O Brasil é uma máquina de passado, diz Wanderley Anchieta

Atitude Popular
21 de mai.
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Pesquisador analisa o poder das narrativas simples e os riscos da regressão autoritária até 2030

Em entrevista ao programa Democracia no Ar, da TV Atitude Popular, o pesquisador Wanderley Anchieta alertou para o uso estratégico de narrativas simplificadas pela extrema direita e defendeu a necessidade de reorganização popular frente à guerra híbrida em curso. A conversa teve como ponto de partida o artigo O futuro em disputa: diagnóstico da guerra híbrida no Brasil (2025–2030), que Anchieta assina em coautoria com Reynaldo Aragon.

“O Brasil é uma máquina de passado”, afirmou. Segundo ele, a repetição de ideias simples, como “homem é homem, mulher é mulher” ou “bandido bom é bandido morto”, não apenas cola, mas estrutura o imaginário de parte expressiva da população.

“Se você repete uma ideia simples centenas, milhares de vezes, ela não se torna verdade, mas passa a ser aceita como se fosse”, disse.

Professor da Universidade Federal Fluminense, Anchieta destacou que as forças conservadoras compreenderam a força cognitiva da simplificação.

“Os conservadores preferem respostas claras. Isso tem efeito direto na disputa narrativa”, observou.

Para ele, a esquerda erra ao subestimar essa estrutura discursiva.

“A gente gosta de complexidade, gosta de várias vozes. Mas, em termos comunicacionais, isso nos fragiliza.”

Durante a entrevista, Anchieta apresentou os quatro cenários delineados no artigo. O mais temido por ele é o retorno da extrema direita ao poder. Outro cenário possível seria uma reorganização popular que dispute as redes com linguagem acessível e ação coordenada.

“A gente precisa conseguir atuar na comunicação sem assustar e dando respostas objetivas”, defendeu.

Ao final, fez uma provocação:

“Não adianta só dizer que o governo está certo. A pessoa está o dia inteiro trabalhando, não tem tempo de refletir. A direita chega antes, com uma ideia só. E essa ideia cola.”