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Do lawfare à era MAGA: como a guerra híbrida tornou o Brasil refém

  • Foto do escritor: Rey Aragon
    Rey Aragon
  • há 2 dias
  • 10 min de leitura

Da Lava Jato às pressões da Casa Branca, a desmontagem da soberania brasileira em defesa, segurança, comunicação e cibernética expõe um país sitiado por operações psicológicas e dependência tecnológica.


Entre 2013 e 2025, o Brasil foi transformado em laboratório global de guerra híbrida. A Lava Jato abriu a trilha de destruição da engenharia nacional, o golpe institucional consolidou a entrega de setores estratégicos, e hoje, sob a era MAGA, o país enfrenta coerções externas que vão de vistos cancelados a vetos tecnológicos. Este artigo mostra, em cada linha, como o lawfare e as operações psicológicas moldaram nossa fragilidade atual — e porque a luta pela soberania deixou de ser escolha para se tornar questão de sobrevivência.

O Brasil como laboratório da guerra híbrida



O Brasil foi transformado, entre 2013 e 2025, no mais sofisticado laboratório de guerra híbrida do planeta. Aqui se experimentaram, em escala inédita, operações psicológicas de saturação, manipulação judicial convertida em espetáculo midiático e a destruição planejada de cadeias industriais estratégicas. O que começou como mobilização difusa nas ruas em 2013 rapidamente se converteu em terreno fértil para a aplicação de uma engenharia de desestabilização que uniu mídia corporativa, setores do Judiciário, think tanks estrangeiros e plataformas digitais em uma ofensiva de guerra cultural sem precedentes.


A Lava Jato não foi apenas um processo jurídico: foi a arma central de um ataque híbrido que rompeu as linhas vitais da soberania nacional. Sob a bandeira moralista do combate à corrupção, desmontou-se a infraestrutura de defesa, desarticulou-se a engenharia pesada, estrangularam-se estaleiros, destruíram-se empregos e abriu-se espaço para corporações estrangeiras tomarem posse de setores críticos. O golpe contra Dilma foi apenas o momento institucional de um processo mais profundo: a captura simbólica e material do destino nacional.


Hoje, em 2025, essa guerra híbrida atinge sua maturidade na era MAGA. O mesmo país que serviu de vitrine global para o lawfare, para a criminalização da política e para a liquidação de empresas estratégicas, agora é alvo direto de coerções externas que vão do cancelamento de vistos à ameaça de sanções tecnológicas. O laboratório virou campo de testes em escala total. O Brasil tornou-se a vitrine e o exemplo do que acontece quando a soberania é atacada simultaneamente no campo material e no campo simbólico.


Este artigo não descreve apenas fatos: é um alerta estratégico. Mostra como, em cada etapa, as operações híbridas moldaram o presente e como, sem reação organizada, a próxima década pode selar a irreversível submissão nacional.

Lawfare como arma de operações psicológicas



O lawfare no Brasil não foi apenas a manipulação da lei contra adversários políticos: foi a construção calculada de uma narrativa capaz de corroer a confiança na própria ideia de Estado soberano. Cada operação midiática da Lava Jato funcionou como um bombardeio psicológico, saturando a opinião pública com vazamentos seletivos, delações espetacularizadas e manchetes planejadas para causar indignação. A lei deixou de ser norma e tornou-se munição.


Essa engrenagem jurídico-midiática não só destruiu reputações, mas paralisou cadeias industriais inteiras. Ao decretar que empresas estratégicas eram “inidôneas” antes mesmo do julgamento, as operações jurídicas criaram um ambiente de pânico, quebraram contratos e asfixiaram a engenharia nacional. O resultado não foi a limpeza do sistema, mas a entrega de ativos a corporações estrangeiras, muitas vezes a preços de liquidação. O discurso moralista foi o biombo perfeito para um processo de recolonização econômica.


Nas operações psicológicas, a Lava Jato usou a linguagem da pureza contra a política, convertendo cada prisão em espetáculo, cada condução coercitiva em novela, cada delação em cliffhanger. O público foi treinado a acreditar que a destruição do próprio país era o caminho da redenção. Foi a maior vitória das psyops: convencer a sociedade de que sua soberania era o preço justo para a purificação moral.


Hoje sabemos: o lawfare não acabou. Ele apenas mudou de alvo. Se antes a artilharia se voltou contra empresas e lideranças políticas, agora o fogo é direcionado contra instituições que ousam regular plataformas, contra projetos que buscam resgatar a soberania informacional, contra qualquer esforço de reconstrução nacional. O lawfare é a versão jurídica da guerra psicológica, uma arma invisível que transforma tribunais em trincheiras e juízes em soldados de uma guerra híbrida que não obedece a fronteiras.

O desmonte da base material da soberania



A Lava Jato não destruiu apenas lideranças políticas: ela atacou a espinha dorsal da soberania nacional. Empresas que levavam décadas para acumular tecnologia e capacidade de engenharia foram reduzidas a ruínas em questão de meses. O Brasil, que ensaiava ser potência em mísseis, foguetes, sondas e plataformas navais, foi transformado em sucata institucional, vendido a preço de banana para conglomerados estrangeiros.


A Avibras, orgulho da indústria bélica nacional, entrou em agonia. Em 2022, a empresa que produzia o sistema ASTROS — referência mundial em artilharia de saturação — entrou em recuperação judicial, mergulhando em atrasos salariais, paralisações e ameaças de falência. Hoje, em 2025, continua presa em litígios, incapaz de garantir a cadência de produção que assegura a dissuasão estratégica do Exército brasileiro. A soberania sobre foguetes e mísseis está suspensa na corda bamba de decisões judiciais e do apetite estrangeiro por seus ativos.


A Mectron, que dominava tecnologias de guiagem e integração de mísseis, foi desmontada sob o escombros do grupo Odebrecht e teve partes vendidas à israelense Elbit. Resultado: a inteligência de mísseis de médio alcance deixou de ser brasileira para se tornar filial de um projeto estrangeiro. A guerra híbrida atingiu o núcleo duro da dissuasão: tirou do país a autonomia sobre olhos eletrônicos e cérebros de armamento.


Nos estaleiros, o desastre foi absoluto. O colapso da Sete Brasil arrastou consigo o polo naval, paralisando o Estaleiro Atlântico Sul, a Ecovix e a Enseada. Plataformas e sondas que simbolizariam o futuro do pré-sal se tornaram esqueletos enferrujados. O Brasil perdeu empregos, tecnologia e capacidade industrial — e abriu espaço para que gigantes estrangeiras retomassem contratos e controle sobre a exploração do petróleo.


A engenharia pesada, orgulho de um país que ousava pensar grande, também foi triturada. OAS, UTC, Mendes Júnior e Galvão Engenharia entraram em recuperação judicial e foram liquidadas, eliminando o elo nacional que conectava infraestrutura civil, defesa e projetos estratégicos. O desmonte não foi acidente: foi parte do roteiro de guerra híbrida. Quando o lawfare decretou “inidoneidade”, o mercado externo viu a chance de ocupar.


Esse é o saldo material da guerra híbrida: o Brasil perdeu sua indústria bélica, naval e de engenharia. O que era soberania virou dependência. O que era poder industrial virou sucata judicial. O que era futuro virou espaço ocupado por corporações estrangeiras.

Correntes invisíveis: cabos, nuvens e vigilância



A guerra híbrida não se vê apenas nas ruas ou nos tribunais: ela corre escondida nos cabos, nos datacenters e nos dispositivos que vigiam a população. São correntes invisíveis que aprisionam a soberania, transformando o Brasil em refém de infraestruturas controladas por corporações e governos estrangeiros.


Os cabos submarinos, veias do mundo digital, estão sob domínio externo. O Seabras-1 liga São Paulo a Nova York, sob jurisdição norte-americana. O EllaLink conecta Fortaleza a Lisboa, sob controle europeu. São linhas críticas por onde circula tudo: das comunicações militares a decisões governamentais. Num cenário de conflito, basta um corte, um bloqueio jurídico ou uma ordem executiva para silenciar o país.


A nuvem, apresentada como símbolo de modernidade, é na prática a colonização dos dados. Hoje, mais da metade do processamento informacional brasileiro ocorre fora do território nacional. Significa que dados de saúde, finanças, segurança e governo podem ser acessados por cortes e agências estrangeiras. Não é tecnologia: é submissão travestida de eficiência.


Na vigilância e na segurança pública, o quadro é ainda mais grave. Estados e municípios estão presos a ecossistemas proprietários de radiocomunicação da Motorola, a sistemas de reconhecimento e monitoramento da Hikvision e da Dahua, e a softwares de perícia digital da Cellebrite. Cada atualização, cada licença, cada patch de segurança é decidido em outro país. A polícia brasileira não controla sequer as ferramentas com que investiga.


Essas correntes invisíveis são mais poderosas que tanques e mísseis. Elas controlam o fluxo de informação, paralisam instituições e condicionam o imaginário nacional. São armas silenciosas de guerra híbrida, porque funcionam no dia a dia, sem que a população perceba. Quando um juiz não consegue acessar um processo porque o servidor está fora, quando um general precisa de autorização estrangeira para atualizar um sistema de radar, quando um governador não pode renovar a licença de suas câmeras sem pagar royalties a uma corporação estrangeira, é a soberania que sangra em silêncio.


O Brasil vive conectado, mas algemado.

O campo simbólico ocupado



Nenhuma guerra híbrida vence apenas na destruição material. O golpe definitivo se dá no campo simbólico, no coração das narrativas que moldam a consciência coletiva. Foi nesse território que a Lava Jato alcançou sua maior vitória: convencer milhões de brasileiros de que a destruição da própria soberania era um ato de purificação moral.


A operação converteu tribunais em palcos e manchetes em sentenças. Cada prisão televisionada, cada vazamento seletivo, cada delação premiada montada como espetáculo funcionou como um episódio de série, criando um enredo em que a política nacional era sinônimo de crime. Nesse teatro, não havia espaço para a defesa, nem para a complexidade — só para a crença cega no herói punitivista e na necessidade de eliminar o inimigo interno.


As redes sociais foram o amplificador perfeito. Algoritmos calibrados para premiar indignação transformaram o ódio em moeda corrente. Memes, hashtags e correntes digitais simplificaram a realidade a uma batalha entre corruptos e justiceiros. O público foi treinado a rejeitar qualquer projeto de soberania como se fosse apenas a máscara de uma grande corrupção. A guerra cultural, cuidadosamente modulada, pavimentou o caminho para o avanço do autoritarismo.


O campo simbólico ocupado não apenas redefiniu a percepção da política; ele colonizou o desejo social. Passou-se a acreditar que o futuro viria da importação de soluções estrangeiras, que a tecnologia de fora era sempre melhor, que a salvação estava nas mãos de plataformas privadas globais. Foi a vitória da hegemonia do capital externo travestida de inovação.


Hoje, em 2025, o Brasil colhe os frutos desse cerco psicológico. Qualquer tentativa de reconstrução soberana é imediatamente atacada como “populista”, “ineficiente” ou “censura”. O imaginário nacional foi moldado para desconfiar de si mesmo e venerar o outro. A guerra híbrida sequestrou não apenas a indústria, mas a mente coletiva do país.

MAGA e a nova coerção transnacional



O Brasil de 2025 não enfrenta apenas as ruínas deixadas pela Lava Jato: enfrenta a pressão direta da era MAGA. A nova Casa Branca transformou a coerção em método diplomático. Cancelamento de vistos, ameaças de sanções, listas de controle de exportação, manipulação de plataformas digitais — tudo virou arma de uma guerra híbrida globalizada contra qualquer país que ouse buscar soberania.


Sob Trump, os Estados Unidos aperfeiçoaram o arsenal invisível. Não é preciso mover tropas, basta aplicar o peso da jurisdição extraterritorial. Uma peça com selo ITAR ou EAR pode travar a exportação de um sistema inteiro. Um cabo submarino controlado por corporação americana pode ser usado como ponto de pressão. Uma plataforma social sob comando de um magnata alinhado ao trumpismo pode minar instituições democráticas brasileiras com um clique.


A coerção não é apenas material, é psicológica. O recado é claro: quem não se curva, paga o preço. O Brasil, com sua engenharia desmontada e sua base industrial desarticulada, tornou-se alvo fácil. A dependência tecnológica herdada da Lava Jato converte-se agora em vulnerabilidade diplomática. Os EUA sabem que podem cortar suprimentos, atrasar licenças, bloquear acessos e paralisar sistemas inteiros. A chantagem é estrutural.


Essa ofensiva encontra eco no campo simbólico. O discurso da “radicalização do Brasil para a esquerda” é usado como justificativa para medidas de exceção, tentando enquadrar o país como ameaça. É a guerra cultural convertida em doutrina de política externa: transformar a soberania brasileira em anomalia, e sua defesa em pecado.


O que a era MAGA inaugura não é apenas uma fase de pressão, mas uma etapa superior da guerra híbrida. O lawfare abriu as portas, o desmonte material destruiu a capacidade de resistência, e agora a coerção transnacional fecha o cerco. O Brasil não é visto como parceiro, mas como território a ser disciplinado.

O que significa soberania em 2025



Em 2025, soberania não é mais conceito abstrato. É o direito de manter as luzes acesas quando o inimigo decide puxar o plugue. É a capacidade de garantir que um radar funcione sem depender da licença de um governo estrangeiro. É a segurança de saber que os dados de milhões de cidadãos não estão armazenados em datacenters a milhares de quilômetros de distância, sob jurisdição alheia.


Hoje, o Brasil vive refém em setores cruciais. Na defesa, a Avibras agoniza em recuperação judicial, a SIATT e a Condor estão sob controle estrangeiro, e a Mectron foi desmantelada. Na prática, a artilharia, a missilística e a munição não letal nacionais estão acorrentadas a capitais externos. Na aviação e aviônica, a dependência da AEL/Elbit submete o país a vetos que já se provaram fatais no passado.


Na segurança e vigilância, cada câmera chinesa, cada rádio Motorola e cada software de perícia importado é uma janela de dependência. O policial que usa um sistema forense controlado por uma empresa estrangeira não é dono da prova que coleta. O comandante que opera uma rede de comunicação digital estrangeira não controla sua própria tropa.


Na comunicação e nos dados, a vulnerabilidade é ainda mais invisível. Cabos submarinos que podem ser desligados, clouds que obedecem a cortes estrangeiras, plataformas que definem quem fala e quem é silenciado. O caso do X/Twitter provou que um único bilionário estrangeiro pode desafiar o Supremo Tribunal Federal e desestabilizar o espaço público nacional.


Na inteligência, a dependência de softwares como o FirstMile ou de bancos de dados externos abre brechas para espionagem e chantagem. O Estado brasileiro investiga, mas não controla as ferramentas com que investiga.


Soberania, em 2025, significa sobreviver em um mundo onde a guerra híbrida é permanente. Significa ter capacidade industrial para produzir seus próprios mísseis, sua própria nuvem, seus próprios cabos. Significa ter independência jurídica para não se curvar ao lawfare transnacional. Significa, sobretudo, compreender que a neutralidade não existe: ou se constrói soberania, ou se aceita a condição de colônia tecnológica.

O chamado à ação



Do espetáculo da Lava Jato às ameaças da era MAGA, o Brasil atravessou doze anos de guerra híbrida que desmantelaram sua base industrial, sequestraram seu campo simbólico e transformaram sua soberania em miragem. Cada empresa quebrada, cada contrato entregue, cada narrativa fabricada foi parte de um mesmo projeto: disciplinar o país, submeter sua engenharia, controlar seus dados e neutralizar sua autonomia.


Chegamos a 2025 algemados por cabos estrangeiros, dependentes de nuvens sob jurisdição alheia, vigiados por plataformas que obedecem a bilionários e governos externos. A guerra híbrida nos reduziu de potência emergente a território vulnerável. E não há trégua: a coerção transnacional aperta a cada dia, usando vistos, sanções, algoritmos e tribunais como armas.


A escolha diante de nós é clara e brutal. Ou reconstruímos nossas trincheiras soberanas — industriais, digitais, simbólicas — ou aceitaremos viver como colônia tecnológica e informacional. Não há neutralidade possível, porque a guerra híbrida não reconhece zonas cinzentas.


Este não é apenas um diagnóstico: é um chamado à ação. Reconstruir a Avibras é tão estratégico quanto defender o Supremo. Nacionalizar dados é tão vital quanto proteger fronteiras. Retomar o controle dos cabos, das nuvens e das plataformas é tão urgente quanto garantir o pão na mesa.


A história não nos perdoará se hesitarmos. Soberania não é luxo, é sobrevivência. E a hora de resistir é agora.

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