O exercito digital da democracia
- Rey Aragon
- há 3 dias
- 13 min de leitura

A trincheira da soberania informacional.
O Brasil já tem um exército popular pronto para a guerra informacional — só falta o governo convocá-lo. Eles nunca usaram terno. Nunca foram convidados. Mas já seguram, há décadas, a linha de frente da democracia digital. Agora é hora de convocar a tribo inteira para defender o Brasil do ataque tecnofascista que se arma para 2026.
O Grito de Brasília.

No dia 17 de julho de 2025, algo se moveu nas entranhas da democracia brasileira. Pela primeira vez, de forma pública, contundente e sem eufemismos, o presidente da República reconheceu aquilo que militantes, pesquisadores, jornalistas livres e ativistas vêm alertando há quase duas décadas: o Brasil está sob ataque. Não se trata apenas de embates ideológicos ou disputas eleitorais, mas de uma guerra híbrida, silenciosa e contínua, travada no território digital. E o inimigo não usa farda — ele se oculta por trás de logotipos coloridos de empresas bilionárias, cabos submarinos, algoritmos opacos e campanhas globais de desinformação.
No pronunciamento histórico, Lula nomeou com todas as letras o que por muito tempo se tentou esconder: as big techs exercem um poder nefasto sobre a sociedade brasileira. Elas moldam comportamentos, interferem em decisões políticas, desestabilizam instituições e pavimentam o caminho para o avanço do neofascismo digital. A denúncia foi feita em nome da soberania nacional. Foi um grito necessário. Mas um grito, por mais forte que seja, precisa de eco, organização e estratégia. E é exatamente aí que entra o papel da sociedade.
Porque a verdade é que, neste exato momento, o Brasil já possui um exército soberano, descentralizado, altamente qualificado e orgânico. Um exército que não depende do aparato formal do Estado para existir, porque surgiu das margens, da luta popular, da cultura hacker, do software livre, das trincheiras da comunicação alternativa e da pesquisa acadêmica comprometida com o interesse público. Um exército feito de programadores, jornalistas, cientistas, ativistas e educadores que compreenderam que a informação, a técnica e o código são hoje os principais campos de disputa política no século XXI.
Esse exército está de pé. Ele se articula em torno de redes de soberania informacional, plataformas colaborativas, datacenters populares, sistemas operacionais independentes, iniciativas territoriais de internet comunitária e formação tecnológica de base. Ele resistiu ao obscurantismo, enfrentou a captura da informação pelas elites e sustentou, com sua própria infraestrutura, a continuidade de projetos democráticos mesmo quando as instituições estavam sendo tomadas de assalto.
A fala de Lula foi um marco. Mas ela não pode terminar em si. Ela precisa ser o ponto de virada em uma estratégia nacional de enfrentamento à guerra informacional. E, para isso, o governo precisa enxergar que as trincheiras da democracia não estão apenas nos palácios e ministérios — estão também nas cooperativas tecnológicas, nos sindicatos conectados, nas universidades periféricas, nas lan houses do interior, nas rádios livres, nos coletivos de jovens negros e indígenas que dominam o código e a narrativa digital como poucos no mundo.
Este artigo é um chamado. Um chamado para que o Brasil reconheça a força que tem. Para que o Estado convoque os que sempre estiveram na linha de frente. E para que, enfim, se construa um projeto nacional de soberania informacional e digital que una governo, sociedade civil, academia, movimentos populares e toda a tribo tecnopolítica em torno de um objetivo comum: garantir que a democracia brasileira sobreviva ao cerco que já começou — e que se vencerá, desta vez, pelo controle soberano da técnica e da informação.
A Técnica Sempre Teve Lado: Quem Controla a Ferramenta, Controla o Futuro.

A técnica nunca foi neutra. A história da humanidade está profundamente entrelaçada com o uso da técnica como instrumento de poder. Desde o arado até o algoritmo, as elites sempre buscaram se apropriar dos meios técnicos como forma de perpetuar sua dominação sobre os corpos, os territórios e as subjetividades. O que hoje chamamos de “revoluções tecnológicas” nada mais foram do que ciclos de concentração de poder em torno de novas ferramentas, sempre comandadas por uma minoria capaz de controlá-las, restringi-las ou vendê-las sob a lógica da escassez artificial.
Karl Marx já alertava que o desenvolvimento técnico no capitalismo não visa emancipar, mas explorar. A máquina, longe de libertar o trabalhador, foi por ele apropriada como forma de intensificar o ritmo do trabalho e ampliar a mais-valia. A técnica, nesse contexto, foi sequestrada. Lewis Mumford, em sua crítica às megamáquinas modernas, apontava que o sistema técnico tende a formar um “complexo autoritário” quando subordinado aos interesses do lucro e da guerra, afastando-se completamente de seu potencial libertador. A técnica, portanto, sempre teve lado — e quase sempre esteve do lado errado da história.
O mesmo se aplica ao mundo digital. A internet, que poderia ter sido um espaço livre de compartilhamento e produção cooperativa do saber, foi rapidamente capturada pelo capital financeiro e pelo complexo militar-informacional do Ocidente. O que se vende como “rede aberta” é, na prática, um império centralizado controlado por poucas empresas que operam como plataformas imperiais. As big techs não apenas vendem dados — elas colonizam o tempo, o desejo, a linguagem e a própria percepção da realidade.
Essa captura da técnica produz uma nova forma de dominação: não mais baseada apenas na força bruta, mas na modelagem dos comportamentos e dos afetos. A dominação pelo design, pela personalização algorítmica, pela vigilância ubíqua. A técnica deixou de ser ferramenta e passou a ser ambiente, ecossistema, sistema nervoso da vida cotidiana. E, neste contexto, não há neutralidade possível: ou ela serve à soberania dos povos, ou será instrumento de sua submissão.
Por isso, o debate sobre soberania informacional e técnica não pode ser periférico nem tratado como tema “de nicho” ou “dos especialistas”. Ele é central para a sobrevivência democrática. A pergunta fundamental que devemos fazer hoje é: quem controla a infraestrutura da informação? Quem decide os critérios de visibilidade, os fluxos de dados, os modelos de IA, as formas de remuneração dos criadores, os filtros que separam o que é visto do que é invisibilizado? A resposta, ainda, é: as mesmas elites transnacionais que controlam o capital, a política e a ideologia global.
Mas não precisa ser assim.
Governos soberanos têm o dever histórico de romper com essa lógica e colocar a técnica a serviço da coletividade. A apropriação popular da técnica — por meio de redes autônomas, software livre, protocolos descentralizados, IA pública, letramento informacional crítico e soberania de dados — não é um sonho utópico: é uma estratégia real, concreta e já em curso nas margens, nas periferias, nas universidades, nas aldeias tecnológicas que vêm se formando pelo país afora. E é essa apropriação que precisa ser convocada, fortalecida e financiada como política de Estado.
Porque o futuro será definido não por quem tem mais dinheiro ou poder bélico, mas por quem tiver mais capacidade de controlar sua própria técnica, sua própria informação e sua própria narrativa. E, nesse jogo, o Brasil não parte do zero. A nossa tribo já conhece os caminhos.
O Exército Invisível Está Pronto: Quem São os Guerreiros da Soberania Digital.

Enquanto Brasília ainda hesitava em reconhecer que a guerra informacional já estava em curso, milhares de brasileiros e brasileiras, de norte a sul do país, já construíam trincheiras tecnológicas nas beiradas do sistema. Eles não usavam terno nem paletó. Não ocupavam cargos de confiança nem gabinetes refrigerados. Usavam terminal Linux, VPN, criptografia ponta a ponta, hospedagens independentes e, sobretudo, consciência crítica do território digital que habitamos. Esses são os verdadeiros guerreiros da soberania digital brasileira. E eles já estão prontos.
Durante décadas, a militância do software livre, da cultura hacker, das rádios comunitárias, dos observatórios da mídia, dos defensores da neutralidade da rede e da criptografia popular formou, silenciosamente, uma base qualificada, politizada e combativa que compreende a técnica como campo de disputa histórica. Não se trata apenas de dominar linguagens de programação. Trata-se de compreender os códigos como estruturas de poder, os algoritmos como ferramentas ideológicas, as plataformas como arenas de combate simbólico.
Em cooperativas autônomas, universidades públicas, institutos federais, centros de cultura digital, hacklabs de periferia e territórios indígenas conectados à base de satélite e fibra ótica, formou-se uma verdadeira inteligência coletiva nacional — uma tecnopolítica do povo. Uma rede viva, descentralizada, autônoma e já em operação. Essa rede não espera autorização do Estado para existir. Ela já resiste há anos, mesmo sob governos hostis, orçamentos inexistentes e campanhas de criminalização. E é justamente por isso que ela é forte: porque nasceu da necessidade e sobreviveu à exclusão.
O Brasil é um dos únicos países do mundo onde a pauta do software livre se articulou com os movimentos sociais desde o início dos anos 2000. O Fórum Internacional do Software Livre (FISL), o histórico Projeto Metá-Mídia, o Instituto Nupef, o Coletivo Digital, os hackerspaces, os movimentos como Cultura Viva, Mídia Tática, Garoa Hacker Clube, os programas de inclusão digital e rádio comunitária, as redes de comunicação alternativa como a Mídia Ninja, o Intervozes, a Rede Unipop, a articulação da AI Pública, as universidades que formam e pesquisam inteligência artificial com base crítica — tudo isso compõe o que chamamos de exército invisível da soberania digital brasileira.
Esses sujeitos não querem ser CEO de startup. Eles querem construir plataformas livres. Não querem monopólio sobre dados: querem governança democrática sobre a informação. Não querem lucro com publicidade: querem inteligência social e tecnológica a serviço da transformação coletiva. Eles não estão nos palcos do Vale do Silício, mas nas quebradas, nos quilombos, nas aldeias, nos sindicatos, nas universidades do sertão, nas feiras de ciência da escola pública, no meio do mato com um roteador solar nas costas.
É esse exército que o governo precisa convocar. É essa inteligência que deve ser reconhecida como estratégica para o projeto de soberania nacional. Ignorá-los seria, mais uma vez, repetir o erro histórico de achar que a técnica é coisa de especialistas engravatados. Não é. A técnica, quando apropriada pelo povo, vira ferramenta de libertação. E esse povo já aprendeu a usar a máquina.
Neste momento, o Brasil vive um dilema: ou institucionaliza e fortalece essa força tecnopolítica que já atua no subterrâneo da democracia, ou verá a extrema-direita se aproveitar novamente da hegemonia das big techs para tentar mais um assalto ao país em 2026 — com ainda mais precisão algorítmica, com ainda mais poder de convencimento, com ainda mais inteligência artificial operando o ódio e a mentira.
Só há uma saída real: convocar o exército que já existe — e dar a ele recursos, reconhecimento e centralidade na estratégia nacional de soberania informacional. Porque a guerra não é futura. Ela já começou. E o Brasil, ao contrário do que muitos pensam, já tem seus soldados. Faltam apenas os escutar.
A Guerra Já Começou: Big Techs, Trumpismo e o Cerco ao Brasil.

A guerra não é metáfora. Ela é real. E já começou.
Durante muito tempo, parte do campo progressista hesitou em reconhecer o óbvio: que estávamos diante de uma ofensiva informacional massiva, coordenada e transnacional contra as democracias do Sul Global. Hoje, depois das eleições hackeadas, dos golpes com aparência legal, da destruição de reputações por meio de campanhas digitais, do lawfare, da desinformação em massa e do avanço do neofascismo algorítmico, não dá mais para negar: o território da guerra é a informação. E o Brasil é um dos principais alvos.
A ofensiva liderada por Donald Trump contra o Brasil — e verbalizada com escárnio nas últimas semanas — não é um ato isolado de arrogância imperial. É parte de uma estratégia geopolítica coordenada, que busca desestabilizar governos soberanos da América Latina para manter a região sob tutela neocolonial, agora operada não mais por frotas militares, mas por corporações digitais. Os algoritmos substituíram os tanques. Os dados, os tratados. As plataformas, os embaixadores. A guerra mudou de roupa — mas não de propósito.
As Big Techs operam como braço civil do imperialismo digital. Suas sedes estão nos Estados Unidos, seus interesses são alinhados com o projeto geopolítico norte-americano e seus algoritmos são desenhados para manter a ordem estabelecida. Quando falamos de Google, Meta, X (antigo Twitter), Amazon, TikTok, Palantir ou OpenAI, estamos falando de instrumentos técnicos de um projeto de dominação global da subjetividade, da linguagem, da atenção e da política.
O Brasil, por sua posição estratégica, por sua dimensão continental, por seu protagonismo energético, ambiental e diplomático, tornou-se um dos principais laboratórios desse novo tipo de guerra. A eleição de 2018 não teria ocorrido sem o uso criminoso do WhatsApp e do Facebook para disparos em massa de fake news. O 8 de janeiro de 2023 foi organizado com meses de antecedência por redes digitais que seguem, até hoje, blindadas pelas plataformas. E o que se viu nos últimos dias foi a ofensiva chegar ao seu estágio seguinte: a tentativa de isolar o Brasil economicamente por meio de sanções retaliatórias e chantagens digitais, exatamente no momento em que o país avança para regular o uso das plataformas.
O que está em jogo não é apenas a liberdade de expressão. É a soberania nacional. É o direito do Estado brasileiro de proteger seu povo da manipulação, da mentira sistemática e do sequestro da verdade operado por máquinas otimizadas para viralizar o ódio. É o direito de existir com autonomia num mundo hiperconectado onde a infraestrutura da comunicação está, em sua maioria, sob controle privado de potências estrangeiras.
O trumpismo, enquanto ideologia global, opera como ponta de lança de uma ofensiva tecnofascista. Ele se articula com plataformas digitais, com think tanks, com grupos supremacistas, com igrejas fundamentalistas, com grandes empresários e com agências de inteligência. Seu objetivo é claro: substituir a democracia por uma estética de força, uma moralidade de mercado e um totalitarismo algorítmico mascarado de liberdade individual.
No Brasil, a resistência a essa ofensiva só será possível se compreendermos que a batalha é técnica, cultural, política e simbólica ao mesmo tempo. E que a esquerda, os movimentos sociais, os sindicatos, as universidades e os partidos democráticos não podem mais tratar a internet como um “meio de comunicação” — ela é o campo de batalha inteiro.
O Estado brasileiro precisa entender que sem soberania digital não há soberania política. Que as big techs, quando não reguladas, se tornam governos paralelos — mais poderosos que ministérios, mais influentes que partidos, mais rápidos que qualquer medida institucional. Que a desinformação não é um acidente: é o modelo de negócios.
E que, se não agirmos agora, 2026 pode ser o último capítulo da democracia como a conhecemos.
É Hora da Convocação: Da Defesa ao Contra-ataque Popular.

Não basta mais resistir. O tempo da simples defesa já passou. O Brasil precisa sair da retaguarda e assumir uma posição de contra-ataque estratégico, técnico e popular. A extrema-direita global, amparada pelas big techs e pelo capital financeiro internacional, age com método, com planejamento e com base tecnológica avançada. Se quisermos vencê-la, precisamos de organização, capilaridade e coragem para inverter a lógica do poder sobre a técnica.
O governo brasileiro tem, hoje, uma oportunidade histórica. Pela primeira vez desde o início da era digital, um presidente da República reconheceu publicamente o papel destrutivo das plataformas no funcionamento da democracia. Esse gesto não pode terminar como retórica. É preciso ação. E essa ação não virá de um único ministério, nem apenas de leis regulatórias, embora ambas sejam fundamentais. Ela precisa se estruturar em um plano nacional de soberania informacional, que articule poder público e poder popular em uma grande aliança tecnopolítica pela democracia.
Esse plano deve ter como um de seus pilares centrais a convocação, formação e fortalecimento do exército invisível da soberania digital — aquele que já atua, nas sombras e nas margens, sustentando a infraestrutura crítica da resistência democrática. Essa força está nos coletivos hackers, nas universidades públicas, nos centros de pesquisa em IA crítica, nas rádios comunitárias, nos desenvolvedores de software livre, nos comunicadores de favelas, nos quilombos digitais, nas bibliotecas públicas conectadas por redes comunitárias, nas escolas técnicas, nos movimentos de educação midiática. É esse povo que precisa ser reconhecido como força estratégica da nação.
Para isso, o Estado deve agir em três frentes imediatas:
1. Formação política e técnica de base:
Capacitar sindicatos, movimentos sociais, centros comunitários, escolas públicas e organizações populares para compreenderem e dominem os fundamentos da comunicação digital, da segurança cibernética, da IA e das redes descentralizadas. Trata-se de uma campanha de alfabetização tecnológica de resistência, que forme multiplicadores em todo o país.
2. Fomento direto à infraestrutura digital soberana:
Investimento público em datacenters nacionais, plataformas cooperativas, redes autônomas, alternativas de inteligência artificial públicas e de código aberto. A infraestrutura da democracia não pode depender de empresas que lucram com o caos.
3. Aliança institucional com a militância tecnopolítica:
O governo precisa institucionalizar canais de escuta e colaboração com os atores históricos da resistência digital no Brasil. Não se trata de cooptar ou burocratizar essa força, mas de reconhecê-la como parceira estratégica no enfrentamento à guerra híbrida. É hora de criar espaços permanentes de diálogo entre Estado, universidades, movimentos sociais e coletivos tecnopolíticos.
Porque não se enfrentam algoritmos com discurso, nem campanhas de ódio com boas intenções. É preciso resposta técnica, estratégica e massiva. E o Brasil, ao contrário do que pensam os cínicos e os entreguistas, tem tudo o que precisa para liderar essa virada — desde que tenha vontade política para isso.
O que está em jogo é a própria continuidade da democracia brasileira. 2026 será um marco, e o tempo da preparação é agora. A guerra é digital, mas a vitória será popular. E só haverá vitória se o povo dominar as ferramentas, as redes, os dados e os códigos que moldam a realidade.
É hora de convocar a tribo inteira.
Conclusão: A Técnica a Serviço da Democracia.

A democracia do século XXI não sobreviverá com os instrumentos do século XX. A luta política não se trava apenas nas urnas, nos parlamentos ou nas ruas. Ela acontece, cada vez mais, no invisível: no código, no tráfego de dados, nos filtros algorítmicos, nas redes de manipulação de afetos, nos servidores em nuvens estrangeiras que hospedam nossa imaginação coletiva. E é justamente por isso que a soberania informacional deixou de ser um tema técnico — ela é agora questão de existência nacional.
A técnica, historicamente apropriada pelas elites para aprofundar desigualdades, precisa, pela primeira vez, ser colocada a serviço da democracia popular. Isso só será possível se governos progressistas entenderem que os grandes projetos nacionais não se fazem mais apenas com obras físicas e políticas públicas convencionais, mas com infraestrutura digital soberana, tecnologias emancipadoras e formação crítica da cidadania para o enfrentamento do novo tipo de guerra que nos cerca.
As plataformas não são neutras. Os dados não são neutros. Os algoritmos não são neutros. E o silêncio diante disso também não é. A omissão é cumplicidade. E a ingenuidade é um luxo que o Brasil não pode mais se permitir. Já perdemos uma eleição para a mentira algorítmica. Já sofremos uma tentativa de golpe com convocação feita por WhatsApp. Já vimos ministros do STF serem ameaçados por robôs e campanhas coordenadas. Já testemunhamos a extrema-direita moldar identidades, crenças e afetos por meio de estratégias sofisticadas de guerra psicológica. Chega.
O país que criou o movimento do software livre em governos, que tem universidades capazes de produzir IA soberana, que abriga coletivos de jovens periféricos desenvolvendo redes independentes, que mantém vivos territórios de resistência tecnopolítica mesmo sob ataque — esse país tem tudo para virar o jogo. Mas, para isso, é preciso reconhecer seus próprios filhos. É preciso ouvir a tribo. É preciso bater à porta dos que nunca abandonaram a luta — mesmo quando o Estado os ignorou ou criminalizou.
Se há uma chance de sobrevivência democrática diante da ofensiva tecnofascista que se arma para 2026, essa chance nasce da união estratégica entre o Estado democrático e o exército tecnopolítico popular. Entre o poder institucional e a inteligência insurgente. Entre a infraestrutura pública e a infraestrutura autônoma. Entre os códigos do povo e a luta de um governo que, finalmente, compreende que a soberania não se limita às fronteiras físicas — ela agora habita também os cabos, os sinais, os servidores e os cérebros conectados.
É hora de fundar uma nova era de soberania no Brasil. Uma soberania informacional, digital e cognitiva. Uma soberania que brota do território, se espalha em rede e se organiza com a lógica da colaboração, da solidariedade e da liberdade.
Porque se a guerra é informacional, a resistência será também informacional.
E se o inimigo é algorítmico, a trincheira será feita de código popular, organizado, soberano.
O governo chamou o jogo. A tribo está de pé.
Agora é hora de jogar juntos — ou perder tudo.

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