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Lula e o espírito de nosso tempo

  • Foto do escritor: Rey Aragon
    Rey Aragon
  • 29 de jul.
  • 21 min de leitura

Por que Lula é hoje o principal líder global contra o avanço da extrema-direita e o último bastião da democracia soberana no Sul Global


Em tempos sombrios de guerra híbrida e manipulação algorítmica, a história nos oferece um homem com legitimidade, serenidade e coragem. Este artigo é uma defesa estratégica, histórica e profundamente humana de Luiz Inácio Lula da Silva como sujeito histórico global e esperança concreta de um futuro democrático. Não por idolatria — mas porque a civilização depende disso.


Um homem e a história em confronto com o obscurantismo


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No dia 28 de julho de 2025, o New York Times publicou um editorial intitulado “Sovereignty Is Having a Moment”. A frase pode parecer trivial à primeira leitura, mas guarda uma profundidade histórica que poucos veículos da grande imprensa global ousaram admitir nos últimos anos: a soberania está de volta ao centro da disputa geopolítica mundial. E, mais ainda, o epicentro dessa disputa é o Brasil — e o nome que a representa é Luiz Inácio Lula da Silva.


Lula, operário metalúrgico, nordestino, ex-preso político, duas vezes presidente da República e hoje chefe de Estado em seu terceiro mandato, não é apenas um governante. É um sujeito histórico global. É, como anunciado por Steve Bannon ainda em 2022, o maior obstáculo ao avanço da extrema-direita no mundo. Em tempos de guerras híbridas, colapso institucional, manipulação algorítmica e ofensiva reacionária, Lula tornou-se o último farol democrático com legitimidade simbólica e política para transitar por todas as frentes planetárias — da diplomacia do G20 às favelas esquecidas, das Nações Unidas às assembleias de base.


Não se trata aqui de idolatria. Trata-se de rigor histórico e análise materialista. O tempo em que vivemos é o da reconfiguração das hegemonias mundiais, e o Brasil é o principal campo de batalha simbólica, política e institucional dessa virada. Trump, ao retornar ao poder nos Estados Unidos em 2025, não o faz para governar com equilíbrio: volta com o objetivo claro de esmagar qualquer foco de soberania no Sul Global, especialmente no Brasil, que ousou erguer a voz contra a ALCA em 2005, retomar o protagonismo internacional em 2023 e manter uma política de reconstrução nacional ancorada em inclusão, multilateralismo e paz.


A guerra contra o Brasil já começou, mas não por tanques ou mísseis. Ela se manifesta por tarifas unilaterais, sabotagens informacionais, lawfare, chantagens diplomáticas e, sobretudo, pelo cerco à imagem de Lula como líder civilizacional. Trump não negocia com Lula não por divergência política, mas porque o projeto que representa exige a aniquilação simbólica e institucional de tudo que Lula encarna: soberania, integração, justiça social, diálogo entre povos.


Neste artigo, propomos uma leitura de nosso tempo que rejeita o cinismo e a falsa neutralidade. Analisaremos, com base no materialismo histórico-dialético, a centralidade de Lula como sujeito histórico global, a construção de seu soft power, a natureza do confronto com o trumpismo e a extrema-direita internacional, as perspectivas abertas pelo reconhecimento global de sua liderança, e os riscos e possibilidades que se colocam ao Brasil e ao mundo até outubro de 2026 — data das próximas eleições e possível ponto de inflexão histórico.


Porque o que está em jogo não é apenas a democracia brasileira. É a própria ideia de civilização.

O longo caminho de um operário global: como Lula construiu seu soft power



A ideia de soft power, cunhada por Joseph Nye nos anos 1990, refere-se à capacidade de um país (ou líder) influenciar o comportamento dos outros sem coerção direta, por meio de sua cultura, valores e legitimidade moral. Nos termos clássicos do pensamento geopolítico ocidental, o soft power é atributo de impérios. No entanto, o século XXI viu emergir uma exceção inaceitável ao esquema: um operário metalúrgico, latino-americano, sem diploma universitário, tornou-se a liderança política mais respeitada do Sul Global — e uma ameaça simbólica à ordem imperial. O nome desse homem é Luiz Inácio Lula da Silva.


A ascensão internacional de Lula não é fruto de marketing pessoal, mas de um projeto estratégico de reposicionamento do Brasil no mundo. Desde o início de seu primeiro mandato, em 2003, Lula rompeu com a lógica subalterna da política externa brasileira que, durante décadas, oscilou entre o servilismo diante dos EUA e o isolamento estratégico. Sob a liderança de Celso Amorim e Marco Aurélio Garcia, o Brasil adotou o que se chamou de "política externa altiva e ativa" — uma diretriz baseada no multilateralismo, na integração sul-sul e na defesa da soberania nacional como princípio irrenunciável.


Essa mudança não foi apenas retórica. O governo Lula foi artífice da criação e consolidação de blocos como o BRICS, a UNASUL, a CELAC e o IBAS. Estabeleceu acordos comerciais e diplomáticos com dezenas de países africanos, ampliou a presença brasileira no Oriente Médio e reforçou os laços com a Ásia, sem jamais romper com os EUA ou a Europa — mas também sem jamais se curvar. Esse posicionamento, radical em sua racionalidade, irritou profundamente as elites do Norte Global: o Brasil deixava de ser um apêndice para se tornar um ator.


Ao mesmo tempo, o soft power de Lula é indivisível de sua biografia. Não há algoritmo de propaganda que crie o que ele representa: um retirante nordestino, analfabeto até os 10 anos, que perdeu o dedo numa fábrica, liderou greves durante a ditadura e virou presidente da República pelo voto popular. Essa trajetória o torna não apenas legítimo no plano internacional — o torna incontornável. É impossível acusá-lo de “populismo” sem que a acusação se volte contra o próprio sistema que excluiu milhões como ele por séculos.


Quando Lula discursava em fóruns internacionais ao lado de Bush, Merkel, Putin ou Hu Jintao, não era o Brasil apenas que ganhava estatura. Era a história dos pobres do mundo que subia à tribuna. Sua fala era diferente porque seu lugar no mundo era diferente. Não representava os bancos, nem os mercados, nem os conglomerados de mídia — representava os invisíveis, os explorados, os povos do Sul.


É justamente por isso que o soft power de Lula é temido e combatido com tanta fúria. Ele não é “vendável” nos moldes do globalismo neoliberal, mas também não é rejeitável sem revelar o racismo, o classismo e o imperialismo embutidos nas críticas que lhe são feitas. Lula circula com desenvoltura no Vaticano e na OMC, na periferia de São Paulo e no Palácio do Eliseu. E por onde passa, carrega consigo a possibilidade de que a ordem do mundo seja reescrita — com soberania, solidariedade e justiça social.


Ao longo das últimas duas décadas, nenhum outro líder do Sul Global construiu uma rede diplomática tão ampla, respeitada e resiliente. Nem mesmo Xi Jinping ou Putin — por suas condições de antagonismo direto com o Ocidente — conseguiram o que Lula alcançou: transitar entre múltiplos polos de poder global sem se submeter a nenhum. Sua autoridade é reconhecida por Washington, Moscou, Pequim, Bruxelas e pelo Sul profundo do planeta. Isso não é menor: é um fato geopolítico de primeira ordem.


Assim, o soft power de Lula não se resume a carisma, nem a afeto. Ele é síntese de uma história coletiva de luta, de um projeto nacional de soberania, e de uma política externa coerente com os princípios que defende internamente. Por isso, seu nome tornou-se, em 2025, a mais poderosa ameaça simbólica ao projeto da extrema-direita global. E é por isso também que Trump e seus aliados precisam destruí-lo.


Eles sabem que um líder com essas credenciais, com esse alcance, com essa legitimidade moral — e com essa capacidade de mobilizar os povos — não pode ser tolerado em tempos de guerra híbrida.

O fascismo global e a reação imperial ao protagonismo do sul



Ao contrário do que sustentam os liberais de centro e os analistas cínicos da academia empresarial, o fascismo do século XXI não é um desvio da norma democrática, nem uma aberração irracional que emergiu espontaneamente das redes sociais. Ele é, em sua forma mais nua e direta, uma resposta racional, estratégica e articulada ao colapso da hegemonia ocidental. Seu objetivo é conter, por qualquer meio necessário, a insurgência do Sul Global, o esgotamento do neoliberalismo e a multiplicação de alternativas à ordem unipolar americana. O fascismo contemporâneo é, portanto, uma contra-revolução preventiva, travada antes mesmo que a revolução aconteça.


A ascensão de Lula e de outras lideranças populares latino-americanas nos anos 2000 representou, aos olhos das elites imperiais, uma ruptura inaceitável na engrenagem da dominação hemisférica. A recusa do Brasil em aderir à ALCA em 2005, os investimentos em integração regional por meio da UNASUL e da CELAC, a aproximação com a África, o fortalecimento dos BRICS, a defesa da causa palestina, a construção de uma política externa altiva e ativa — todos esses movimentos colocaram o Brasil, até então um aliado subalterno dos Estados Unidos, no centro de uma nova gramática geopolítica baseada na soberania e na cooperação entre iguais.


Esse projeto, liderado por Lula com enorme legitimidade interna e respeito internacional, ativou imediatamente os mecanismos de reação. A partir de 2013, com as Jornadas de Junho e a inflexão autoritária global, teve início uma guerra híbrida contra o Brasil, articulada por think tanks liberais, redes de desinformação, setores do Judiciário, do Ministério Público, das Forças Armadas e, sobretudo, pelo aparato internacional de guerra psicológica e manipulação cognitiva. O objetivo dessa guerra nunca foi apenas eleitoral. O que se pretendia — e ainda se pretende — é aniquilar a ideia de um Brasil soberano, forte, solidário e protagonista, capaz de inspirar outros países do Sul Global a desafiar o sistema de comando unipolar.


A eleição de Bolsonaro em 2018 foi o ponto alto dessa operação de desestabilização. Mas a volta de Lula em 2023 frustrou o plano original. E é nesse contexto que se deve entender a reeleição de Donald Trump em 2025: como o relançamento global da ofensiva fascista com um alvo preferencial — Lula e o Brasil.


Trump não é apenas o presidente dos Estados Unidos. Ele é o operador internacional de uma coalizão que articula, de forma aberta, os projetos autoritários de Javier Milei na Argentina, Viktor Orbán na Hungria, Benjamin Netanyahu em Israel, Narendra Modi na Índia e outros representantes do que se pode chamar hoje de Eixo Global do Obscurantismo. Cada um à sua maneira, esses líderes colocam em prática um projeto de poder baseado na destruição da razão pública, na manipulação da fé, na supremacia étnica, na negação dos direitos humanos e na ofensiva contra qualquer forma de redistribuição de riqueza ou poder.


Dentro dessa lógica, o Brasil é visto como o elo a ser quebrado. Lula representa tudo o que a extrema-direita global odeia: um operário pobre que virou presidente, um líder que fala com o Papa e com os povos indígenas, um homem que consegue dialogar com Xi Jinping, Joe Biden, Emmanuel Macron, sindicatos e movimentos camponeses com a mesma serenidade. Mais do que isso, Lula encarna a possibilidade de um modelo alternativo de civilização: um mundo com cooperação em vez de guerra, com soberania em vez de submissão, com integração em vez de recolonização.


É precisamente por isso que ele se tornou um alvo. Trump não aceitará negociar com Lula, não por divergência de políticas, mas porque o projeto que Trump representa — um projeto de saque, de domínio, de destruição institucional — exige a eliminação política, simbólica e diplomática de tudo o que Lula representa. A imagem do Brasil sob Lula precisa ser implodida, vilanizada, deslegitimada. E isso está sendo feito agora, em tempo real, por meio de tarifas comerciais, sabotagens institucionais, campanhas de desinformação e guerra psicológica.


A ofensiva não é apenas contra um governo, mas contra a ideia de que um país periférico possa governar a si mesmo com dignidade. Por isso, o Brasil não vive um “desentendimento comercial” com os EUA. Vive um processo de desestabilização coordenada, em que as estruturas da democracia brasileira — instituições, imprensa, opinião pública — são alvos diretos de ataque.


Neste cenário, Lula não é apenas presidente do Brasil. Ele é, de fato, a principal barreira simbólica e prática ao avanço do fascismo global. E é por isso que a guerra contra ele será total. E é também por isso que a defesa de Lula, hoje, é a defesa da democracia, da soberania e da civilização.

A crise EUA–Brasil: soberania em jogo, democracia sob ataque



O que ocorre hoje entre Brasil e Estados Unidos não é uma disputa diplomática convencional. É uma guerra híbrida em pleno curso, com objetivos claros: desestabilizar o governo Lula, desmoralizar as instituições democráticas brasileiras e preparar o terreno para a volta da extrema-direita ao poder em 2026. Ao contrário da narrativa da imprensa liberal — que insiste em tratar o conflito como uma “tensão comercial” ou uma “diferença de modelos econômicos” — estamos diante de um ataque frontal à soberania brasileira, articulado a partir do coração do poder imperial norte-americano.


Trump não está interessado em diálogo com o Brasil. E a razão é simples: o objetivo do trumpismo é destruir Lula — não negociar com ele. O plano é enfraquecer o governo, fomentar crises internas, sabotar a economia e criar um clima de insatisfação artificial, inflado por redes de desinformação, think tanks infiltrados, agentes empresariais e setores golpistas da máquina estatal. Tudo isso com um objetivo estratégico de longo prazo: fazer do Brasil uma colônia de saque administrada por um fantoche da ultradireita a partir de 2026.


Desde o retorno de Trump ao poder, os sinais têm sido inequívocos. As tarifas unilaterais impostas sobre produtos estratégicos brasileiros — em especial no setor agroexportador e no mercado de terras raras — não são medidas econômicas, mas instrumentos de guerra comercial com função política: gerar instabilidade, desorganizar cadeias produtivas, provocar reações internas e deteriorar a imagem do governo. Trata-se de um cerco gradual, silencioso, mas letal.


Ao mesmo tempo, órgãos de inteligência brasileiros e latino-americanos já detectaram o aumento exponencial de operações coordenadas de desinformação, alimentadas por redes norte-americanas, argentinas e húngaras, todas ligadas à nova internacional fascista comandada por Steve Bannon. O ataque ao STF, à imprensa progressista, às universidades, aos movimentos sociais e ao próprio presidente Lula faz parte de uma operação de guerra psicológica destinada a corroer a confiança do povo em suas instituições.


E, nesse cenário, a tentativa de Lula de dialogar com Trump é tão corajosa quanto estratégica. Lula sabe que o silêncio diplomático não beneficia o Brasil — pelo contrário, reforça a imagem de isolamento que os inimigos da soberania querem construir. Por isso, estendeu a mão. Mas Trump não respondeu. Não porque duvida da intenção pacífica de Lula, mas porque sua agenda é o conflito. Trump quer guerra — e guerra exige inimigos.


Essa recusa ao diálogo, no entanto, não enfraquece Lula — fortalece sua posição histórica. Ao se colocar como o adulto da sala, o líder racional e moderado que propõe a paz e a cooperação, Lula desmascara a verdadeira face do império: um poder que não aceita pares, que não negocia com soberanos, que não convive com democracias populares. Quanto mais o Brasil tentar construir pontes, mais o império revelará sua disposição de destruí-las. E quanto mais o povo perceber isso, mais clara se tornará a natureza assimétrica da guerra em curso.


A repercussão internacional desse confronto é reveladora. Enquanto Trump se isola em sua bolha de alianças neofascistas, líderes democráticos de diferentes continentes começam a reconhecer que a luta de Lula é, na verdade, a luta de todos nós. Diversos representantes do Sul Global, incluindo presidentes africanos, líderes asiáticos e até diplomatas europeus têm expressado preocupação com o que está acontecendo. A percepção geral é que se o Brasil cair, outros seguirão. O que está em jogo não é apenas o mandato de um presidente, mas o futuro da autodeterminação dos povos na era da dominação algorítmica e da guerra informacional.


Não é por acaso que a matéria publicada no New York Times, no dia 28 de julho de 2025, afirmou com todas as letras: “Sovereignty is having a moment.” A frase, ao mesmo tempo irônica e premonitória, reconhece que a batalha geopolítica contemporânea gira em torno de um conceito renegado nas últimas décadas — a soberania. E o Brasil, por sua história, por sua posição geográfica, por sua riqueza e, sobretudo, por Lula, é hoje a linha de frente dessa batalha.


A guerra em curso não é fria. Ela é quente. Só que seus tanques são algoritmos, seus drones são fake news, suas balas são narrativas. A democracia brasileira está sob ataque não com armas químicas, mas com manipulação cognitiva, lawfare, instabilidade cambial, chantagens midiáticas e sabotagens simbólicas. E nesse cenário de múltiplas frentes, a liderança de Lula é, paradoxalmente, também o último escudo da institucionalidade nacional.


O império não quer conversa. Quer rendição. Mas Lula, com a serenidade de quem conhece o povo e a história, não se renderá. E quanto mais o mundo perceber que o Brasil é alvo por ousar sonhar com soberania, mais crescerá a legitimidade de sua resistência.

O artigo do New York Times e o reconhecimento tardio: ‘Sovereignty Is Having a Moment’



No dia 28 de julho de 2025, uma das principais vitrines do establishment intelectual norte-americano publicou um editorial cuja frase-título sintetiza, com desconfortável precisão, o espírito de nosso tempo: “Sovereignty Is Having a Moment.” O New York Times, que por décadas foi o arauto da globalização neoliberal e da supremacia do “livre mercado” como fetiche universal, de repente volta seus olhos para o conceito que sua própria doutrina tentou enterrar: soberania. E o faz não como abstração filosófica, mas como problema concreto — com nome, data e endereço: o Brasil de Luiz Inácio Lula da Silva.


A simples publicação desse editorial já carrega uma confissão geopolítica involuntária. Ao declarar que a soberania “está vivendo um momento”, o jornal admite que algo na ordem global se rompeu. As regras anteriores, baseadas na obediência dos países periféricos às normas do capital financeiro e aos interesses de Washington, já não garantem mais estabilidade nem consentimento. O mundo está mudando. E os vetores dessa mudança vêm de onde menos se esperava: do Sul. Daqueles que a lógica imperial havia condenado à eterna condição de fornecedores de commodities e consumidores endividados de tecnologia.


Nesse cenário de deslocamento histórico, o Times reconhece que Lula representa o primeiro grande obstáculo à nova ofensiva imperial liderada por Trump. Não porque o jornal admire Lula — seu histórico é claro em relação às críticas enviesadas, ao eco dos lobbies financeiros e às omissões deliberadas nos períodos de lawfare. Mas porque, no atual estágio da crise global, ignorar a presença de Lula como ator central na disputa de hegemonia mundial se tornou impossível até para os porta-vozes do império. Há um ponto em que a realidade impõe sua existência mesmo ao cinismo editorial mais sofisticado.


A leitura que o New York Times oferece é, contudo, ambígua. Por um lado, há uma admissão estratégica de que Lula sintetiza uma nova gramática internacional baseada no multilateralismo, na inclusão e na cooperação interdependente — e que essa gramática representa uma ameaça real à ordem autoritária que Trump tenta reestabelecer. Por outro lado, o jornal ainda tenta enquadrar esse movimento dentro da lógica da excepcionalidade — como se o “momento da soberania” fosse uma resposta emergencial, passageira, provocada pelos excessos do trumpismo, e não uma tendência estrutural de contestação ao neoliberalismo e à arquitetura colonial do século XXI.


Essa ambivalência revela uma contradição interna do pensamento liberal: não consegue mais defender a democracia sem recorrer à ideia de soberania, mas também não pode aceitar a soberania plena dos países do Sul sem colapsar sua própria estrutura de dominação. Lula, nesse sentido, encarna o impasse. Ele é, ao mesmo tempo, a figura que encarna os valores democráticos — inclusão, diálogo, estabilidade, respeito às instituições — e o símbolo daquilo que a ordem imperial mais teme: um povo governando a si mesmo, por meio de um líder que não deve nada a Wall Street, ao Departamento de Estado, nem às fundações financiadas por bilionários tecnocratas.


O artigo do Times, portanto, não deve ser lido apenas como um gesto de reconhecimento. Deve ser lido como o sinal de que o império sabe que está perdendo o controle do imaginário internacional. A imagem de Lula não é mais passível de controle externo. Ela se multiplicou, escapou das molduras editoriais, e passou a circular como símbolo vivo daquilo que se tenta suprimir: a possibilidade de um mundo governado por projetos populares, humanistas e soberanos.


A consagração tardia de Lula como figura central da resistência democrática global não é um presente da mídia norte-americana. É uma vitória da história — e uma confirmação de que a luta valeu a pena. É também um aviso para os estrategistas do caos: quanto mais atacarem Lula, mais o mundo perceberá o que está realmente em jogo.


A soberania está, de fato, vivendo um momento. Mas não é um instante isolado. É o retorno histórico de um princípio fundamental ao centro da política mundial. E Lula, com todas as contradições e grandezas que o compõem, é hoje seu rosto mais legítimo, mais potente, mais perigoso para o sistema — e mais necessário para os povos.

O que está por vir (2025–2026)



A história não se repete como farsa ou tragédia. Ela se move por contradições, saltos, rupturas e reorganizações. O presente é sempre uma encruzilhada em disputa, e o futuro, uma síntese contingente das forças que se enfrentam no agora. Com esse princípio, o que se pode prever do cenário brasileiro e global entre 2025 e 2026 não é um roteiro fixo, mas uma arena de possibilidades em que Lula — e o povo — ocupam posições centrais. O que faremos aqui, portanto, é um exercício preditivo ancorado na análise concreta das contradições reais, sem determinismo, mas com a radicalidade necessária à tarefa de nomear o que está em jogo.


A primeira hipótese é a da radicalização da guerra híbrida contra o Brasil e contra Lula. A reeleição de Donald Trump não representa apenas a volta de um projeto reacionário no comando do Estado norte-americano. Ela marca a consolidação de uma estratégia de dominação global por meio da desestabilização controlada das democracias periféricas, especialmente aquelas que ousaram retomar caminhos soberanos. O Brasil é o alvo número um. E Lula, como já anunciado por Bannon, é o “último inimigo relevante” antes da vitória total do fascismo planetário. Essa guerra não se dará com tanques, mas com tarifas, sabotagens cognitivas, ataques especulativos, lawfare, judicializações cirúrgicas, fabricação de escândalos morais, narrativas corrosivas e operações internacionais de cerco simbólico.


A segunda hipótese é a da recusa permanente do diálogo por parte de Trump. Mesmo que Lula mantenha sua postura de moderação, apelo à paz, racionalidade diplomática e abertura ao diálogo multilateral, os EUA de Trump não responderão. E não porque Lula esteja errado — mas porque o objetivo do império não é o equilíbrio, é a submissão. A estratégia é forçar o colapso da institucionalidade brasileira, gerar sensação de isolamento e alimentar a instabilidade interna. Essa recusa, paradoxalmente, será um trunfo para Lula no plano simbólico. Ela deixará claro que o Brasil quer paz — e o império quer guerra. A opinião pública internacional, sobretudo no Sul Global e na Europa em crise, reconhecerá Lula como voz lúcida cercada por uma ordem decadente em fúria.


A terceira hipótese é a da intensificação da desestabilização interna, com acúmulo de tensões até outubro de 2026. Não há dúvida de que o ano eleitoral será tratado pela extrema-direita como o momento da revanche. Todos os instrumentos serão usados: fake news em escala industrial, cooptação de militares da reserva, chantagens empresariais, criação de “escândalos” e tentativa de fabricar rupturas institucionais via Judiciário. O objetivo será produzir uma sensação de ingovernabilidade progressiva, para que, ao chegar 2026, o cenário esteja pronto para a volta de um candidato de extrema-direita — domesticado, colonizado, disposto a entregar as riquezas do país em troca de estabilidade para os donos do mundo. Esse plano já está em curso.


A quarta hipótese, contudo, é a da possível emergência de uma rede internacional de resistência democrática em torno da figura de Lula. O editorial do New York Times foi o primeiro sintoma de um deslocamento. Muitos governos e lideranças sociais do Sul Global — e mesmo setores democráticos da Europa e dos EUA — já perceberam que o que está em jogo não é “o Brasil”, mas a própria viabilidade da democracia como ideia universal. Diante do avanço da barbárie, Lula pode se tornar o catalisador de um novo bloco histórico global, que reúna movimentos populares, lideranças soberanistas, intelectuais e até chefes de Estado em torno de uma agenda comum: paz, multilateralismo, justiça climática, redistribuição de poder e controle democrático sobre a tecnologia.


Esse é o ponto central da disputa: ou o futuro será recolonizado pelo algoritmo fascista da guerra híbrida, ou será reconstruído a partir de projetos populares de soberania. Lula, por sua trajetória, legitimidade e capacidade de articulação global, é a única figura pública viva com trânsito real entre todos esses campos. Nenhum outro líder hoje consegue falar com Xi Jinping e o Papa Francisco, com camponeses e chefes de Estado, com diplomatas da ONU e militantes de base — sem ser visto como ameaça ou impostor. E é exatamente isso que o torna perigoso para o império — e necessário para a humanidade.


Finalmente, a quinta hipótese — que não é previsão, mas convocação — é a da necessidade de reorganização da trincheira democrática internacional a partir do Brasil. O tempo é curto. O ataque será intenso. Mas o Brasil, em 2025, voltou a ocupar o centro da história. E isso não é coincidência: é o resultado de uma luta que não começou agora e que não se encerrará em outubro de 2026. A tarefa dos próximos meses é clara: proteger Lula, fortalecer o projeto democrático-popular, desmontar a máquina de guerra psicológica e construir alianças nacionais e internacionais em defesa da vida, da dignidade e da soberania.


Porque, se perdermos Lula, perderemos mais que um presidente. Perderemos o último escudo entre a humanidade e o abismo.

Lula como sujeito histórico global: biografia, síntese e confronto



A vida de Luiz Inácio Lula da Silva, desde seu nascimento pobre no sertão nordestino até se tornar um dos líderes mais reconhecidos do mundo, não é apenas uma biografia individual. Ela é um microcosmo de todas as contradições que o Brasil e o mundo enfrentam ao longo dos séculos, condensadas em uma pessoa, em sua trajetória. A história de Lula, com todas as suas quedas e ascensões, seus acertos e erros, não pode ser analisada como um mero fenômeno pessoal. Ela é a manifestação da luta de classes no Brasil, a luta por dignidade, pela democratização do poder, pela resistência à exploração do capital global e pela afirmação da soberania dos povos. Lula não é apenas um líder carismático — ele é um sujeito histórico que, por meio de sua vida e obra, coloca em cheque os pilares do sistema que o oprimiu.


Nascer pobre no interior de Pernambuco, crescer sob a sombra da miséria, trabalhar como operário metalúrgico e líder sindical, e depois chegar à presidência da República não é apenas uma ascensão pessoal. Esse percurso é um reflexo de um movimento coletivo, da luta de milhões de brasileiros que, ao longo do século XX, tentaram romper as correntes do subdesenvolvimento e da dependência. A experiência de Lula é a síntese da luta pela soberania nacional, do enfrentamento da pobreza, da afirmação da classe trabalhadora, e da construção de uma nova ordem social que coloque as necessidades humanas à frente dos lucros do mercado.


Lula não foi apenas o presidente do Brasil. Ele é, e sempre foi, o líder da resistência histórica contra o imperialismo que tenta controlar e submeter os povos do Sul Global. Seu governo representou o ápice de uma estratégia que começou na década de 1980, com o movimento sindical dos metalúrgicos, e que teve o apoio popular na década seguinte, quando o Partido dos Trabalhadores (PT) conquistou a presidência e abriu um caminho para a reconstrução nacional. Lula foi, e continua sendo, a expressão viva da contestação ao capital financeiro internacional e a todas as formas de opressão que os povos periféricos sofrem.


Sua ascensão à presidência, em 2002, não pode ser lida como uma simples vitória eleitoral. Foi a vitória da democracia popular sobre os obstáculos impostos por elites econômicas e políticas, que por muito tempo governaram o Brasil à margem das aspirações populares. Ao assumir o cargo, Lula simbolizou a resistência aos golpes de mercado que arruinavam a economia nacional e a construção de um projeto que, pela primeira vez, colocava o Brasil na posição de agente ativo e soberano no cenário internacional.


Lula, com sua figura ímpar, se tornou a pedra no sapato do imperialismo, da extrema-direita global e dos setores conservadores do Brasil e do mundo. Ele se manteve firme diante da pressão externa para se submeter à ordem financeira global e fez do Brasil um protagonista de sua própria história. Ele não só resgatou os valores da democracia e do bem-estar social como também colocou na mesa questões até então interditadas, como a soberania nacional e a necessidade de uma política externa independente, em um mundo dominado por um unipolarismo americano.


O desafio que Lula enfrenta agora — com as novas ondas de ataques, desinformação e as tentativas de destruição da imagem de sua liderança — não é apenas uma luta pela preservação de seu legado político, mas pela defesa da possibilidade de um outro futuro para o Brasil e o mundo. A crítica constante à sua figura, a tentativa de associá-lo a uma “ameaça socialista” e a construção de narrativas de ódio são apenas tentativas desesperadas de barrar aquilo que Lula representa: a possibilidade de um Brasil soberano, democrático e socialmente justo.


Hoje, diante das ameaças e desafios do império, Lula se torna a última resistência genuína contra o avanço do obscurantismo fascista. Seu soft power não é apenas uma expressão de sua habilidade diplomática, mas um reflexo de um profundo processo histórico que o coloca como líder de um movimento global pela manutenção da democracia, pela soberania dos povos e contra a ascensão de regimes autoritários que tentam submeter os países ao comando de grandes potências.


A biografia de Lula é a biografia do Brasil, da classe trabalhadora, do povo pobre que nunca se calou. Lula é o herói moderno que, em sua trajetória, sintetiza todas as lutas por justiça social e pela defesa dos valores iluministas em tempos de crescente obscurantismo. Sua jornada não terminou, e a história continuará a escrever seu nome como o último grande líder da luta pela soberania e pela humanidade.

Entre o golpe e a esperança — O Brasil no centro do mundo



O Brasil voltou ao centro do mundo. E não por sua economia, nem por suas commodities, mas por algo infinitamente mais valioso: sua capacidade de oferecer ao planeta um projeto de civilização em tempos de barbárie. Num momento em que a ordem internacional colapsa sob o peso da guerra híbrida, da manipulação algorítmica, da financeirização total da vida e da ascensão da extrema-direita global, o Brasil de Lula emerge como a última trincheira aberta da soberania democrática e popular no Sul Global.


O enfrentamento com Trump — mais do que uma disputa entre chefes de Estado — sintetiza dois projetos de mundo absolutamente incompatíveis. De um lado, a dominação recolonizadora do império em crise, que aposta na instabilidade para manter sua centralidade. De outro, a esperança concreta de que um país periférico possa governar a si mesmo, dialogar com todos e reconstruir um pacto civilizacional baseado na justiça social, no multilateralismo e na paz.


Não é casual que todos os instrumentos de guerra híbrida estejam sendo mobilizados contra Lula: lawfare, sabotagem econômica, desinformação massiva, cerco midiático, chantagem diplomática e tentativa de isolamento internacional. O objetivo é claro: impedir que sua liderança simbólica continue irradiando força, legitimidade e horizonte para os povos do Sul e para os setores democráticos do mundo. O que está em jogo não é apenas sua imagem ou seu governo — é a possibilidade de um mundo em que os pobres possam existir com dignidade.


Mas Lula resiste. E, ao resistir, faz da própria existência uma declaração política, uma linha de defesa contra o fascismo transnacional. Seu gesto de buscar o diálogo, mesmo quando sabe que será recusado, não é ingenuidade — é estratégia. Ao estender a mão e ser ignorado, Lula obriga o império a mostrar o que é: um poder que não tolera soberania alheia, que não negocia com iguais, que só reconhece vassalos. E, ao fazer isso, Lula se transforma — mais uma vez — no ponto de convergência das esperanças democráticas do século XXI.


O Brasil, que já foi reduzido a laboratório de golpes, agora pode ser o centro irradiador de um novo pacto mundial. Não pela força das armas, mas pela força de um povo que luta, de um projeto de país que se recusa a morrer, e de um líder que não se curvou. Se o século XXI tiver salvação, ela não virá dos think tanks de Washington, nem dos algoritmos de Palo Alto, nem dos arsenais de Tel Aviv. Ela virá de experiências concretas de resistência popular. E entre todas elas, a do Brasil de Lula é hoje a mais potente, mais simbólica e mais ameaçadora para a lógica do capital global.


Estamos entre o golpe e a esperança. A encruzilhada de 2025 exige clareza. O que Lula representa é maior do que sua trajetória. Ele se tornou o sujeito histórico de uma época marcada por catástrofes — e também pela luta por sobrevivência coletiva. Proteger Lula é proteger a democracia, o multilateralismo, a soberania informacional, os direitos dos povos, o futuro.


Se o império avança, é porque sabe do perigo que Lula representa. Se o povo o protege, é porque sabe da promessa que ele carrega.


O tempo é agora. A história não perdoa a covardia. E o Brasil tem, neste momento, a chance rara de fazer do seu presidente não apenas um estadista — mas uma referência mundial de resistência, justiça e humanidade.

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