O silêncio estratégico de Trump: por que o cão que ladra para a Venezuela se cala diante de Lula
- Sara Goes
- há 1 minuto
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Há um esporte popular entre analistas políticos: subestimar Donald Trump, pintando-o como uma força do caos, um líder errático movido a impulsos e a um ego indomável. Sua recente coletiva de imprensa, no entanto, oferece um fascinante contra-argumento.

O que pareceu um discurso disperso foi, na verdade, uma aula de cálculo político, e a prova mais contundente está no que ele não disse. O nome "Lula", foneticamente tão simples, "Loo-lah", foi cuidadosamente evitado, e essa omissão revela um estrategista que sabe exatamente com quem pode brigar e, mais importante, com quem não deve.
A tática de Trump pode ser resumida em um princípio: criar sempre um campo de batalha assimétrico. Ele não busca o confronto justo; ele busca a vitória performática e garantida. Observemos o alvo que ele escolheu: a Venezuela. Atacar um país já isolado diplomaticamente e enfraquecido economicamente é o equivalente geopolítico a chutar cachorro morto. Ao anunciar que "eliminou" um barco de drogas vindo de lá, Trump constrói para sua plateia uma imagem de força e decisão com risco zero. Não haverá retaliação econômica significativa, nem uma crise diplomática com as potências mundiais. É uma briga ganha antes de começar, um espetáculo de baixo custo e alta recompensa para sua base.
Agora, apliquemos esse mesmo cálculo a um confronto direto com o presidente Lula. O cenário muda drasticamente. Atacar Lula não é atacar a caricatura de um ditador isolado; é confrontar o líder de uma das maiores economias do mundo, uma potência do agronegócio e figura central no G20. Mais do que isso, é desafiar um dos poucos líderes globais com trânsito livre e influência real tanto em Washington e Bruxelas quanto em Pequim e no Sul Global.
Um ataque nominal a Lula abriria uma caixa de Pandora que o pragmatismo de Trump não permite. Significaria arriscar retaliações comerciais que poderiam afetar setores importantes da economia americana. Significaria entrar em uma batalha diplomática em que Lula poderia mobilizar aliados em múltiplos continentes, isolando não o Brasil, mas potencialmente os próprios Estados Unidos em fóruns internacionais. A briga deixaria de ser um monólogo triunfante para se tornar um xadrez complexo e de resultado incerto. Trump, o showman, entende que esse tipo de luta não rende bons frutos para seu espetáculo.
É aqui que a semiótica do silêncio se torna uma ferramenta de estratégia, não de insulto. A ausência do nome "Lula" é um ato de contenção deliberada. Permite que Trump faça todos os acenos necessários à base bolsonarista, atacando Moraes, aplicando sanções, fustigando a esquerda continental através do bode expiatório venezuelano, sem jamais cruzar a linha vermelha que provocaria uma resposta oficial e contundente do governo brasileiro.
Ele ataca o pecado sem nomear o pecador
Portanto, o silêncio de Trump sobre Lula, por incrível que pareça, é um respeito nascido não da admiração como no caso de Putin, mas do reconhecimento frio do poder. Revela um predador político que entende a diferença entre uma presa fácil e um adversário à altura. Enquanto muitos veem um bufão errático, a calculada omissão de um nome tão simples de pronunciar expõe o estrategista por trás da cortina. Ele não briga com Lula pela mesma razão que um lobo experiente não ataca o líder da matilha rival em seu próprio território: ele sabe que há batalhas que é mais inteligente simplesmente não travar.
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