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"Brasil é epicentro da resistência à colonização informacional", diz Afonso de Albuquerque

  • Foto do escritor: Atitude Popular
    Atitude Popular
  • 23 de jul.
  • 3 min de leitura

Professor da UFF afirma que a América Latina desenvolveu pensamento mais avançado sobre soberania midiática que Europa e defende a universidade como base para enfrentar a guerra de desinformação


Em entrevista ao programa Democracia no Ar, da TV Atitude Popular, o pesquisador Afonso de Albuquerque fez uma análise contundente do atual cenário informacional global. Professor titular da Universidade Federal Fluminense, referência nos estudos sobre comunicação, desinformação e soberania midiática, Albuquerque traçou um panorama histórico da influência dos Estados Unidos sobre as elites latino-americanas, identificou os impasses geopolíticos do presente e defendeu a construção de um campo de conhecimento nacional e soberano para enfrentar os efeitos da guerra híbrida. A entrevista foi transmitida ao vivo no canal da TV Atitude Popular no YouTube.

“A ameaça à soberania sempre existiu, mas agora ela se apresenta de forma nua e crua”, afirmou. Para ele, o esgotamento do modelo de cooptação silenciosa das elites — que marcou o período do pós-guerra e foi intensificado nos anos 1990 com o avanço do neoliberalismo — abre um novo ciclo de disputas, em que o imperialismo cultural norte-americano abandona o verniz democrático e passa a atuar abertamente por vias repressivas, inclusive contra governos legitimamente eleitos.

Albuquerque destacou que a América Latina, por sua trajetória histórica de enfrentamento ao imperialismo e por suas contradições internas, desenvolveu uma tradição crítica mais sólida que a europeia.

“Hoje a América Latina é um espaço de pensamento sobre a soberania midiática muito mais relevante que a Europa, onde as elites foram colonizadas sem resistência”, argumentou.

Segundo ele, o Brasil se tornou um campo privilegiado para a observação desse embate. De um lado, as plataformas digitais e os think tanks estrangeiros ainda tentam manter o controle sobre o debate público. De outro, setores da sociedade civil, das universidades e do próprio Estado começam a esboçar respostas estruturais, sobretudo a partir da ruptura visível entre a extrema-direita trumpista e a velha ordem global liberal.

“Não há ninguém na extrema-direita brasileira que seja nacionalista. Nenhum. Todos vestem o bonezinho do MAGA”, ironizou. Para o professor, a submissão declarada a uma potência que agora se apresenta como inimiga objetiva dos interesses brasileiros fragiliza politicamente os setores mais radicalizados da direita, inclusive dentro do Congresso.

Sobre a imprensa brasileira, Albuquerque foi direto:

“Ela ainda opera por inércia, obedecendo a protocolos formativos do passado, por vezes protagonizados por comentaristas estúpidos, que ganham para dizer coisas estúpidas”. No entanto, reconhece que há um lento processo de realinhamento em curso, forçado por eventos recentes como os tarifaços de Trump, que atingiram em cheio setores empresariais bolsonaristas. “Isso cria empecilhos objetivos. Ninguém quer perder mercado externo por obediência ideológica.”

Albuquerque também apontou os limites das respostas tradicionais à desinformação, como o fact-checking ou os programas genéricos de letramento midiático. Segundo ele, essas abordagens tratam a questão de forma superficial e despolitizada.

“O problema não é a mentira em si, mas a infraestrutura que a sustenta. Desinformação não é acidente, é projeto.”

É nesse contexto que ele defende a criação de um campo institucional e técnico dos estudos sobre desinformação, com base na universidade pública. Ele coordena atualmente a formação da Associação Nacional de Estudos da Desinformação e argumenta que só com base científica e soberana será possível enfrentar os ciclos de desmonte promovidos por interesses externos.

“As plataformas definiram o que era desinformação no governo Biden, depois mudaram de lado com Trump. Não dá para depender delas. Precisamos construir nossa própria infraestrutura”, concluiu.

Albuquerque citou o caso do Pix como exemplo simbólico dessa nova consciência soberana: “As pessoas querem usar o Pix. Não querem pagar taxa para plataformas. É nisso que a soberania se torna concreta”. Para ele, a disputa entre um modelo cooperativo de infraestrutura pública e os monopólios digitais é o novo campo de batalha da política global.

No encerramento, o professor lembrou que o combate à desinformação, no Brasil, só será eficaz se for parte de um projeto maior de reconstrução da soberania nacional. E reiterou:

“Temos autores muito citados no mundo. O Brasil pode liderar esse debate, mas precisa fazer isso com autonomia, e não como repetidor das agendas de Washington.”

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