinge o campo simbólico e cognitivo. Oficiais e civis formados nesses cursos absorvem uma visão de mundo em que o Ocidente é o centro da racionalidade e o Sul Global é o espaço a ser tutelado. É a colonização da mente estratégica, um processo sutil e persistente que molda gerações de quadros administrativos e de defesa.

A consequência disso é dupla: enfraquece o pensamento soberano e fortalece a ideia de que a segurança nacional depende da obediência internacional. O Brasil, que deveria ser formulador de doutrina, tornou-se consumidor de doutrina — replicando em português os manuais de contenção e vigilância produzidos em inglês.


Nos bastidores da campanha de 2026, esse vetor externo reaparece sob nova forma. Grupos civis e militares influenciados por essas cooperações se apresentam como “defensores da soberania”, mas seus discursos ecoam os manuais estratégicos da OTAN. Falam em “ameaças híbridas”, “cibersegurança” e “guerra informacional”, mas suas soluções passam por contratar consultorias estrangeiras, importar softwares de vigilância e replicar estruturas de comando externas.

É o paradoxo da dependência: os que mais bradam por “soberania” são, muitas vezes, os mais subjugados por interesses geopolíticos externos.


A relação entre a ADESG e esse ambiente é direta. Muitos dos seus egressos participam de fóruns internacionais financiados por fundações e empresas estrangeiras. Outros atuam em consultorias privadas que intermediam contratos de defesa. A retórica nacionalista serve como verniz para a internacionalização dos negócios da segurança. Assim, a “defesa da pátria” se transforma em modelo de exportação — e o patriotismo em produto.


Essa teia de dependência não se impõe pela força, mas pela narrativa.

Ao convencer a sociedade de que o Brasil precisa “se proteger”, o discurso securitário legitima a importação de doutrinas, tecnologias e alianças que, na prática, reduzem nossa autonomia. A guerra híbrida que se anuncia para 2026 não é apenas política: é também epistêmica.

A verdadeira disputa é por quem define o que é “segurança”, quem decide de quem devemos nos defender e quem lucra com esse medo.


A linha que conecta a ADESG, o Clube Militar e os acordos internacionais é nítida: todos operam sob a mesma gramática de tutela. Uma tutela que começou com o anticomunismo, atravessou o neoliberalismo e agora se disfarça de “integração estratégica”.

O inimigo já não é o comunismo — é a autonomia.

E é contra ela que se move, hoje, a mais silenciosa e sofisticada ofensiva da história republicana.

As forças de segurança como instrumento político



Nenhum regime autoritário nasce de um golpe súbito — ele amadurece na sombra da legalidade. E é justamente nesse espaço ambíguo que o Brasil contemporâneo viu florescer uma das mais perigosas mutações institucionais desde 1988: a transformação das forças de segurança em atores políticos autônomos, movidos por ideologia, ressentimento e lealdades paralelas.


O processo não começou ontem. Desde as manifestações de 2013, o país viveu um deslocamento simbólico do papel das forças policiais e militares. O discurso de “combate à corrupção” e “ordem nas ruas” serviu como prelúdio para uma nova cultura política — a cultura da farda opinativa. O militar e o policial deixaram de ser agentes do Estado e passaram a ser agentes de narrativa. Tornaram-se figuras públicas, influenciadores digitais, comentaristas, candidatos, mártires de um suposto “Brasil traído” pelas instituições civis.


A politização das Polícias Militares é o exemplo mais evidente desse fenômeno. A partir de 2018, multiplicaram-se as candidaturas de oficiais da ativa e da reserva, apoiadas por igrejas, empresários e think tanks conservadores. O lema “Deus, Pátria e Família” voltou à praça pública como plataforma eleitoral, reciclado do autoritarismo de 1964 e embrulhado em memes patrióticos. O resultado foi a criação de um exército informal — disciplinado, armado e ideologicamente homogêneo — infiltrado nas estruturas civis do Estado.


O 7 de Setembro de 2021 foi o ápice dessa mutação: policiais militares da ativa marcharam ao lado de manifestantes pedindo intervenção militar, enquanto governadores e comandantes fingiam não ver. Ali se consolidou o ensaio geral do que viria a ser o 8 de Janeiro de 2023, quando civis e militares de diferentes patentes protagonizaram o maior ataque institucional desde o golpe de 1964.

Os inquéritos da CPMI do 8 de Janeiro e da Operação Lesa Pátria revelaram uma teia complexa de conivência e omissão — uma hierarquia de solidariedades paralelas que liga quartéis, grupos digitais e lideranças políticas.

Não se tratou de insubordinação isolada, mas de um projeto político com base moral, rede logística e discurso próprio.


Esse projeto não desapareceu com a derrota eleitoral da extrema-direita em 2022; apenas mudou de forma.

Hoje, ele se expressa em três frentes complementares:


1 - A institucionalização do ressentimento –

Nos bastidores das corporações, discursos sobre “injustiça contra os patriotas de 8 de janeiro” e “perseguição política” circulam livremente. A anistia moral está em curso, preparando terreno para uma eventual reintegração simbólica desses agentes ao cenário de 2026.


2 - A militarização da gestão civil –

Em secretarias, autarquias e governos estaduais, egressos da ADESG e oficiais da reserva continuam a ocupar cargos-chave. São os operadores da “nova tecnocracia fardada”: gestores treinados na linguagem da eficiência e da hierarquia, mas profundamente ideologizados. É o autoritarismo em traje administrativo, difícil de perceber e ainda mais difícil de combater.


3 - A reconfiguração do inimigo interno –

A guerra cultural criou uma nova figura de ameaça: o “infiltrado”, o “agente comunista”, o “inimigo da pátria”. Essa retórica, reproduzida em grupos de WhatsApp de PMs e oficiais da reserva, transforma opositores políticos e jornalistas em alvos simbólicos. O campo da informação se tornou o novo campo de batalha — e o policial, o novo soldado da narrativa.


Essas três frentes convergem em 2026.

A politização das forças de segurança cria as condições ideais para o que estrategistas chamam de lawfare híbrido: o uso seletivo da lei, da ordem e da moral para perseguir adversários e criar a sensação de colapso institucional. O mesmo aparato que deveria proteger o Estado pode, se mal orientado, ser usado para testar os limites da democracia.


A memória do 8 de Janeiro ainda paira como espectro. Nenhum governo que subestime o poder simbólico das forças de segurança sobreviverá incólume à próxima tempestade. Os quartéis, as PMs e as associações de egressos são, hoje, nós estruturais de poder narrativo. Controlar sua lealdade política é mais importante do que controlar seus armamentos. A guerra de 2026 será travada na mente dos fardados — e, por extensão, na percepção do povo que ainda os vê como heróis.


Há, no entanto, uma diferença crucial entre o militarismo de 1964 e o de 2025: o atual não precisa de tanques. Ele tem hashtags, podcasts, armas semióticas e a legitimidade conferida pelo medo.

É o autoritarismo de baixa intensidade, eficiente, inteligente e difuso.

Um autoritarismo que não se impõe pela força, mas pela crença — e nada é mais perigoso do que uma farda que acredita estar salvando o país enquanto destrói sua democracia.

O plano de 2026: a reconfiguração do poder



O Brasil caminha para as eleições de 2026 como quem atravessa um campo minado em silêncio. A cada passo, um ruído institucional, uma faísca informacional, uma crise fabricada. O que se desenha diante dos olhos é mais do que uma disputa eleitoral — é uma operação estratégica de longo alcance que busca reconfigurar o poder político, simbólico e cognitivo do país. Uma operação que não nasce de improviso, mas da paciência de uma rede que soube sobreviver às derrotas, aprender com as vitórias alheias e esperar o momento certo para agir novamente.


Tudo o que se viu nos últimos anos — dos jantares da ADESG às marchas policiais de 2021, dos acordos militares com potências estrangeiras às campanhas moralistas travestidas de fé — converge para um mesmo eixo: a retomada do Estado pelo campo militar e seus aliados civis. A diferença é que, desta vez, a tática é híbrida. Não se trata de um golpe clássico, mas de um processo de erosão e substituição: infiltrar, desmoralizar, ocupar, normalizar.


O plano de 2026 não se organiza em uma cadeia de comando formal, mas em uma sinergia de sistemas. Ele opera de maneira distribuída, como um enxame, conectando atores autônomos que compartilham uma mesma gramática — a da tutela moral, da autoridade técnica e do inimigo permanente.


  • A ADESG fornece a doutrina e o senso de missão.

  • O Clube Militar oferece o palco e a legitimidade histórica.

  • Os think tanks liberais produzem o verniz intelectual e econômico.

  • As igrejas e mídias conservadoras fabricam o cimento emocional.

  • E as forças de segurança garantem a capilaridade operacional — a capacidade de agir nos territórios, nas redes e nas consciências.


É uma estrutura que lembra a doutrina da guerra híbrida: múltiplos vetores atuando de forma coordenada, mas sem comando aparente, para desgastar e confundir o inimigo. O campo soberanista — representado por movimentos sociais, universidades, sindicatos e forças progressistas — é o alvo principal dessa estratégia. A meta é minar sua credibilidade, fragmentar suas bases e sequestrar sua linguagem. O discurso da “pátria” é apropriado, a bandeira é rebatizada, o vocabulário da soberania é esvaziado de conteúdo e devolvido como mercadoria simbólica ao povo.


Por isso, o combate de 2026 será travado no território mais volátil de todos: a opinião pública digital. É ali que o militarismo se reinventa, agora como estética e algoritmo. Não há mais quartel: há canal no YouTube. Não há mais ordem unida: há engajamento. O novo sargento é o influenciador; o novo tanque é o trending topic. As antigas campanhas de “segurança nacional” se transformaram em campanhas de desinformação, calibradas por psicologia comportamental, financiadas por grupos econômicos e amplificadas por redes automatizadas. A guerra, que antes se travava por controle territorial, agora se decide pela hegemonia da percepção.


No interior do Estado, essa ofensiva assume outra forma: a ocupação burocrática. Oficiais da reserva e egressos da ADESG assumem cargos em áreas estratégicas — comunicação, segurança, defesa civil, energia, planejamento. Levam consigo uma agenda silenciosa: moldar o Estado a partir da lógica hierárquica, travar decisões em nome da “técnica” e sabotar a política em nome da “eficiência”. É o autoritarismo burocrático, invisível, asséptico, que transforma o funcionalismo em trincheira ideológica.


Há ainda o componente internacional. As tensões entre o governo brasileiro e setores da extrema-direita global — notadamente os Estados Unidos trumpistas, Israel e redes empresariais transnacionais — criam o ambiente ideal para operações de desestabilização. Sanções comerciais, campanhas de difamação, pressões diplomáticas e manipulação de fluxos informacionais compõem o arsenal externo dessa guerra. O Brasil é hoje, mais do que nunca, um campo de disputa entre soberania e subordinação — e 2026 será o ponto de inflexão dessa luta.


Tudo indica que o plano de reconfiguração do poder segue uma lógica clara:

  1. Provocar instabilidade controlada, com crises fabricadas, narrativas de caos e deslegitimação das instituições.

  2. Reforçar a presença moral do militarismo como “força estabilizadora”, apresentando-o como antídoto contra o desgoverno e o populismo.

  3. Capturar o discurso da pátria e da soberania, para esvaziar o campo progressista e confundir o eleitorado.

  4. Ocupar o Estado e o espaço informacional, assegurando que, independentemente do resultado eleitoral, o poder real continue nas mesmas mãos.


A disputa de 2026, portanto, será o teste final da democracia brasileira. Não apenas pela possibilidade de retorno de um projeto autoritário, mas pela consolidação de um novo tipo de dominação — uma que não se impõe pela força, mas pela narrativa, pela gestão e pela moral. Se vencer, essa rede consolidará um modelo de Estado militarizado, tutelado e submisso às potências estrangeiras; se perder, tentará sabotar, bloquear e deslegitimar qualquer avanço popular.


Eis o paradoxo: enquanto o povo se prepara para votar, o poder paralelo já está votando — diariamente, nas redes, nos gabinetes, nos quartéis e nas igrejas.2026 não será apenas uma eleição. Será um plebiscito entre soberania e tutela, entre desenvolvimento e submissão, entre o Brasil real e o Brasil inventado pela guerra híbrida.

Soberania ou tutela: o dilema brasileiro



Há dois tipos de patriotismo no Brasil contemporâneo — um que veste a farda e outro que constrói o país. Um é ruidoso, performático, feito de slogans e bandeiras nas janelas; o outro é silencioso, feito de laboratórios, livros, cooperativas e políticas públicas. O primeiro fala em nome da pátria, mas serve a interesses que ultrapassam as fronteiras; o segundo é acusado de traição por ousar defender o Brasil real — o Brasil que pensa, trabalha e deseja decidir o próprio destino. Essa é a tragédia histórica da elite militar e empresarial brasileira: confundir soberania com obediência e independência com isolamento.


O Brasil de 2026 é o campo de batalha onde esses dois patriotismos se enfrentam. De um lado, o nacionalismo de fachada, herdeiro da Doutrina de Segurança Nacional, que enxerga o povo como ameaça e o estrangeiro como tutor. Ele se alimenta de símbolos esvaziados e de uma retórica mística que promete ordem, disciplina e prosperidade sob comando. Do outro lado está o soberanismo autêntico, que entende a independência não como isolamento, mas como capacidade de decidir, produzir, comunicar e proteger o próprio território — físico, tecnológico e cognitivo. A diferença entre eles é estrutural: o nacionalismo de quartel é vertical, autoritário e depende da perpetuação do medo; o soberanismo é horizontal, democrático e nasce da confiança coletiva. Um produz dependência; o outro produz autonomia. Enquanto o primeiro busca a tutela — dos generais, das potências e do capital financeiro —, o segundo luta pela emancipação das ideias, da tecnologia, da informação e da consciência nacional.


Essa disputa atravessa todas as instituições brasileiras. No campo militar, ela aparece como a tensão entre os que defendem um Brasil integrado aos blocos soberanos do Sul Global — como os BRICS — e os que ainda veem na OTAN o farol civilizatório. Na economia, manifesta-se na oposição entre o desenvolvimento produtivo e a especulação financeira. Na política, entre o Estado social e o Estado policial. E na cultura, entre a pedagogia da obediência e a pedagogia da liberdade. É uma luta transversal, contínua e decisiva, que define não apenas o destino político do país, mas sua própria identidade civilizatória.


A guerra híbrida que se desenrola no Brasil não é apenas uma guerra de informação; é uma guerra de ontologia. Trata-se de uma disputa sobre o que o Brasil é, quem o define e para quem ele existe. Se a tutela vencer, o país se tornará um laboratório colonial permanente — um território aberto à extração de dados, minérios e subjetividades. Mas se a soberania triunfar, o Brasil poderá, pela primeira vez desde 1822, cumprir o sonho de tornar-se um projeto civilizatório autônomo, capaz de criar conhecimento, tecnologia e cultura não apenas para servir ao mundo, mas para liderá-lo. Esse é o verdadeiro significado do desenvolvimento: a conquista da liberdade material e simbólica, o poder de decidir sobre o próprio destino.


A escolha, portanto, é existencial. Não há neutralidade possível entre soberania e tutela. Os que acreditam poder “ficar no meio” já escolheram, ainda que inconscientemente, o lado da submissão. O império não exige lealdade — exige silêncio. E é esse silêncio, confortável e covarde, que a extrema-direita tenta restaurar sob o nome de “paz”. O Brasil precisa, mais do que nunca, recuperar o sentido de autodeterminação cognitiva. Sem soberania informacional, não há soberania territorial; sem soberania tecnológica, não há desenvolvimento; e sem soberania simbólica, não há povo. Essa é a fronteira final da disputa — o território da mente, onde se decide o futuro da nação. Em 2026, o voto será apenas o gesto visível; a verdadeira batalha será invisível, travada nas narrativas, nas redes, nas universidades, nas redações e nas trincheiras digitais onde se defende a democracia do século XXI.

A trincheira democrática



A democracia brasileira sempre foi um ato de resistência. Nunca nos foi concedida: foi conquistada a duras penas, entre corpos, prisões e palavras censuradas. E é precisamente por ter nascido da luta que ela se mantém viva apenas quando é defendida. Em 2026, essa verdade volta a bater à porta da história. O país entra em um novo ciclo de confronto — menos visível, mas tão brutal quanto os anteriores — em que o inimigo não carrega fuzis, mas algoritmos; não veste uniforme, mas terno e toga; e não toma o poder de assalto, mas o ocupa lentamente, pelo cansaço e pela confusão.


A trincheira agora é outra. Ela não está mais nas praças, mas nas mentes. Cada cidadão consciente é uma fortificação simbólica. Cada educador, pesquisador, jornalista, artista ou servidor público é uma linha de defesa do território cognitivo da nação. A guerra híbrida que nos cerca não se combate com armas, mas com lucidez. E lucidez, em tempos de manipulação, é o mais subversivo dos atos. O primeiro passo para derrotar o autoritarismo é nomeá-lo — revelar seus mecanismos, suas máscaras, suas estratégias de sedução. O segundo é construir inteligência coletiva, fortalecendo as redes democráticas de informação, educação e cultura.


A extrema-direita entende algo que os democratas ainda subestimam: a batalha política contemporânea é uma disputa de percepção. Quem controla o medo controla o voto. Quem manipula o algoritmo manipula o destino. Por isso, não basta denunciar o autoritarismo — é preciso disputar a linguagem, a emoção e o imaginário popular. É preciso reocupar as palavras sequestradas — “pátria”, “fé”, “liberdade” — e devolvê-las ao povo com seu verdadeiro significado. Isso não é apenas uma tarefa intelectual: é uma guerra de sentido, uma luta pela alma coletiva da nação.


Mas a defesa da democracia não se faz apenas com discurso. Ela exige estratégia, método e coragem institucional. O Brasil precisa de soberania informacional — leis que protejam nossos dados, fortaleçam a comunicação pública e limitem o poder extraterritorial das big techs. Precisa também de soberania tecnológica, investindo em pesquisa pública, software livre, infraestrutura nacional e inteligência artificial com ética e transparência. E precisa, acima de tudo, de soberania simbólica: o direito de narrar a si mesmo, de ser protagonista de sua própria história, sem mediações coloniais.


A trincheira democrática é o lugar onde a ética encontra a estratégia.

É o espaço onde se entende que o combate à desinformação não é uma tarefa técnica, mas política; que o enfrentamento à tutela militar não é um gesto de ruptura, mas de maturidade civilizatória; e que a defesa da liberdade não é um valor abstrato, mas um exercício cotidiano de responsabilidade coletiva. A democracia não se salva por decreto — ela se salva pela coragem de quem a sustenta quando o medo tenta substituí-la pela obediência.


Em 2026, cada voto será um ato de soberania, mas cada silêncio será uma forma de rendição. Não há neutralidade possível entre a democracia e a tutela, entre a liberdade e o controle. O Brasil tem diante de si a chance de romper, definitivamente, o ciclo histórico de subordinação — militar, econômica, tecnológica e mental. E isso só acontecerá se entendermos que a trincheira democrática é, antes de tudo, uma trincheira cognitiva: a linha final que separa o país da servidão informacional e do apagamento simbólico.


O que está em jogo é mais do que um governo — é o futuro da consciência nacional. E quem compreende isso não tem o direito de assistir calado.

Porque toda vez que o Brasil silencia, alguém escreve sua história em outro idioma.

Desta vez, é preciso escrever em voz alta — e em português soberano.

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