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Quem governa o ciberespaço: EUA, Sul Global e a disputa pela soberania digital

  • Foto do escritor: Rey Aragon
    Rey Aragon
  • há 17 horas
  • 13 min de leitura

Os Estados Unidos articulam uma rede global de normas, fundos e pressões para controlar o futuro da internet, da inteligência artificial e do 6G. A China e o Sul Global respondem com uma proposta multipolar de governança que defende soberania, igualdade e multilateralismo.


Por trás da retórica de “segurança” e “redes confiáveis”, trava-se uma guerra silenciosa pelo comando do ciberespaço e das tecnologias emergentes. Washington mobiliza diplomacia, lobby das big techs e instrumentos jurídicos para ditar padrões e restringir alternativas. Pequim lança a Iniciativa de Governança Global, convocando países em desenvolvimento a exigir voz própria nas regras digitais. O Brasil está no centro desse embate: entre a chance de ser protagonista de uma governança justa e o risco de virar colônia digital de interesses externos.

A guerra invisível do ciberespaço



Na manhã de 17 de junho de 2025, a Costa Rica acordou com os serviços públicos fora do ar. Hospitais, escolas e repartições estavam paralisados, reféns de um ataque cibernético coordenado. Em poucas horas, Washington anunciou um pacote emergencial de 25 milhões de dólares para reconstruir a defesa digital do país. À primeira vista, parecia solidariedade. Mas por trás do socorro imediato havia algo maior: a consolidação de uma nova forma de poder global, em que assistência técnica, normas jurídicas e pressões comerciais se combinam para ditar quem terá voz — e quem será silenciado — no futuro digital do planeta.


Esse episódio não é isolado. Ele simboliza uma engrenagem muito mais ampla, comandada pelos Estados Unidos, que nas últimas décadas deixaram de ver a internet como espaço aberto e passaram a tratá-la como território estratégico, comparável ao mar, ao espaço aéreo ou ao campo nuclear. Hoje, quem governa o ciberespaço governa também fluxos de dados, cadeias de suprimento, inteligência artificial e, por consequência, a própria economia global. O que está em jogo não é apenas tecnologia: é soberania, democracia e futuro.


Enquanto isso, o Brasil — assim como outras nações do Sul Global — se vê no centro dessa disputa. De um lado, sofre pressão direta de Washington: uma investigação comercial sob a Seção 301 ameaça suas tentativas de regular plataformas digitais e taxar big techs. De outro, recebe “cooperação jurídica” via promotores americanos instalados em São Paulo, que ajudam a moldar marcos de cibercrime e propriedade intelectual segundo padrões externos. Ao mesmo tempo, a China lança a Iniciativa de Governança Global (GGI), convocando países em desenvolvimento a defenderem sua voz nas novas regras digitais.


Estamos diante de uma guerra invisível, travada sem tanques ou mísseis, mas com códigos, tratados e cláusulas comerciais. É a disputa silenciosa que decidirá se o Sul Global terá autonomia para escrever suas próprias regras digitais ou se aceitará a condição de colônia informacional do século XXI.

A máquina americana de governança digital



O socorro à Costa Rica foi só a ponta visível de uma engrenagem muito maior. Desde 2022, os Estados Unidos consolidaram no Departamento de Estado o Bureau of Cyberspace and Digital Policy (CDP), uma espécie de chancelaria do ciberespaço. Ali, diplomatas, engenheiros e juristas se articulam para moldar regras, oferecer assistência e, ao mesmo tempo, impor condições. É o coração de uma estratégia que combina poder normativo, dinheiro público e lobby privado para garantir que o futuro digital global siga os trilhos de Washington.


O CDP não atua sozinho. Ele se desdobra em programas e fundos que funcionam como braços de ação:


  • O Digital Connectivity and Cybersecurity Partnership (DCCP) financia reformas regulatórias, treinamentos e projetos de infraestrutura em países da Ásia, África e América Latina. A ideia é simples: oferecer recursos e capacitação, mas sempre sob o selo de “redes confiáveis” — um eufemismo para excluir fornecedores considerados indesejados, sobretudo os chineses.


  • O International Technology Security and Innovation Fund (ITSI), criado pelo CHIPS Act, injeta centenas de milhões de dólares em projetos de telecomunicação, inteligência artificial e 6G nos países aliados. Quem acessa esses recursos precisa, em contrapartida, alinhar-se aos padrões técnicos e regulatórios definidos em Washington e Bruxelas.


  • A rede ICHIP/GLEN, espalhada por cidades como São Paulo, Panamá, Haia e Abuja, instala promotores e peritos jurídicos americanos dentro de ministérios públicos e polícias estrangeiras. A cooperação é apresentada como auxílio no combate ao cibercrime, mas na prática significa exportar marcos legais e garantir que provas, dados e processos sigam moldes norte-americanos.


Essa máquina é alimentada também pelas big techs. Google, Meta, Microsoft e Amazon não são apenas empresas: funcionam como satélites de poder do governo dos EUA. Fazem lobby em fóruns internacionais, pressionam contra regulações locais e se beneficiam diretamente das normas e tratados que Washington exporta. Na disputa pelo 6G, por exemplo, são elas que se colocam como parceiras preferenciais, empurrando países do Sul Global para a dependência tecnológica.


O que parece cooperação técnica é, na prática, a construção de uma ordem digital sob medida: quem aceita assistência, adota também a jurisprudência, os fornecedores e as normas de segurança definidas fora de suas fronteiras. É assim que a “máquina americana” transforma conectividade em poder geopolítico, consolidando um império invisível que se estende por cabos, servidores e códigos.

Lobby, pressões e o uso do direito como arma



A força da máquina americana não se limita à diplomacia e à assistência técnica. Ela se completa com uma engrenagem ainda mais invisível: o uso do direito como arma política e econômica. É aí que Washington transforma tratados, leis domésticas e investigações comerciais em instrumentos de coerção para alinhar países do Sul Global às suas prioridades.


O exemplo mais recente é a investigação da Seção 301 contra o Brasil, aberta em 2025. O motivo oficial: barreiras ao comércio digital, políticas de tributação sobre big techs e regras locais de dados. Por trás, a pressão direta de grupos de lobby como NetChoice, CCIA e CTA, que representam Google, Meta, Amazon e Microsoft. Esses grupos não atuam nas sombras: apresentam comentários públicos, pressionam o Congresso e fazem da OMC palco de disputa. A mensagem é clara: qualquer tentativa de soberania regulatória que afete os lucros das plataformas será punida com retaliações comerciais.


Essa tática não é isolada. Nos Estados Unidos, a própria FTC advertiu recentemente as big techs de que não devem enfraquecer a segurança ou a privacidade de usuários americanos para cumprir leis estrangeiras — uma resposta direta às regulações da União Europeia e do Reino Unido. Traduzindo: se um país adota regras mais rígidas, como o DSA europeu ou propostas brasileiras de responsabilidade das plataformas, as empresas ficam encurraladas. Ou desobedecem à lei local e arriscam multas, ou obedecem e se tornam alvo de sanções e processos nos EUA.


O terreno jurídico se soma ao lawfare digital internacional. Ao incentivar países a aderirem ao Convênio de Budapeste sobre cibercrime e seus protocolos, Washington não apenas ajuda no combate a hackers, mas também cria portas legais para acessar dados transnacionais. Isso reduz a autonomia de sistemas judiciais nacionais e reforça a dependência da infraestrutura de cooperação controlada por EUA e Europa.


A combinação é poderosa: lobby privado, pressão jurídica e tratados internacionais operam em uníssono. É a guerra sem exércitos, mas com advogados, lobistas e reguladores — e seus efeitos são tão devastadores quanto uma invasão militar. O preço é a erosão da soberania jurídica e regulatória de países que, como o Brasil, tentam construir um marco independente para o século digital.

A resposta chinesa: a Iniciativa de Governança Global (GGI)



Se Washington constrói uma rede seletiva, ancorada em sanções, lobby e tratados assimétricos, Pequim responde com outra narrativa: a de uma governança global multipolar, centrada na ONU e no protagonismo do Sul Global. No dia 1º de setembro de 2025, em meio às celebrações dos 80 anos da vitória sobre o fascismo, a China apresentou ao mundo a Iniciativa de Governança Global (GGI).


O diagnóstico de Pequim é cirúrgico. Primeiro, denuncia a sub-representação do Sul Global nas instituições multilaterais, que seguem dominadas por EUA e Europa. Depois, acusa a erosão da autoridade da ONU, minada por sanções unilaterais e duplos padrões. Por fim, aponta a baixa efetividade do sistema atual diante de desafios urgentes: mudança climática, exclusão digital, inteligência artificial, ciberespaço e até o espaço exterior.


A resposta vem em cinco compromissos centrais:


  • Igualdade soberana: cada país, grande ou pequeno, deve ter sua soberania e dignidade respeitadas, sem interferência externa.


  • Estado de Direito internacional: a Carta da ONU deve valer para todos, sem exceções feitas sob medida para potências.


  • Multilateralismo: decisões globais tomadas por ampla consulta, contribuição conjunta e benefícios compartilhados, com a ONU como eixo central.


  • Centralidade das pessoas: o foco da governança deve ser o bem-estar dos povos, não os lucros das corporações ou a hegemonia de blocos.


  • Resultados concretos: a governança precisa resolver problemas reais de forma coordenada, sustentável e inclusiva.


Mais do que uma lista de boas intenções, a GGI se soma a outras iniciativas de Pequim: a GDI (desenvolvimento), a GSI (segurança) e a GCI (civilizações). Juntas, formam um pacote que tenta disputar o terreno das normas globais com uma alternativa: em vez de redes exclusivas, um sistema reformado e mais inclusivo, capaz de refletir os interesses da maioria da humanidade — ou seja, do Sul Global.


A China não esconde sua estratégia: usar o discurso da multipolaridade e do direito internacional como contrapeso ao unilateralismo americano. Ao apresentar a GGI em um momento carregado de simbolismo histórico, Pequim envia um recado: sua visão de governança global se ancora na memória da resistência ao fascismo e na promessa de uma ordem mais justa, onde países emergentes não sejam apenas espectadores, mas protagonistas.

Dois modelos em choque



De um lado, os Estados Unidos erguem uma rede seletiva de governança digital, construída com tratados, fundos e pressões jurídicas. De outro, a China propõe uma reforma inclusiva, que aposta no multilateralismo e na centralidade da ONU. São dois projetos distintos, quase antagônicos, e o choque entre eles vai definir o futuro da internet, da inteligência artificial e do ciberespaço.


O modelo americano é centrado no controle seletivo. Por meio do CDP, do DCCP e do ITSI, Washington financia projetos e oferece cooperação, mas sempre sob condições: redes “confiáveis”, adesão a fornecedores ocidentais, alinhamento a padrões já definidos em fóruns exclusivos como o TTC (EU-US Trade and Technology Council). A lógica é simples: criar uma arquitetura digital onde as regras sejam escritas pelos aliados do Atlântico Norte e depois exportadas ao restante do mundo como se fossem universais.


Já o modelo chinês, com a GGI, parte de outra premissa. O ciberespaço, assim como o espaço sideral ou o clima, deve ser tratado como bem comum global, gerido por consenso. A proposta é fortalecer a ONU e corrigir a sub-representação do Sul Global, garantindo que países em desenvolvimento tenham não só assento, mas também voz ativa nas decisões. O foco está nos cinco compromissos: soberania, direito internacional, multilateralismo, centralidade das pessoas e resultados concretos.


É nesse contraste que o conflito se explicita:


  • Para os EUA, a prioridade é blindar cadeias de suprimento, evitar a expansão da China em setores críticos e manter as big techs como eixo do poder digital.


  • Para a China, o objetivo é construir uma ordem multipolar que limite a hegemonia americana e dê protagonismo ao Sul Global.


No fundo, trata-se de uma disputa de normas. Quem conseguir impor seus padrões em 6G, IA e cibercrime terá poder de moldar a economia e a política internacionais pelas próximas décadas. E é aqui que países como o Brasil entram em cena: não como figurantes, mas como territórios onde essa batalha se materializa, com pressões, ofertas de cooperação e tentativas de captura regulatória.

O Brasil no tabuleiro



O Brasil é hoje um dos campos de batalha mais sensíveis dessa guerra invisível. Não se trata de metáfora: nosso país está ao mesmo tempo sob ataque jurídico-comercial de Washington e cortejado pela narrativa multipolar de Pequim.


De um lado, pesa a ameaça concreta da investigação da Seção 301, aberta pelos EUA em 2025. O processo foi movido por pressão direta das big techs — Google, Meta, Amazon, Microsoft — articuladas em associações como NetChoice e CCIA. O alvo é claro: desmontar as iniciativas brasileiras de tributação digital e responsabilização de plataformas. Se o Brasil insistir em seguir por esse caminho, pode enfrentar barreiras comerciais, retaliações em exportações e restrições tecnológicas. É a cartilha clássica da coerção econômica, agora aplicada ao campo digital.


Ao mesmo tempo, o país abriga em São Paulo um escritório da rede ICHIP, que instala promotores americanos para atuar lado a lado com autoridades locais em temas de cibercrime e propriedade intelectual. Embora apresentada como cooperação, essa presença significa importar marcos legais prontos e adaptar o sistema judiciário brasileiro a protocolos externos, muitas vezes pensados para proteger mais os interesses de empresas globais do que a soberania nacional.


Do outro lado do tabuleiro, a China acena ao Brasil com a promessa de protagonismo no Sul Global. Dentro dos BRICS, o país é chamado a ocupar posição estratégica nas discussões sobre inteligência artificial, governança digital e reforma financeira internacional. A GGI oferece um discurso sedutor: igualdade soberana, ONU como núcleo e voz real para emergentes. Para um país historicamente marcado pela condição de “alvo” de normas externas, essa narrativa tem apelo.


O dilema brasileiro, no entanto, é brutal: ser protagonista de uma governança multipolar ou colônia digital de interesses alheios. A escolha não é apenas geopolítica, mas de sobrevivência nacional. O controle sobre dados, redes, algoritmos e infraestrutura digital é hoje tão vital quanto o controle sobre petróleo ou água no século XX.

Riscos e perigos para o Sul Global



Se há uma batalha que o Sul Global não pode perder, é a da soberania digital. A disputa entre Washington e Pequim não é apenas geopolítica; é existencial. Nos cabos, nos satélites e nos algoritmos está a fronteira que define quem será sujeito e quem será objeto da história.


O primeiro risco é a perda da soberania informacional. Ao aderir sem questionar aos marcos legais e às normas impostas pelos EUA e seus aliados, países da periferia correm o perigo de abrir mão do controle sobre os próprios dados, deixando que informações estratégicas — de cidadãos, empresas e governos — circulem em sistemas estrangeiros sem garantias de reciprocidade. É a nova forma de extrativismo: não de minérios, mas de dados.


O segundo risco é a dependência tecnológica. O discurso das “redes confiáveis” e da exclusão de fornecedores rivais é, na prática, um convite para o lock-in. Países que aceitam recursos do ITSI ou do DCCP acabam presos a fornecedores e padrões técnicos definidos em Washington e Bruxelas. Isso significa décadas de submissão, porque as escolhas feitas agora — sobre 6G, inteligência artificial, nuvens de dados — moldarão toda a economia digital até meados do século.


O terceiro risco é a submissão jurídica. A adesão apressada a tratados como o Convênio de Budapeste, sem adaptações soberanas, pode entregar a estrangeiros o acesso direto a dados sensíveis. No curto prazo, isso acelera investigações contra criminosos digitais. Mas, no longo prazo, cria uma assimetria: as potências têm a chave para entrar nos sistemas judiciais do Sul Global, enquanto os emergentes permanecem limitados para acessar informações sediadas em jurisdições hegemônicas.


O quarto risco é a exclusão econômica. Quem não se alinhar às regras definidas nos blocos dominantes corre o risco de ser excluído de cadeias globais de valor. A promessa é simples: alinhe-se às nossas normas e terá acesso a financiamento, cooperação e mercados. Recuse, e prepare-se para barreiras tarifárias, sanções e isolamento. O Brasil já sente essa pressão na pele com a investigação 301.


E há ainda o risco mais sutil, mas não menos grave: a colonização cultural e política. Ao aceitar que a arquitetura digital seja escrita fora de suas fronteiras, países do Sul Global passam a internalizar a lógica e as narrativas de outros. O resultado é um enfraquecimento das democracias locais, que perdem a capacidade de decidir seu próprio caminho, e o fortalecimento de elites que se beneficiam da dependência externa.


O perigo, em resumo, não está apenas em escolher entre Washington ou Pequim, mas em aceitar a passividade como destino. O maior risco para o Sul Global é assistir à disputa dos gigantes de fora, enquanto se converte em colônia digital de um ou de outro.

O caminho da soberania



Se os riscos estão claros, o desafio agora é traçar uma rota que permita ao Sul Global, e em especial ao Brasil, escapar da armadilha da dependência digital. Não basta apenas denunciar as pressões externas — é preciso construir alternativas concretas, capazes de transformar a soberania informacional em projeto de Estado.


O primeiro passo é reconhecer que infraestrutura digital é soberania. Satélites, cabos submarinos, data centers, nuvens governamentais e redes nacionais de fibra não podem ser tratados como negócios privados isolados. São ativos estratégicos, comparáveis a refinarias e hidrelétricas no século XX. Sem controle sobre essa base, todo discurso de independência vira retórica vazia.


O segundo passo é apostar em políticas de inovação endógena. Isso significa fortalecer universidades, centros de pesquisa e empresas locais em áreas como inteligência artificial, criptografia, semicondutores e software livre. Não se trata de fechar portas ao mundo, mas de reduzir a vulnerabilidade que hoje transforma cada atualização de sistema estrangeiro em um ato de submissão.


O terceiro passo é a cooperação Sul-Sul. O Brasil tem papel natural de pivô nesse processo, tanto no BRICS quanto na América Latina. Uma integração digital regional — que inclua compartilhamento de dados, construção conjunta de satélites, redes 6G regionais e formação de especialistas — pode reduzir a dependência de fornecedores ocidentais e criar uma camada de proteção diante das pressões geopolíticas.


O quarto passo é investir em letramento digital e formação cidadã. A guerra híbrida que se trava no campo da informação não se vence apenas com firewalls ou protocolos jurídicos: é preciso preparar as populações para compreender os mecanismos de manipulação, proteger sua privacidade e exigir transparência de plataformas. Uma sociedade crítica é o melhor antídoto contra a colonização cultural e informacional.


Por fim, é essencial articular tudo isso dentro de um projeto nacional de soberania informacional, capaz de dialogar com os cinco compromissos da governança global:


  • Igualdade soberana: nenhum país deve ditar os rumos digitais de outro.


  • Estado de Direito internacional: a Carta da ONU precisa valer mais que sanções unilaterais.


  • Multilateralismo: decisões sobre IA, 6G e cibercrime não podem ser tomadas em fóruns exclusivos.


  • Centralidade das pessoas: tecnologia a serviço do bem-estar social, não dos lucros corporativos.


  • Resultados concretos: governança que resolva problemas reais — da exclusão digital ao uso predatório de dados.


O futuro não será neutro. Ele será moldado por escolhas feitas agora. Ou o Sul Global se organiza para escrever suas próprias regras, ou continuará condenado a obedecer às regras escritas por outros.

Conclusão – O futuro em disputa


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O que está em jogo não é apenas tecnologia, mas a própria capacidade dos povos decidirem seus destinos. Em 2025, o ciberespaço tornou-se o novo campo de poder global: invisível aos olhos, mas onipresente na vida cotidiana. Cada vez que um país tenta tributar uma big tech, proteger seus dados ou adotar um fornecedor alternativo de infraestrutura, descobre que a batalha não se trava apenas em gabinetes ministeriais — ela se decide em tribunais internacionais, comissões de comércio e redes de lobby que operam como verdadeiras tropas de ocupação jurídicas.


O Brasil sente esse peso em tempo real. A investigação da Seção 301 é a prova de que a soberania digital incomoda. A presença de promotores estrangeiros em São Paulo mostra que até o sistema de justiça pode ser moldado por interesses externos. E as pressões sobre o 6G deixam claro que o futuro da nossa infraestrutura será ditado fora do país se não houver reação firme e estratégica.


Do outro lado, a Iniciativa de Governança Global lançada pela China aponta um caminho alternativo: reformar a ordem existente, dar voz ao Sul Global, colocar a ONU de volta ao centro. Não é solução mágica nem isenta de riscos, mas é a primeira vez que uma potência propõe abertamente que as regras digitais sejam fruto de consenso e não de imposição.


O dilema está posto: ou o Sul Global se organiza para escrever suas próprias regras digitais, ou continuará condenado a obedecer às que lhe forem impostas. Entre a passividade e a ação, há um abismo — e nele se decide o futuro da democracia, da soberania e da autonomia das próximas gerações.


O ciberespaço não é neutro. Ele é território de disputa, de guerra invisível, de poder. E cabe a nós, no Brasil e no Sul Global, escolher se seremos autores ou apenas figurantes dessa história. A hora é agora. O futuro digital será soberano ou não será.

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