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Adultos usam chupeta, crianças investem na bolsa

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    Redação
  • 13 de ago.
  • 3 min de leitura

Atualizado: 13 de ago.


Por Adriano Viaro


Adultos que “chupam bico”, adolescentes que viram coaches e investidores, e idosos que perderam espaço como guardiões da memória: um retrato ácido e inquietante de uma sociedade que inverteu papéis e abraçou a infantilização como estilo de vida

A geração marsupial e a infantilização dos adultos



Essa afirmação pode parecer cômica, irônica, ou até estapafúrdia, mas não é. Para além de todos os elementos que constituem o que chamei de "geração marsupial", a comercialização de "chupetas para adultos", sob a justificativa de enfrentamento à ansiedade, demonstra que a infantilização dos adultos pós-modernos gera uma demanda social a partir da vacância dos espaços produtivos.


Fenômenos já identificados, descritos e problematizados - caso dos bebês reborns e dos aplicativos para resumo de obras literárias - definem os recortes e limites de uma Era caracterizada pela fala de controle. O que outrora era sinônimo de liberdade e independência (atingir idade mínima necessária e desejável para o rompimento do cordão umbilical social), tornou-se tormento destes que simplesmente não querem sair da casa dos pais.

O mito da dificuldade do passado e o conforto da atualidade



As justificativas são as mais diversas, mas giram em torno de uma falácia alicerçada pela falta de conhecimento: dizem que nos anos 1970 e 1980 era mais fácil construir patrimônio e núcleos familiares. Tolos, desconhecem as hiperinflações, desemprego e o analfabetismo em massa. Usam mentiras como subterfúgios para enraizarem laços domésticos no afã de simplesmente não saírem do leito materno.


Enfrentar a independência gera dificuldade? Sim, mas essa dificuldade era desejada pelas gerações anteriores. Não vou me estender nem tergiversar acerca das diferenças e características de cada recorte social brasileiro, pois, via de regra, a geração atual está cercada de conforto e praticidade ocasionadas pela tecnologia e ciência.

O empreendedorismo vazio e a substituição dos papéis sociais



Bueno, dito isso, se temos a vacância, temos também os candidatos. E eles são adolescentes empreendedores de coisa nenhuma. Já fornecem notas fiscais, empregam os próprios pais e geram renda a partir de discursos inócuos e falaciosos como "você pode", "basta se permitir", "tudo é possível". Esses adolescentes "pregam" que a escola "atrapalha" no sucesso e que os "funis de vendas" podem gerar a independência antes mesmo da fase adulta.


Enquanto adultos "chupam bico" e lamentam a vida "difícil", adolescentes ocupam espaço tendo como currículo apenas e tão somente a juventude.


Os números nos mostram que apenas 9% dos brasileiros até 16 anos leem textos com até 100 páginas, e que o consumo de textos e, sobretudo, vídeos curtos ganharam o público de todas as gerações sob o título "fofo" de "microconteúdos".

A inversão de autoridade e o retrato distópico



Os coaches já são um problema demarcado e descrito, sobretudo em meu livro ANTICOACH, porém, o problema está aumentando a partir do momento em que os gurus começam a ter menos do que 18 anos - com a versão "pastor-coach-mirim" invadindo os púlpitos neopentecostais e gerando histeria coletiva em plateias formadas por adultos. Os gregos teriam urticária diante da simples possibilidade de consulta a um oráculo que não tivesse cabelos e barbas brancas.


Resumo da ópera do horror: idosos perderam o lugar de "narradores da história", pois não sabem mexer em smartphones; os adultos estão uberizados, embalando bebês de látex e "chupando bico"; e os jovens adolescentes... investindo na bolsa. Mais uma vez lembro: nem Huxley previu isso.

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